
A revista dos banqueiros britânicos, The Economist, publicou matéria no domingo (29) na qual parece considerar que os seus editores têm o direito de definir qual deve ser a política externa brasileira.
A publicação afirma que não gostou do fato do governo brasileiro ter condenado o genocídio de Israel em Gaza e muito menos os ataques ilegais de Tel Aviv e da Casa Branca às instalações nucleares iranianas.
A revista diz que Lula estaria, com o seu comportamento, se afastando das “democracias ocidentais”. A afirmação reforça a tese bastante difundida de que por trás da defesa da “democracia ocidental” está o apoio incondicional a guerras de rapina, chantagens, ameaças e desrespeito às leis internacionais.
O artigo critica também o presidente brasileiro por não realizar movimentos para buscar maior proximidade com o presidente americano Donald Trump. Os ingleses parecem que não querem ser os únicos bajuladores de Trump e sua guerra tarifária.
O governo brasileiro rebateu a intromissão indevida dos banqueiros e editores ingleses nesta terça-feira (1º) com uma carta do Itamaraty dirigida à revista britânica. A carta, assinada pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, contesta a afirmação da revista de que as posições altivas de Lula teriam provocado perda de popularidade. Pelo contrário, as críticas à agressão aos palestinos e ao Irã, são o ponto alto do governo Lula. Vieira afirmou que o presidente sustenta com coerência os pilares de democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo.
“Poucos líderes mundiais, como o Presidente Lula, podem dizer que sustentam com a mesma coerência os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo. Como Presidente do G20, Lula construiu um difícil consenso entre os membros, no ano passado, e ao longo do processo logrou criar uma ampla aliança global contra a fome e a pobreza. Também apresentou uma ousada proposta de taxação de bilionários que terá incomodado muitos oligarcas”, diz um trecho da carta.
Vieira prosseguiu afirmando que “o Brasil vê o BRICS como ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico. Nossa presidência trabalhará para fortalecer o perfil do grupo como espaço de concertação política em favor da reforma da governança global e como esfera de cooperação em prol do desenvolvimento e da sustentabilidade”.
“Sob a liderança de Lula”, prosseguiu Vieira, “o Brasil tornou-se um raro exemplo de solidez institucional e de defesa da democracia. Mostrou-se um parceiro confiável que respeita as regras multilaterais de comércio e oferece segurança a investidores. Como um país que não tem inimigos, o Brasil é também um coerente defensor do direito internacional e da resolução de disputas por meio da diplomacia”. “Não fazemos tratamento à la carte do direito internacional nem interpretações elásticas do direito de autodefesa. Lula é um eloquente defensor da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra”, afirmou o Itamaraty.
“A posição do Brasil quanto aos ataques ao Irã e, sobretudo, às instalações nucleares é coerente com esses princípios. Nossa condenação responde ao fato elementar de que essas ações constituem uma flagrante transgressão da Carta da ONU. Ferem, em particular, as normas da Agência Internacional de Energia Atômica, organização responsável por prevenir contaminação radioativa e desastres ambientais de larga escala”, prosseguiu a nota.
Por fim, o Itamaraty destacou na carta à revista britânica, num claro tom de ironia, que o presidente Lula realmente “não é popular entre os negacionistas climáticos”, numa referência às posições de Donald Trump que minimizam o problema e retirou-se do Acordo de Paris.
A diplomacia brasileira acrescentou ainda que “em face de uma nova corrida armamentista, ele [o presidente Lula] está entre os líderes que denunciam a irracionalidade de investir na destruição, em detrimento da luta contra a fome e do aquecimento global”.