Para competir com o Bukele Cecot Hilton de El Salvador, o presidente norte-americano Donald Trump, que já surpreendera o mundo com seu arrojado projeto Riviera sob Cadáveres em Gaza, está inaugurando o “Alligator Alcatraz” (“Alcatraz dos Crocodilos”) para que os imigrantes que vem seqüestrando pelo país inteiro possam desfrutar de uma inesquecível estadia em meio aos pântanos de Everglades, na Flórida, cercados de 200 mil crocodilos – além de cobras – e sujeitos a furacões de escala 2 (192 km/h).
Trump fez questão de ir na terça-feira (1º) até o pântano e seu novo empreendimento imobiliário, sobre o qual o governador republicano da Flórida, Ron DeSantis, disse ser “o lugar mais seguro possível”. Do ponto de vista da segurança – ele detalhou – se alguém escapar, haverá muitos crocodilos com os quais terá que lidar.
Naturalmente, o apelido de “Alcatraz dos Crocodilos” – que tem como mote a histórica prisão de segurança máxima em uma ilha da Califórnia que foi fechada em 1963 – foi pespegado pelos racistas de plantão na Casa Branca, que vivem acusando os imigrantes ilegais de serem “os piores dos piores”.
A estrutura foi montada em um antigo aeroporto que estava sendo usado para o treinamento de pilotos e é composta de grandes tendas com beliches, que ficam dentro de celas fechadas por alambrados, em vez de grades comuns, com previsão para 5 mil sequestrados. Água, esgoto e energia serão fornecidos por equipamentos móveis. A prisão possui uma única estrada de acesso.
As fotos publicadas nas redes sociais dão conta da precariedade da instalação trumpista:
Cerca de 100 agentes da Guarda Nacional foram destacados para a segurança do local. O custo diário por detento foi estimado em US$ 247 (R$ 1,3 mil), curiosamente 54% acima do gasto em prisões comuns para imigrantes.
A caçada em massa a imigrantes desencadeada pelo governo Trump, que já resultou em inúmeras denúncias de arbitrariedade, detenções sem mandatos, ou seja, virtuais sequestros, e invasões de locais de trabalho, escolas e até tribunais, já resultou numa enxurrada de denúncias e de flagrantes de ilícitos de parte da gestapo anti-imigrantes do presidente bilionário.
A principal entidade norte-americana de defesa dos direitos civis, a ACLU, advertiu que “construir um [centro de detenção] em um local remoto e pantanoso só irá agravar estas condições”.
Também entidades de defesa da proteção ambiental protestaram contra a “Alcatraz dosCrocodilos”. Afinal, o novo cativeiro para imigrantes fica no Parque Nacional dos Everglades, uma reserva biológica de 600 mil hectares no sul da Flórida.
Duas entidades chegaram a entrar na justiça tentando impedir a inauguração. O local fica próximo ao Big Cypress National Preserve — uma área protegida que abriga espécies ameaçadas de extinção e outros animais. Para elas, a suposta “emergência” imigratória não permite que o governo ignore leis ambientais. Líderes de comunidades indígenas se opuseram à construção por considerarem a terra sagrada.
Já no primeiro dia, apesar de sob uma chuva chinfrim, áreas ficaram visivelmente alagadas. O atual guru de Trump, Stephen Miller, tentou abafar em entrevista na Fox News as denúncias de que o novo centro de detenção de migrantes é “desumanizador”. “O que é ‘desumanizador’ é quando os democratas permitem que estupradores estrangeiros ilegais entrem no país para atacar nossos filhos. Isso é ‘desumanizador’!”, cacarejou o xenófobo.
Espalhafatoso como de costume, para promover a inauguração da prisão, Trump publicou nas redes sociais imagens de crocodilos usando chapéus do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês). O partido de Trump também está vendendo itens com o animal estampado na Flórida.
Que ninguém se admire se também for disponibilizado ao distinto público souvenir com a frase “a deportação liberta”.
