O PT parece nada ter aprendido – ou, talvez, aprendido muito pouco – com aquilo que aconteceu nas eleições que se encerraram domingo.
A pretensão, manifestada por alguns dirigentes petistas, de que a oposição tenha como centro o seu partido – e, especificamente, Fernando Haddad – é uma excelente forma de favorecer Bolsonaro e o lúmpen que o rodeia.
No segundo turno, os votos em Haddad aumentaram em 15,7 milhões (passaram de 31,3 milhões, no primeiro turno, para 47 milhões, no segundo turno). Um aumento, portanto, de +50%.
Esse aumento foi devido, sobretudo, aos que, apesar de não desejarem o PT nem Haddad na Presidência, consideraram que pior ainda era ter Jair Bolsonaro no lugar.
Foi, como disse o senador Cid Gomes (PDT-CE), um “sacrifício” que esses eleitores aceitaram fazer, em prol do país.
Resta dizer que o principal obstáculo para derrotar Bolsonaro foi, exatamente, a candidatura petista.
Ou alguém tem dúvida de que a situação seria diferente se outro candidato mais amplo, sem a carga de repúdio que o PT carrega – aliás, com justiça – tivesse passado para o segundo turno?
Nesse sentido, as eleições atuais se parecem muito com as de 1989, quando Lula, com ajuda da reação, atropelou Brizola e Ulysses, que, sem dúvida, tinham melhores condições de enfrentar Collor no segundo turno.
Quase 30 anos depois, o PT – o que quer dizer, em uma palavra, Lula – colocou seus interesses estreitos, pode-se dizer, mesquinhos, na frente dos interesses do país. O resultado é que acabou por jogar até mesmo contra os seus próprios interesses.
Por isso, as menções de Haddad, no discurso após o segundo turno, no domingo à noite, aos “interesses nacionais”, a um “programa de Nação”, que deveriam nortear a oposição a Bolsonaro, são tão vazias, tão incapazes de unir e mobilizar uma frente em defesa da democracia, quanto suas alusões à “coragem para defender a justiça a qualquer preço”.
Coragem para defender a justiça é, precisamente, o que Lula e o PT não tiveram – e não têm.
Tanto isso é verdade que, logo após essa frase, Haddad queixou-se do impeachment de Dilma – omitindo inteiramente o escandaloso estelionato eleitoral de sua correligionária, que a fez ser apeada do governo um ano e meio após obter 54,5 milhões de votos, no segundo turno das eleições de 2014.
A continuação do discurso de Haddad foi pior ainda, ao falar da “prisão injusta do presidente Lula”, de desrespeito à ONU, etc.
Lula está preso porque roubou, porque recebeu propina de uma empreiteira. Foi julgado duas vezes: pela 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba e pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
A questão da ONU, Haddad sabe muito bem, é mera chicana (v. PT manipula órgão de 5ª categoria da ONU para ir contra a lei e a Justiça).
Quatro juízes – um na primeira instância e três na segunda instância – analisaram o caso do triplex que Lula recebeu da OAS e a conclusão foi unânime: o réu foi condenado a 12 anos e um mês de cadeia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro ilícito.
Ainda restam cinco processos que Lula responde – pelas mesmas razões.
Além disso, a Operação Lava Jato demonstrou – e expôs – um vasto esquema de assalto à Petrobrás e aos fundos de pensão das estatais, centralizado pelo PT – cujo tesoureiro, João Vaccari, está preso e já condenado em quatro processos diferentes, a 41 anos de cadeia (se não nos falha a contabilidade penitenciária), para não falar outra vez de Lula, de suas relações com a Odebrecht e a JBS, e dos depoimentos de seu operador, Antonio Palocci.
Tudo isso está mais do que provado.
Mas o PT insiste no conto do vigário (alguns chamam de “narrativa”) de que Lula e demais petistas são vítimas de uma terrível perseguição, armada pela PF, pelos procuradores, pelo juiz Moro – e sabe-se lá mais quem, talvez o Dr. Silvana, arqui-inimigo do capitão Marvel…
Haddad repetiu essa “narrativa” em seu discurso.
Diga-se de passagem, isso foi, exatamente, a maior dificuldade que encontraram aqueles que tentaram convencer outras pessoas a votar, contra Bolsonaro, em Haddad. Se existe algo que provoca o repúdio das pessoas é a impenitência – o criminoso que, depois de provado o crime aos olhos de todos, insiste em dizer que nada daquilo existiu (e até mesmo acusa de perseguição àqueles que descobriram os seus crimes).
O PT, no entanto, recusa-se a fazer qualquer autocrítica dessa organização da roubalheira sobre o dinheiro e o patrimônio do povo.
É isso o que provoca, sobretudo, o repúdio ao PT.
A ideia de que existiria uma “onda anti-petista” por causa das supostas posições progressistas do PT, é outra “narrativa” – até porque, a ideologia secretada por Lula & cia. durante os 13 anos em que estiveram no poder (“nova classe média” e outras aberrações), nada teve de progressista.
Lula e o PT podem ter, ainda, o poder de atrapalhar a luta do povo, ao lançar um candidato que não tinha condição de derrotar os filhotes e viúvas da ditadura. Mas isso somente demonstra o quanto está longe dos interesses nacionais, o quanto está longe do povo.
Por fim: após as eleições de domingo, uma série de dirigentes do PT resolveu lançar sobre Ciro Gomes a responsabilidade da derrota de Haddad. Um deles, o sr. Emídio de Souza, um dos coordenadores da campanha de Haddad, disse que Ciro foi “egocêntrico” e “colocou o interesse pessoal, particular e político na frente dos interesses do país”.
O PT – ou seja, Lula – não fez mais, nessa eleição, do que colocar seus interesses pessoais, particulares, acima dos interesses do país, impedindo que os democratas tivessem, no segundo turno, uma candidatura viável.
O egocentrismo de Lula foi tanto, que sua representante, Gleisi Hoffmann, sabotou abertamente a campanha do próprio Haddad. Parece que eles preferiam ver Bolsonaro eleito a ter um correligionário que, na Presidência, pudesse fazer sombra a Lula.
Emídio, portanto, está esboçando um bom retrato de Lula.
O fato de atribuir esse retrato a Ciro, apenas demonstra como os petistas resistem a colocar os interesses do país acima da mesquinharia – e, o que é pior, da corrupção – em que afundaram.
Tudo, para Lula e outros dirigentes petistas, é “narrativa” – ou seja, mentira.
C.L.
Bravo!
Como sempre, o PT não larga a janela. A continuação da campanha do “golpe” e da “perseguição a Lula e ao PT”, visa continuar enganando à militância para utiliza-lá como credencial e liderar a oposição, pensando unicamente nas próximas eleições.
Não ignoramos. Leia a matéria. Agora, será que você não reparou que esses 47 milhões de votos foram obtidos com 15 milhões de pessoas que não queriam o Haddad nem o PT na Presidência? Que só votaram nele porque achavam – com justa razão – que o Bolsonaro era pior? E, mais: que 42 milhões, que não queriam o Bolsonaro, não conseguiram superar seu repúdio a Lula e ao PT, preferindo se abster ou votar branco ou nulo?