Em uma semana, foram três – e não dois – os crimes de ódio nos EUA, há cerca de dez dias das eleições intermediárias de novembro. Além do envio de 14 cartas-bomba desde a Flórida e da chacina em uma sinagoga com 11 vítimas na Pensilvânia, outro extremista matou a tiros duas pessoas negras idosas em um supermercado de Kentucky. O crime ocorreu na quarta-feira (24) em Jefersontown, no entorno de Louisville, a cidade mais populosa do estado.
O que chamou a atenção para o crime – homicídios não são raridade nos EUA – foi a declaração, feita pelo assassino, quando se evadia do local, ao se deparar com Ed Harrell, que estava no estacionamento esperando a mulher e que, quando ouviu disparos, se agachou e sacou da própria arma. “Não atire em mim, eu não vou atirar em você. Brancos não matam brancos”.
As vítimas são Maurice Stallard, 69, e Vickie Lee Jones, 67. O assassino, já preso, é Gregory Alan Bush, 51. Ele foi flagrado por uma câmera de vigilância tentando forçar as portas da Primeira Igreja Batista de Jeffersontown por vários minutos – uma congregação predominantemente freqüentada por negros -, antes de voltar sua atenção para o supermercado nas imediações. Ele enfrentará duas acusações de homicídio e 10 acusações de ameaça em uma audiência em tribunal marcada para novembro.
Relatório da polícia local descreve que Gregory Bush entrou no supermercado Kroger, puxou uma arma da cintura e atirou em um negro idoso na cabeça, por trás, e continuou atirando várias vezes nele já caído no chão. Guardou a arma, saiu, e matou no estacionamento uma negra idosa. Stallard era o pai de uma assessora do prefeito de Louisville, encarregada da “equidade racial”. Um paramédico que estava no local ainda tentou ressuscitar Jones, sem êxito.
O assassino tem um histórico de ofensas racistas e uma longa lista de acusações de contravenção, incluindo a ameaça de matar os próprios pais. A denúncia dos pais levou um juiz em 2009 a determinar que fosse submetido a tratamento de saúde mental e a entregar as armas. Conforme disse então o pai de Bush, seu filho “carrega uma arma onde quer que vá”. Ele também estava proibido de se aproximar da ex-mulher.
Conforme o relato de Harrell, o atirador estava andando “despreocupadamente” pelo estacionamento com a arma ao lado. A declaração racista foi registrada pela emissora afiliada local da NBC, pelo Louisville Courrier-Jornal e por outros jornais dos EUA.
O prefeito Greg Fischer, que inicialmente condenara o assassinato como uma decorrência da falta de controle na venda de armas, já passou a considerar o caso, principalmente, uma manifestação de ódio gratuito e racista. Como assinalou a deputada Attica Scott, “quando alguém mata dois negros – a sra. Jones e o sr. Stallard – e tenta invadir uma igreja negra, isso é um crime de ódio”. E aqueles que se recusam a chamar esse crime pelo que de fato é, estão passando uma mensagem de que as vidas dos negros “não são realmente importantes para certas pessoas”, denunciou.