
Pelo menos 51 palestinos famintos foram mortos na fila da comida – melhor dizendo, na fila por um saco de farinha – em Gaza pelas tropas fascistas israelenses nesta terça-feira (24), segundo a Al Jazeera.
O número, somado a outros 29 palestinos abatidos em outras circunstâncias, acrescenta 80 mortos ao genocídio que já superou a casa dos 56 mil, sem nenhum sinal de contenção da sanha assassino. Esse último morticínio foi o primeiro da história transmitido ao vivo para todo o mundo.
Desde que o regime genocida israelense baniu a distribuição de alimentos da Agência da ONU para a Assistência aos Refugiados (UNRWA) e a substituiu pela sua ‘Fundação Humanitária de Gaza’ (GHF, na sigla em inglês), escoltada por tropas israelenses e em meia dúzia de locais, depois de três meses sem entrar uma só grama de comida e fome generalizada, sob bloqueio israelense, já passam de 450 os mortos na fila da farinha e são 3.500 os feridos.
O fato levou o chefe da UNRWA, Philippe Lazarini, a chamar de “armadilha mortal” essa “entrega de ajuda” montada por Netanyahu.
A ONU se recusou a trabalhar com a GHF, acusando-a de priorizar os objetivos militares israelenses sobre as necessidades humanitárias, e a condenou pela “militarização” da ajuda. Desde que a GHF assumiu a distribuição de alimentos, o assassinato de palestinos famintos se tornou uma ocorrência praticamente diária.
UMA SANGUEIRA SÓ
O repórter Hani Mahmoud, da Al Jazeera, relatou a chacina de famintos na Cidade de Gaza. “As vítimas foram levadas para várias instalações de saúde, incluindo o Hospital al-Shifa [na Cidade de Gaza]”, disse ele. “A ala de emergência se transformou em uma sangueira só e muitos morreram esperando por atendimento médico.”
A Al Jazeera mostrou o menino Hamam al-Farani, sentado no Hospital Al Shifa com outros membros da família, enquanto o corpo de seu pai, Alaa, é preparado para o enterro.
Testemunhas disseram à Associated Press (AP) que as forças israelenses abriram fogo quando as pessoas se aproximavam dos caminhões de ajuda. “Foi um massacre”, disse Ahmed Halawa, relatando que tanques e drones dispararam “mesmo quando estávamos fugindo”.
“Todos os dias, os palestinos enfrentam carnificina em suas tentativas de receber suprimentos da quantidade insuficiente de ajuda que chega a Gaza”, denunciou a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras em um comunicado.
“Buscar comida não deve ser uma sentença de morte”, disse o Dr. Wafaa Abu Nemer, pediatra de MSF, após relatar ter visto “pessoas despedaçadas; é um desastre”.
EM RAFAH E KHAN YOUNIS
Cenas semelhantes foram relatadas no Complexo Médico Nasser, em Khan Younis, após relatos de que o exército israelense alvejou pessoas que esperavam por comida na rua al-Tina. Em Rafah, no sul do enclave, foram 27 os requerentes de ajuda mortos a tiros pelos militares israelenses.
A Quds News Network, de Jerusalém Árabe, registrou que vítimas foram levadas até de carroças puxadas por animais após um massacre israelense mortal contra famintos perto do centro de distribuição da GHF na área de Al-Shakoush, a noroeste de Rafah.
Na região central, imagens postadas no site de mídia social Instagram e verificadas pela agência Sanad da Al Jazeera mostraram corpos sendo levados para o Hospital al-Awda, no campo de refugiados de Nuseirat.
Fontes médicas relataram que pelo menos 25 pessoas foram mortas em um incidente na rua Salah a-Din, ao sul de Wadi Gaza, no centro de Gaza, de acordo com a agência de notícias Associated Press. Mais de 140 outras pessoas ficaram feridas, 62 delas gravemente.
GHF CÚMPLICE
Em uma carta publicada na segunda-feira, a Comissão Internacional de Juristas – uma ONG de direitos humanos de advogados e juízes proeminentes – juntou-se a outros 14 grupos para condenar a GHF e pedir “o fim das operações privadas de ajuda humanitária militarizada em Gaza”.
Philip Grant, diretor executivo da ONG TRIAL International, com sede em Genebra, disse que o modelo de entrega de ajuda militarizada e privatizada da GHF “viola os princípios humanitários fundamentais”.
Ele acrescentou que aqueles que permitiram ou lucraram com o trabalho da GHF enfrentaram um “risco real de serem processados por cumplicidade em crimes de guerra, incluindo a transferência forçada de civis e a fome de civis como método de guerra”.