A jornalista Miriam Leitão, da Rede Globo, é a nova vítima de ataques de bolsonaristas. Os agressores estão divulgando uma imagem da comentarista de TV, datada de seu fichamento durante a ditadura, com o seguintes dizeres: “Presa assaltando banco portando um revólver calibre 38… Essa é a Miriam Leitão”, afirma o texto, com fotos da jornalista da época. As ameaças começaram depois que ela afirmou que Jair Bolsonaro “é um risco à democracia”.
A “notícia” é falsa, porque Miriam Leitão nunca foi acusada de participação na luta armada. A fraude sugere que ela teria participado de um assalto à agência do Banespa, em São Paulo, em outubro de 1968. Só que, nesta época, ela morava em Caratinga, Minas Gerais, e tinha 15 anos de idade. A imagem vinculada ao processo em que foi absolvida é por ter participado do PCdoB, mas sem ligação com ações armadas.
O alerta feito pela jornalista sobre os riscos que Bolsonaro representa para a democracia foi feito no programa Bom Dia Brasil, antes do segundo turno da eleição. “Bolsonaro, durante muito tempo criticou a democracia e fez a carreira em defesa da ditadura e da tortura”, disse Miriam. “Muita gente compara os dois [Bolsonaro e o PT], mas eles não são equivalentes. Jair Bolsonaro sempre teve um discurso autoritário. O PT tem grupos que apoiam a Venezuela, mas é um partido que nasceu, cresceu na democracia e sempre jogou o jogo democrático”, prosseguiu a jornalista.
Não faltam falas de Bolsonaro defendendo a ditadura, a tortura e contra a democracia. Em seu discurso, em vídeo, dirigido a seguidores que se encontravam na Av. Paulista, no domingo anterior ao segundo turno, Bolsonaro falou assim contra quem não estivesse de acordo com ele: “Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou vão para a cadeia”.
Miriam, que agora é novamente agredida, nunca tinha relatado sua história na prisão até 2014. Ela disse que fez isso como forma de dar uma pequena contribuição para que “aqueles tempos não se repetissem mais”. Em depoimento ao jornalista Luiz Cláudio Cunha, publicado naquele ano no “Observatório da Imprensa”, ela revela os detalhes do que sofreu no cárcere.
No final de 1972, grávida, ela foi presa pelo regime militar. Levada ao quartel do 38º Batalhão de Infantaria do Exército, em Vitória, no Espírito Santo, foi trancada nua em um cômodo, tendo uma cobra como companhia e ameaça. Em dois meses de prisão, chegou aos 39 quilos – 11 a menos do que quando chegou.
“Nunca achei que minha história fosse importante, não quis tornar público detalhes, outros brasileiros sofreram mais que eu, muitos perderam a vida. Minha história ficou apenas no primeiro capítulo diante do que aconteceu com outras pessoas. Quero que o Brasil nunca mais cometa isso”, concluiu Miriam, à época.
S. C.