
Estão desaparecidas 27 meninas
Pelo menos 59 pessoas morreram nas enchentes no centro do Texas na madrugada de sexta-feira para sábado e estão desaparecidas 27 meninas , que participavam de um acampamento de verão às margens do Rio Guadalupe, de acordo com o vice-governador Dan Patrick, em declaração à Fox News neste domingo (6).
“Tristemente, prevemos que continue aumentando”, ele acrescentou, enquanto novas precipitações são aguardadas. Equipes de resgate seguem realizando buscas. Moradores questionaram a falta de um alerta prévio numa região que é conhecida pelas inundações.
No sábado, o total de mortos foi anunciado como 32: 18 adultos e 14 menores. O xerife Larry Leitha, do condado de Kerr, um dos mais atingidos pela tragédia, informou que os investigadores ainda não conseguiram identificar cinco das vítimas adultas e três das crianças após a enchente. Outras duas foram registradas no condado vizinho de Travis, segundo o serviço de emergência local.
Matthew Stone, morador de 44 anos do Condado de Kerr, disse que a polícia bateu à sua porta às 5h30 da manhã do dia 4 para lembrar as pessoas de evacuarem, mas ele não recebeu nenhum alerta em seu celular. Ele disse: “Não recebemos um alerta de emergência. Nada, e então uma muralha escura de morte surgiu sem aviso.”
Quando questionado sobre o motivo pelo qual o Condado de Kerr não tomou mais precauções, o Diretor de Emergências do Condado, Rob Kelly, declarou sem rodeios: “Não temos um sistema de alerta precoce… Ninguém sabia que uma enchente dessas aconteceria.” Ele também disse: “Temos enchentes aqui com frequência. Este é o vale fluvial mais perigoso dos Estados Unidos”, mas o condado ainda não estabeleceu um sistema de alerta precoce.
Segundo relatos, da noite do dia 3 até o início da manhã do dia 4, fortes chuvas atingiram o centro do Texas, com o Condado de Kerr recebendo pelo menos 25 centímetros de chuva em poucas horas, provocando uma inundação repentina no Rio Guadalupe. As enchentes causaram cortes de energia, cortes de água e cortes de rede na região, e estradas próximas também foram destruídas.
Dados mostraram que, em apenas algumas horas, o nível da água de um rio local subiu pelo menos 9 metros. Um meteorologista disse: “A água se move tão rápido que você não percebe o quão ruim ela está até que ela te afogue.”
Segundo o The Washington Post, às 1h14 do dia 4, o Serviço Nacional de Meteorologia emitiu um alerta de enchente repentina “com risco de vida” para 30.000 pessoas. No Condado de Kerr, o epicentro da enchente, as autoridades só começaram a divulgar alertas nas redes sociais depois das 5h.
O Gabinete do Xerife do Condado de Kerr emitiu um alerta por volta das 5h30 e publicou na rede social “Facebook” para avisar às pessoas: “Inundações perigosas estão chegando!”
Leitha também disse que não conseguia estimar o número total de pessoas desaparecidas devido à rápida elevação do nível do rio após as fortes chuvas. “O problema é que era um fim de semana prolongado. Temos muitos acampados aqui e não sabemos o número exato neste momento.”
BUSCAS CONTINUAM
Equipes de busca e salvamento utilizaram barcos e helicópteros para realizar o resgate nas turbulentas enchentes. Até o momento, 237 pessoas foram resgatadas, mas um grande número ainda está desaparecido. Autoridades locais informaram que a operação de resgate ainda está em andamento e o número de desaparecidos e mortos ainda não foi determinado.
O governador Abbott declarou estado de calamidade para 14 condados na parte central do estado. Seu vice, Dan Patrick, disse que pelo menos 400 pessoas estavam no local ajudando nos socorros. “Rezamos para que todas as pessoas desaparecidas sejam encontradas com vida. Estamos fazendo tudo o que podemos para chegar lá.”
Na manhã do dia 5, horário local, as últimas notícias do Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos indicaram que “inundações catastróficas locais devem continuar no centro do Texas nas próximas horas”. O Serviço Nacional de Meteorologia alertou que “inundações perigosas e fatais ocorreram e continuarão por pelo menos 2 a 4 horas”.
“COMPLETAMENTE DESTRUÍDO”
“O acampamento [Camp Mystic] foi completamente destruído. Foi muito assustador”, disse a menina Elinor Lester, de 13 anos, já resgatada. O acampamento irá completar 100 anos em 2026.
Estima-se em 750 as crianças que participavam do acampamento. Familiares publicaram mensagens desesperadas nas redes sociais em busca de informações sobre o paradeiro das meninas.
Elinor relatou que foi resgatada de helicóptero junto com suas colegas de cabana, após atravessarem a água da enchente. Ela contou que acordou assustada por volta da 1h30 da madrugada de sexta-feira, com trovões e chuva forte batendo nas janelas.
Elinor fazia parte do grupo de campistas mais velhas, alojadas na área elevada conhecida como Senior Hill. Já as cabanas das meninas mais novas ficavam às margens do rio e foram as primeiras a serem inundadas, segundo ela.
As crianças alojadas nas cabanas mais baixas subiram a colina em busca de abrigo. Pela manhã, estavam sem comida, energia elétrica ou água potável, relatou Elinor. Quando os socorristas chegaram, amarraram uma corda para que as meninas atravessassem uma ponte com a água batendo nas pernas.
Em meados de junho, pelo menos 10 pessoas morreram em inundações na cidade de San Antonio, localizada a cerca de 150 km ao sul do condado de Kerr. Outra enchente do Rio Guadalupe, em 1987, já havia provocado outra tragédia na região: um ônibus com adolescentes de um acampamento cristão nos arredores da cidade de Comfort foi arrastado pela correnteza durante uma tempestade e dez morreram afogados.
Com a tragédia empanando o brilho da aprovação de sua lei “Grande e Bela” que tira 12 milhões de pobres do Medicaid para sobrar dinheiro para o corte de impostos dos ricos e para as guerras do Pentágono, Trump se disse chocado e anunciou que ele e Melania estavam “rezando” por todos.
DESMONTE NO NWS
Autoridades locais buscaram empurrar a responsabilidade sobre o não funcionamento do alerta prévio para o Serviço Nacional de Meteorologia (NWS, na sigla em inglês), que em seu boletim advertira sobre uma precipitação entre 70 e 150 milímetros, mas chegou a 250.
Quanto a isso, analistas apontaram que o Departamento de Eficiência Governamental de Trump, gerido pelo então parça Elon Musk, demitiu quase 600 pessoas no NWS, muitos deles cientistas climáticos especializados e meterorologistas. O que motivou alertas sobre as consequências funestas de tais cortes.
“Expurgar o governo de cientistas, especialistas e funcionários públicos de carreira e cortar programas fundamentais custará vidas”, disse na época o deputado Jared Huffman, membro do Comitê de Recursos Naturais da Câmara, que destacou que as pessoas no país inteiro dependem de previsões precisas e gratuitas, alertas de mau tempo e informações de emergência.
Alerta semelhante foi feito por Henry D. Jacoby, co-diretor do Programa Conjunto do Instituto de Tecnologia de Massachusetts sobre Ciência e Política de Mudança Global: “sistemas cruciais de coleta de dados estão em risco”. “A capacidade federal de alertar o público está sendo degradada”, acrescentou, “e é um serviço público que nenhum estado pode substituir”.
Além disso, como observou no sábado o jornalista Ron Filipkowski, “as áreas rurais mais atingidas por tempestades catastróficas são as mesmas áreas que agora correm o risco de perder seus hospitais depois que os cortes do Medicaid de Trump acabaram de ser aprovados” como parte de sua Lei “Grande e Bela”.