
“Eu amo minha mãe mais do que o céu, a terra e as estrelas”, declarou em pranto a menina Waad Jalal, de cinco anos, que, ao saber da morte da mãe e das irmãs, relatou: “eu escapei, mas os escombros caíram sobre elas”
O que se pode ver no vídeo que circulou amplamente pelas redes sociais e mídia neste domingo, descreve a jornalista Maha Hussaini para o portal Middle East Eye, desde Gaza, é “uma menina com um rabo-de-cavalo curto andando entre escombros espalhados, com chamas em torno dela, tentando escapar”.
A criança de cinco anos de idade, cuja corrida para a vida no meio de um incêndio causado por três bombas israelenses sobre uma escola que servia para abrigo de palestinos forçados a deslocamento, a quem a jornalista Maha se refere, é Ward Jalal al-Sheikh Khalil.
A sala onde Ward se encontrava era da escola Fahmi al-Jerjawi, no bairro Daraj, na cidade de Gaza. Como resultado de mais este criminoso bombardeio, 36 palestinos morreram e 55 ficaram feridos, a maioria mulheres e crianças.
Ward milagrosamente escapou das chamas, mas viu irmãs e a própria mãe queimarem até a morte sem poder fazer nada.
Vídeo traz detalhes do crime israelense:
O seu tio, Iyad Muhammed al-Sheikh Khalil, relata a dramática história em torno da sobrevivente Ward:
‘Eu recebi um telefonema depois da meia-noite me dizendo que a escola onde meu irmão e sua família haviam se abrigado foi bombardeada”.
“Eu fiquei assustado e quis correr para lá imediatamente, mas fui impedido. O bombardeio seguia intenso e estava tudo por ali completamente escuro, a não ser pelas chamas no interior da escola”.
Iyad teve então que esperar até o amanhecer.
“A cena era horrível”, prosseguiu, “a fumaça ainda subia nas salas destruídas. O cheiro de sangue estava por toda parte. Víamos pessoas totalmente carbonizadas”.
Em torno da 01:00 do domingo (26), caças israelenses lançaram três bombas sobre a escola, matando 36 pessoas, incluindo 18 crianças e seis mulheres.
O irmão de Iyad e sua família tinham dormido, já por algum tempo, sobre edredons abertos sobre o chão de uma sala de aula, os edredons faziam parte do pouco que conseguiram preservar após diversos deslocamentos forçados pelos tiros e bombas das tropas de extermínio de Israel.
“Não sobrou nada dos cobertores, só se via partes dos corpos e pedaços de carne espalhados”, conta o tio de Ward.
Ele avalia que “o grande problema é que a família toda de Ward morreu, mas ela tem plena consciência do que aconteceu”.
“Começamos a procurar pelos corpos mas eles estavam despedaçados, então começamos a buscar partes de corpos”, diz ainda Iyad.
“Encontramos pernas e braços e pedaços assim”.
Ward e seu irmão Seral, de 16 anos, ferido, foram os que sobreviveram, junto com o pai, hospitalizado em situação crítica.
“Ward me contou quais membros da família viu morrer, sua mãe e cinco irmãos: Abd al-Rahman, 17; Muhammed, 14; Maria, 13; e Silwan, 11”.
“Ward ainda tentou ajudar a identificar os corpos de sua mãe e irmãos, já no hospital. Era difícil reconhecer devido ao espedaçamento e carbonização”.
“Se buscou reconhecer, quase adivinhando, com base em detalhes, um pedaço de roupa, o formato de uma mão ou de dedos”.
“Ward rompeu em pranto quando viu os chinelos de uma de suas irmãs”.
“O tio mais velho dela morreu no mês passado. Ela ficou só comigo e seu irmão de 16 anos”.
De acordo com a Defesa Civil Palestina, ainda há 10 mil desaparecidos, provavelmente sob os escombros de Gaza, e o número de mortos computados acaba de ultrapassar os 54.000.
Iyad se diz preocupado em como esta cena permanecerá na memória de sua sobrinha: “Ela está devastada, é indescritível. Eu não sei como ela vai se recuperar, ou se algum dia o fará”.
“Ela não apenas sobreviveu a um bombardeio, ela não apenas perdeu toda sua família, ela testemunhou eles sendo incinerados até a morte e teve que correr por sua vida, deixando-os para trás”, conclui o tio.