Nesta terça-feira, o Itaú divulgou mais um resultado contábil astronômico. O lucro líquido recorrente do banco voltou a crescer no terceiro trimestre deste ano, para R$ 6,454 bilhões – 3,2% superior ao mesmo intervalo de 2017 e 1,1% maior do que o identificado nos três meses anteriores.
Trata-se do terceiro maior lucro da história dos bancos no país para o período. Nenhum indicador da economia – nem de produção, nem de emprego, nem de consumo – teve uma variação positiva que alcançasse o percentual de crescimento do lucro do Itaú.
Com o fechamento do terceiro trimestre, o maior banco privado do país já obteve lucro de R$ 19,255 bilhões de janeiro a setembro de 2018. Mais uma vez, trata-se do mesmo período em que os resultados para o conjunto da economia foram nada mais que desastrosos, reforçando que a recessão se aprofunda a cada dia. Apenas os bancos continuam muito bem, obrigada.
Carta aos correntistas
Ainda na terça-feira, passados dois dias não completos do segundo turno das eleições presidenciais, os correntistas do Itaú Unibanco receberam do banco um comunicado oficial e bajulador a respeito de Jair Bolsonaro: “Jair Bolsonaro consolidou a sua caminhada ao Palácio do Planalto com uma plataforma conservadora nos costumes, mas liberal em suas propostas econômicas, tendo como grande fiador econômico o seu assessor e provável futuro ministro da Fazenda, Paulo Guedes. O novo presidente foi muito hábil em entender que, há muito tempo, as pesquisas qualitativas mostravam uma demanda por maior ordem e segurança”.
A carta incentiva que correntistas façam investimentos, dado que os analistas da instituição projetam “confiança na economia” e “um bom desempenho do mercado” inspirados pela eleição de Bolsonaro e da iminente nomeação de Paulo Guedes ministro da Fazenda.
Não é por acaso que o setor mais parasitário da economia se sinta tão confiante com o cenário político atual. Primeiro porque Guedes, o “guru econômico” da campanha e a quem o futuro presidente já afirmou que confiará qualquer decisão sobre a economia – porque disso o militar da reserva não entende – fez sua carreira como “economista” especulando com o dinheiro alheio ou assaltando os cofres públicos, como no caso dos golpes nos fundos de pensão das estatais já com investigação em curso no Ministério Público (ver “Os negócios do corrupto guru econômico de Bolsonaro“).
Segundo porque, durante a campanha, Bolsonaro deixou claro para quem vai governar: reiterando seu compromisso em atacar o direito dos trabalhadores, privatizar o patrimônio público, elevar impostos para os mais pobres e reformar a Previdência aos moldes do modelo de capitalização do Chile.
A confirmação de que o governo de Bolsonaro será um paraíso para o mercado financeiro se deu nas coincidentes declarações e notícias que figuraram nos jornais na terça-feira.
Autonomia ao Banco Central
Paulo Guedes disse a jornalistas antes de uma reunião com Bolsonaro que seria “natural” que Ilan Goldfajn, atual presidente do Banco Central permanecesse no cargo.
“Não podemos estar a cada eleição: ‘Ele fica, não fica? Muda, não muda?’ Teremos um Banco Central independente”, afirmou Guedes. “É a última vez que vai existir essa incerteza durante uma eleição”, completou.
Goldfajn, antes de assumir a presidência do BC foi, nada mais nada menos que economista-chefe do Itaú por sete anos, além de sócio do banco.
Seu longo vínculo com a instituição foi, na época da nomeação por Michel Temer, denunciada pelo evidente conflito de interesse em questão.
“O Ilan tem uma proposta de Banco Central independente. Qual seria a coisa mais natural do mundo? Eu dar um abraço no Ilan e falar que defendo há 30 anos o Banco Central independente. Ele ia falar assim: ‘Paulo, eu tenho um projeto de Banco Central independente’. Eu vou falar: ‘Que beleza, Ilan. Então a gente vai junto, aprova o projeto. Você ficou 2 anos, você fica mais 2 anos’ “, completou Guedes.
Em seguida, o atual presidente do Itaú Unibanco, Cândido Bracher, se adiantou a retribuir a gentileza – não só enviando a carta comemorativa aos seus correntistas, como declarando à imprensa apoio às medidas que Guedes pretende tomar, como o modelo proposto de Reforma da Previdência e o uso das reservas internacionais para redução da dívida pública.
Crise para quem
A permanência do ex-economista e sócio do Itaú na presidência do BC e a eleição de Bolsonaro representam a continuação da política que proporcionou ao Itaú – e outros bancos privados – atingir lucros recordes no último período, enquanto toda a economia rasteja na recessão.
O papel do Banco Central para que as instituições financeiras continuem lucrando com a recessão é o de estipular e permitir a prática de uma das maiores taxas básica de juros do mundo (enquanto em boa parte do mundo essa taxa é negativa).
Aproveitando a crise do setor produtivo, os bancos têm explorado o crédito “de maior rentabilidade” que é para pessoa física, conforme informou o banco à época da divulgação de seu resultado semestral. Essa modalidade se tornou mais rentável primeiro porque as pessoas têm recorrido aos empréstimos, ao cheque especial e ao cartão de crédito para despesas cada vez mais corriqueiras – também por conta da crise. Segundo porque essas operações de crédito têm as maiores taxas de juros (em média de 300% ao ano), fazendo com que os bancos garantam seus lucros através de uma atividade que cada vez mais se assemelha à agiotagem.
PRISCILA CASALE