
“Discutir essa agenda estrutural é uma ótima notícia”, defendeu o chefe do BC, pressionando o governo a asfixiar ainda mais o país
O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, defendeu, em debate com banqueiros no último sábado (8), no Guarujá (SP), que o governo avance nas chamadas “reformas estruturantes”. Tais “reformas estruturantes” propõem cortes de investimentos públicos e retirada de direitos da população. “Discutir essa agenda estrutural é uma ótima notícia”, defendeu o chefe do BC.
Ele destacou que o Brasil estaria tendo uma janela de oportunidade para “se diferenciar positivamente no cenário global”. No caso a “diferenciação positiva”, a que se refere o presidente do BC, e que está na contramão do que vem fazendo o mundo, é sinônimo de arrochar os investimentos públicos, detonar a Previdência Social, o BPC, a Saúde, a Educação e cortar ainda mais os direitos sociais.
“É especialmente relevante o Brasil conseguir passar um sinal nesse sentido e ter a coragem, como bem disse o presidente Hugo Motta, que encontrou no presidente Lula, no presidente Davi (Alcolumbre) e em toda a equipe econômica uma disposição de sentar à mesa e apresentar esse tipo de sinalização”, disse Galípolo.
Acompanhado dos banqueiros Milton Maluhy Filho (Itaú Unibanco), André Esteves (BTG Pactual) e Isaac Sidney (presidente da Febraban), Galípolo afirmou, numa calara atitude de chantagem, que o BC acompanha o andamento da política fiscal para decidir se manterá ou elevará a Selic na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).
Atualmente, a taxa nominal de juros está em 14,75% ao ano, com as instruções do mercado financeiro para que o BC estabeleça mais um aumento de 0,25 ponto percentual, o que eleva a Selic para 15% ao ano. É importante notar que em meio a pressão por cortes no orçamento, cada um ponto percentual de aumento da Selic, significa um aumento de R$ 50 bilhões nas despesas públicas com juros da dívida.
“Eu acho que a boa notícia que todos nós temos é essa disposição que existe, do Executivo e do Legislativo, junto, discutindo, de você avançar no setor privado, que também está na mesa, com uma agenda estrutural que possa sinalizar uma sustentabilidade do ponto de vista da dívida e das contas públicas”, prosseguiu Galípolo. “Estamos num momento em que temos que aproveitar esse consenso para conseguir produzir as reformas que são necessárias”.
Novamente indiferente aos impactos negativos dos juros altos na economia real, mas também nos cofres públicos – onde no ano passado foram retirados nada mais, nada menos, que R$ 1 trilhão para o pagamento dos juros da pública – Gabriel Galípolo disse que pediu ao governo Lula para dar um “sinal positivo” ao mercado financeiro. O cartel dos bancos exige por cortes de gastos públicos e novas reformas, que afastem a participação do Estado da economia e amplie a retirada dos direitos da população.
Nas últimas semanas, como forma de compensar a revogação do aumento da alíquota do IOF (Operações Financeiras), as vozes dos bancos na imprensa voltaram a propor a redução do financiamento da educação básica, por meio de novas mudanças no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Além da criação de regras que restringem o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), concedido a idosos ou pessoas com deficiência, em situação de miséria.
No caso do Fundeb, a complementação da União para o fundo sobe gradualmente desde 2021, hoje é de 21% e atingirá 23% no próximo ano. Já as despesas do governo com o BPC registraram um aumento real de 9,9% em abril, segundo o Tesouro Nacional. Para o “terrorismo fiscal”, estes aumentos são uma espécie de “bomba-relógio” dentro das contas públicas – já o aumento dos juros pelo BC, que incha todos os meses a dívida pública, não.
Em abril deste ano, o setor público (União, Estados/municípios estatais) gastou R$ 69,7 bilhões apenas com o pagamento dos juros da dívida. No acúmulo deste ano até abril, a despesa com os juros chega a R$ 285,6 bilhões, e em 12 meses, a soma atinge R$ 928,4 bilhões.