
“A fração da indústria mais dependente das condições de crédito e juros e, por isso, mais impactada pelo atual ciclo de alta da taxa Selic pelo Banco Central, foi quem puxou para baixo o desempenho agregado”, aponta o IEDI
A produção industrial nacional recuou 0,5% em maio de 2025 em relação a abril do mesmo ano (queda de – 0,2%, dado revisado de +0,1%), informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira (2). Com o resultado, a atividade industrial do país está 15,0% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011, de acordo com série histórica Pesquisa Industrial Mensal (PIM).
Em maio, a produção pelas Indústrias de transformação recuou -0,4%. Em abril deste ano, o setor (que corresponde a mais de 80% da indústria geral) havia apresentado uma queda de -0,7% em sua produção. Mais sensível ao cenário de crédito, a indústria manufatureira é fortemente castigada pelo nível da taxa básica de juros (Selic), que vem sendo elevada pelo Banco Central desde setembro de 2024, época em que estava em 10,5%, e hoje já encontra-se em 15% ao ano.
Ao analisar o resultado negativo da produção industrial em maio deste ano, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) afirma que “a fração da indústria mais dependente das condições de crédito e juros e, por isso, mais impactada pelo atual ciclo de alta da taxa Selic pelo Banco Central, foi quem puxou para baixo o desempenho agregado” da indústria.
O instituto também afirma que “os dados de hoje do IBGE continuam apontando para um processo de esmorecimento da produção industrial do país”, critica. “Até o momento, em 2025 só houve avanço em março. Os demais meses foram ou de perda ou de virtual estabilidade”, alerta o IEDI.
Na passagem de abril para maio deste ano, três das quatro grandes categorias econômicas registraram taxas negativas, com bens de consumo duráveis (-2,9%) e bens de capital (-2,1%) apresentando recuos mais acentuados no período.
Outra taxa negativa veio do setor produtor de bens de consumo, que recuou – 1,7% em maio, a segunda taxa negativa seguida (-3% em abril). Essa queda foi puxada por bens de consumo semi e não duráveis (-1,0%), que também registrou a segunda taxa negativa seguida (-3,2% em abril), com perda acumulada de 4,3% nesse período. Em bens de consumo duráveis a queda foi de 2,9%.
Por sua vez, a produção de bens intermediários ficou estagnada no período, ao variar apenas 0,1% entre maio e abril deste ano. André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal, destaca que o resultado positivo em bens intermediários se deu, principalmente, “pelo comportamento positivo do setor extrativo (0,8%), por conta da maior extração de minérios de ferro”, disse.
“Por outro lado, o setor produtor de bens de consumo duráveis assinalou a maior magnitude de perda e eliminou parte da expansão de 4,1% acumulada nos meses de abril e março de 2025. Nesse mês, foi pressionado pela menor produção de automóveis, eletrodomésticos da “linha marrom” e motocicletas.
Na média móvel trimestral, a indústria variou 0,2% no trimestre encerrado em maio de 2025, o que sinaliza que a produção pelo setor ficou praticamente estagnada em relação ao nível do trimestre anterior (0,4%). No período, a produção de bens de capital (-0,4%) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,4%) registraram resultados negativos, enquanto bens intermediários (+0,5%) e bens de consumo duráveis (+0,3%) apresentaram desempenho positivo.
De acordo com IBGE, ainda, 13 dos 25 ramos industriais pesquisados apresentaram recuos em sua produção na passagem de abril para maio, com destaques para influência negativa de veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,9%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,8%), produtos alimentícios (-0,8%), de produtos de metal (-2,0%), de bebidas (-1,8%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-1,7%) e de móveis (-2,6%).
Em relação a maio de 2024, na série sem ajuste sazonal, houve crescimento de 3,3%. No ano, a produção industrial está em 1,8% em alta, e nos últimos 12 meses, cresceu 2,8%.