
Paulo Cunha Bueno pediu para ser dispensado do depoimento à PF, marcado para esta terça (1º). Wajngarten também depôs em SP. “Vou estudar as medidas cabíveis para ingressar com ação de denúncia caluniosa”, fingiu-se de ofendido
O advogado Paulo Cunha Bueno, que representa o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), negou, como já era esperado, ao STF (Supremo Tribunal Federal) ter tentado obter informações sobre o acordo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, no inquérito que investiga tentativa de golpe de Estado, após as eleições de 2022.
Fábio Wajngarten, ex-advogado de Bolsonaro e ex-Secom (secretário de Comunicação) da Presidência da República, também foi ouvido pela PF, em São Paulo.
A defesa do ex-presidente também pediu dispensa do depoimento à PF (Polícia Federal), marcado para esta terça-feira (1º), às 15h. O ministro Alexandre de Moraes determinou o depoimento de 4 pessoas após indícios de tentativa de obstrução das investigações:
· Paulo Costa Bueno, atua na defesa de Bolsonaro;
· Fábio Wajngarten, advogado e ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República;
· Marcelo Câmara, ex-assessor da Presidência e réu no “núcleo 2” da trama golpista; e
· Eduardo Kuntz, advogado de Marcelo Câmara.
A medida foi adotada após a defesa de Cid entregar à PF documentos que indicariam tentativa de interferência no processo, incluindo relatos da família do tenente-coronel sobre contatos com advogados ligados a Bolsonaro.
COLABORAÇÃO PREMIADA
A mãe de Mauro Cid, Agnes Barbosa Cid, relatou à PF que foi abordada em 3 ocasiões por Eduardo Kuntz, defensor de Marcelo Câmara. Ela afirmou que, em uma dessas ocasiões, ele estava acompanhado de Paulo Cunha Bueno.
As abordagens teriam ocorrido entre agosto e dezembro de 2023, na Sociedade Hípica Paulista, onde a filha de Cid competia.
Segundo Agnes, os advogados tentavam persuadir a família a trocar a defesa de Mauro Cid e classificou as abordagens dos advogados como “constrangedoras”.
DEFESA DE CUNHA BUENO
No documento entregue ao STF, Cunha Bueno afirma que frequentava regularmente a hípica e nega ter abordado a família em busca de informações sobre a delação. Ele sustenta que, à época das supostas abordagens, a homologação do acordo de colaboração de Cid ainda não era pública.
“Segundo a própria interlocutora e genitora do colaborador, o peticionário em nenhum momento buscou obter quaisquer informações acerca de eventual colaboração premiada do Cel. Cid que, diga-se, só veio a público a notícia de sua homologação por volta do dia 9 de setembro, portanto em momento razoavelmente posterior ao Torneio Indoor na Sociedade Hípica Paulista”, escreveu o advogado.
Sobre a suposta tentativa de interferência na defesa de Cid, Cunha Bueno argumenta que jamais sugeriu a troca de advogados por 2 motivos: primeiro, porque não poderia assumir a defesa por já representar Bolsonaro; e segundo, por princípios éticos que impedem a captação de clientes com defensor já constituído.
Cunha Bueno ainda afirmou que as declarações de Agnes Cid são falsas e que tem o objetivo de proteger o acordo de colaboração do filho.
“Os fatos, conforme descritos — tanto no corpo da petição quanto na declaração de próprio punho da Sra. Agnes —, foram proposital e evidentemente distorcidos, evidenciando o intuito de, de alguma forma, tentar garantir a manutenção da colaboração premiada de seu filho”, acrescentou o advogado.
WAJNGARTEN
Na saída da Superintendência da PF em São Paulo, por volta das 17h20, Wajngarten concedeu entrevista à imprensa e disse que pretende entrar com processo na Justiça por calúnia, sem especificar contra quem.
“Terminei o meu depoimento, do qual eu não pude trazer uma cópia, repudiando de forma veemente a acusação de tentativa de obstrução, e a minha última frase é que eu tomarei as medidas cabíveis. Vou estudar as medidas cabíveis para ingressar com uma ação de denúncia caluniosa a quem quer que seja e eu vou estudar essas possibilidades”, disse.
“Eu repudio de forma veemente a acusação de tentativa de tumultuar, de desorganizar, de atrapalhar, de embaraçar a investigação. Repudio e afirmo que estou estudando a possibilidade de ingressar com ações e denúncias. Eu não sei quem [vou denunciar], mas quem quer que seja”, declarou.
CAMPEONATO DE HIPISMO
Wajngarten negou que tenha procurado ou feito contato com a filha de Cid. Ele afirmou que não fala com a família do militar desde agosto de 2023 e que só teria falado com a filha dele sobre campeonato de hipismo no Jockey de São Paulo. “Nunca perguntei sobre delação. Nunca perguntei sobre depoimento, nunca perguntei de nada, de nada”.
Para ele, a investigação tem objetivos políticos. “Poucas vezes, dei a minha opinião. Esse processo de golpe é uma tentativa de retirar o presidente Bolsonaro do processo eleitoral de 2026. Mas uma eleição sem o presidente Bolsonaro não é uma eleição democrática”, declarou.
OBSTRUÇÃO DE INVESTIGAÇÕES PENAIS
No último dia 25, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou, que a PF ouvisse Wajngarten e Cunha Bueno para investigar a suspeita de que eles tentaram obstruir investigações penais ao buscar acesso às informações sigilosas dos depoimentos de Cid.
A ordem foi dada no Inq (Inquérito) 5005, aberto no STF para investigar a atuação do ex-assessor da Presidência da República, Marcelo Câmara, e do advogado Luiz Eduardo Kuntz na tentativa de acessar informações de Cid. Réu por envolvimento na tentativa de golpe de Estado, Câmara foi preso na semana passada.
Em seguida, a defesa de Cid incluiu no processo declarações que implicam Wajngarten e Bueno no mesmo crime. Segundo a defesa de Cid, ambos teriam pressionado a mãe, a mulher e a filha do ex-ajudante de ordens em busca de detalhes sobre o conteúdo de sua delação.
TENTATIVA DE INFLUENCIAR FAMILIARES
Também teriam tentado influenciar os familiares para que ele destituísse a defesa já constituída.
Para Moraes, as condutas narradas indicam prática do crime de obstrução de investigação de infração penal, que envolva organização criminosa.
Os advogados de Cid entregaram voluntariamente à PF o celular da filha adolescente do colaborador, por meio do qual, segundo eles, teriam ocorrido as abordagens dos advogados em mensagens de WhatsApp.