
“Nós temos neste país pagamento da taxa de juros de quase 1,2 trilhão de reais. E eu fico triste quando eu vejo as pessoas jogarem a culpa por essa situação em cima dos doentes, em cima do BPC”, disse Lula num recado claro à sua equipe econômica
O presidente Lula criticou duramente, nesta terça-feira (1), no lançamento do Plano Safra 2025/20026, os juros praticados no país pelo Banco Central e a insistência nos cortes em programas sociais e nos investimentos públicos. “Nós temos neste país pagamento da taxa de juros de quase 1,2 trilhão de reais, enquanto temos de desoneração, de isenção fiscal 680 bilhões de reais”, denunciou o presidente.
“E eu fico triste quando eu vejo as pessoas jogarem a culpa por essa situação em cima dos doentes, em cima do BPC (Benefício de Prestação Continuada), em cima do Bolsa Família, em cima do Pé de Meia, criado para garantir que 500 mil moleques que saíam da escola porque tinham que trabalhar, não desistam e possam voltar a estudar”, acrescentou Lula, dirigindo-se aos empresários e ministros durante o lançamento do Plano Safra.
“Esse dinheiro que esses jovens estão recebendo vai ser devolvido em dobro para o Estado quando eles tiverem se formado como cidadãos de primeira classe nesse país”, prosseguiu.
Assista a declaração de Lula
“É difícil as pessoas perceberem isso? É, destacou o presidente, se a gente continuar estabelecendo que vai predominar na nossa cabeça o desejo de mentir, o desejo de fazer canalhice, quando a gente deveria fazer coisa séria”.
“Esse país não pode perder essa chance. Eu disse aos líderes do Congresso, assim que eu tomei posse, que esse país será o que a gente quiser que ele seja. É só a gente determinar o tamanho que a gente quer que esse país seja e para isso é preciso diminuir os privilégios. Não queremos tirar nada de ninguém, queremos apenas diminuir os privilégios de alguns para dar um pouco de direitos para os outros”, defendeu o chefe do Executivo.
As afirmações de Lula ocorrem num momento em que os setores que vivem apenas da especulação financeira, e que têm representantes fortes na mídia, inclusive, dentro do próprio governo, estão exigindo cortes nos investimentos públicos e nos programas sociais para, segundo eles, garantir equilíbrio das contas públicas. A meta é não só equilíbrio, mas até superávit primário.
Um “equilíbrio” que só mira nos gastos sociais e finge cinicamente que não existe uma gastança criminosa, como destacou o presidente, de, segundo ele, quase 1,2 trilhões de reais todos os anos para pagamento de juros. Além de uma isenção fiscal indiscriminada que consome, também como o presidente assinalou, 680 bilhões de reais de dinheiro público. Nessa gastança com juros e isenções eles não querem mexer.
A insistência pelos cortes sociais não está se manifestando apenas nos porta-vozes dos banqueiros. Os cortes estão sendo defendidos e praticados por integrantes do governo. As limitações de acesso ao BPC foram medidas já tomadas pelo próprio governo. Incluíram rendas de outros programas sociais nos critérios para que o idoso tenha dificuldades para ter direito ao BPC. São medidas que têm o objetivo claro de dificultar a obtenção do benefício. O presidente está se manifestando contra isso.
Ele precisa fazer com que suas queixas sejam ouvidas dentro do governo e façam cessar essas medidas. Como disse, é uma injustiça culpar os doentes pelos problemas do país. Assim como o presidente Lula aponta o absurdo das despesas com juros nesse país, ele cobra também que seja reduzida a evasão fiscal.
Lula argumenta que as medidas fiscais tomadas pelo governo nos últimos dias visam reduzir privilégios para que se possa aumentar os benefícios dos que mais precisam. No entanto, a extrema direita bolsonarista e a mídia dos bancos vão noutra direção. Eles esbravejam para manter os privilégios dos poderosos e insistem em cortes draconianos nos direitos sociais. Eles não estão satisfeitos com o que já está sendo feito. Querem mais cortes e mais arrocho sobre a população.
A cada ponto percentual de elevação dos juros, são R$ 50 bilhões a mais de gastos públicos. Como está dizendo o presidente, isso é muito dinheiro. É um verdadeiro escândalo.
É necessário parar imediatamente essa sangria, caso contrário, o país continuará sendo asfixiado pela especulação financeira e não conseguirá crescer no ritmo que a população exige. Os integrantes do governo que defendem mais cortes devem dar mais ouvidos ao que diz o presidente. Os gargalos são os juros e os privilégios. São esses os problemas que o presidente está apontando. São eles que devem ser resolvidos e não os supostos excessos cometidos pelos doentes que buscam o BPC ou o SUS.