
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, promulgou nesta quarta-feira (2) a lei que suspende a cooperação do Irã com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A AIEA, vinculada à ONU, foi fornecedora da senha para o ataque israelense ao Irã, em combinação com os Estados Unidos.
Em 13 de junho, Israel atacou o Irã, alegando que a nação persa estava se aproximando do “ponto sem retorno” na criação de armas nucleares, um argumento que vem sendo articulado há anos por Tel Aviv e ao qual a direção atual da AIEA, sob comando de Rafael Grossi, aderiu.
A decisão de Pezeshkian sela a do Parlamento do país, que em 26 de junho, um dia após o cessar-fogo com Israel, aprovou por unanimidade com os votos dos 221 parlamentares presentes, informou a agência de notícias iraniana Tasnim.
Aprovada, a lei determina a suspensão da cooperação com a AIEA até que as instalações nucleares e os cientistas iranianos estejam totalmente protegidos, conforme a Carta das Nações Unidas e os critérios do Conselho Supremo de Segurança Nacional do país persa. O Irã enfrentou 12 dias de ataques israelenses e norte-americanos direcionados às suas instalações nucleares.
O presidente do Parlamento, Mohammad Bagher Ghalibaf, afirmou que a AIEA “nem mesmo condenou formalmente o ataque às instalações nucleares iranianas” por parte de Israel e dos Estados Unidos durante “a guerra de 12 dias” e, por isso, “perdeu sua credibilidade” internacional.
Por conta dessa inaceitável omissão, o Ministro das Relações Exteriores iraniano, Seyed Abbas Araghchi, rejeitou na semana passada o pedido do Diretor da AIEA, Rafael Grossi, para visitar as instalações nucleares bombardeadas, confirmando a decisão do Parlamento de cessar toda a cooperação com a agência.
SUSPENSÃO DA COOPERAÇÃO É RESPOSTA À “ATITUDES DESTRUTIVAS”
Masoud Pezeshkian expressou sua insatisfação com o trabalho da AIEA em uma conversa telefônica com o presidente francês, Emmanuel Macron, citando o tratamento tendencioso em relação ao Irã pela organização internacional e exigindo que o órgão nuclear da ONU aja sem discriminação e respeite os direitos de todos os seus membros por igual.
Para Teerã, a suspensão da cooperação é uma resposta ao que considera atitudes “destrutivas e injustificáveis” da agência.
O presidente iraniano também criticou o diretor da AIEA, Rafael Grossi, acusando-o de divulgar relatórios imprecisos sobre o programa nuclear iraniano e de silenciar diante dos ataques recentes dos EUA e de Israel às instalações do país.
O Irã, que nega que seu programa nuclear contenha componentes militares, respondeu à ofensiva israelense.
“OS EUA E ISRAEL MINARAM A CREDIBILIDADE DA AIEA”
Em 22 de junho, o presidente dos EUA, Donald Trump, envolveu seu país no conflito ao bombardear diversas instalações nucleares iranianas, ações condenadas pela Rússia, China e outras nações ao redor do mundo. Trump deu a ordem de atacar o Irã apesar dos órgãos da inteligência dos EUA ter concluído dias antes que o país persa não buscava desenvolver armas nucleares, de acordo com a mídia norte-americana.
Como destacou a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, “os EUA e Israel minaram a credibilidade da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) ao usar informações da agência para planejar ataques a instalações nucleares iranianas”.
“O fato de instalações nucleares iranianas sob o controle da AIEA terem se tornado alvos de mísseis americanos e israelenses é um desafio aberto ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares TNP”, afirmou Zakharova em uma coletiva de imprensa na quarta-feira.
A credibilidade do sistema global de verificação da agência, que foi usado como fonte de informação para o planejamento do bombardeio, está em questão. Portanto, os EUA e Israel são “responsáveis pelos danos colossais causados às atividades da AIEA, por mais que tentem culpar Teerã”, concluiu a porta-voz.