
Mulheres relataram terem sido vítimas de perversos abusos em cerimônias religiosas ao longo de anos em Israel com a participação de fascistas do parlamento
Os depoimentos foram prestados durante uma reunião conjunta do Comitê do Knesset sobre a Condição da Mulher e Igualdade de Gênero, presidida pela deputada Pnina Tameno-Shete (Unidade Nacional), e do Comitê Especial sobre Jovens Israelenses, presidida pela deputada Naama Lazimi (Os Democratas). A reunião foi convocada conjuntamente após uma reportagem investigativa publicada em 2 de abril pelo jornalista do Israel Hayom, Noam Barkan.
“Sofri abuso ritual por muitos anos, até o final da adolescência, e fui forçada a maltratar outras crianças. Escolhi me manifestar e fazer minha voz ser ouvida. Recebi ameaças depois de revelar minha história. Dos cinco aos 20 anos, sofri abuso nessas cerimônias”, revelou Yael Ariel, uma das agredidas.
Ariel revelou ter ouvido depoimentos de várias outras mulheres que informaram o envolvimento de parlamentares, médicos, educadores e policiais nestas perversões. “Apresentei uma queixa à polícia, que foi arquivada depois de alguns meses, e sei de outros casos que foram arquivados. Falar hoje no Knesset é um momento histórico”, assinalou.
Outra sobrevivente, Yael Shitrit, também destacou a relevância do testemunho: “Você não tem ideia do que é abuso ritual. O cérebro humano não consegue compreender. Você não consegue imaginar o que significa programar uma menina de três anos para o estupro e o sadismo.
Conforme Shitrit, o tráfico de pessoas aconteceu por todo o país. “Eles me levaram de uma cerimônia para outra. Homens nus formavam um círculo. Minha terapeuta, o marido dela e o filho dela me agrediram, e dezenas de outras meninas e meninos me agrediram”, disse. “Havia cerimônias e rituais para me fazer esquecer. A polícia sabe disso há um ano, mas não tem as ferramentas para lidar com a situação”, acrescentou.
De acordo com as denunciantes, as pessoas que cairão são figuras muito importantes, o que envolve pessoas que dirigem comunidades e agências governamentais. Diante disso, “elas nos ameaçam. Tenho filhos que preciso proteger”. “Eles tentaram nos fazer como eles — as pessoas que nos causaram uma dor sem fim. Seu papel é fazer essa parada em Safed, Jerusalém, Jaljulya ou em qualquer outro lugar”, declarou ela.
Coordenadora da ONG Lo Omdot MeNegged (De Pé Contra), a doutora Naama Goldberg resgatou a importância de auxiliar também as sobreviventes da prostituição, e lembrou que as condições às vezes são tão horríveis que são difíceis de acreditar
“Há vários anos, recebi descrições de abuso sádico de crianças. Os relatos pareciam absurdos. Mas os depoimentos continuavam chegando e não paravam. Descreviam estupros coletivos cometidos por homens e, às vezes, por mulheres. O abuso era filmado e havia uso de drogas. Havia práticas rituais e simbolismo”, denunciou Goldberg. Ela explicou ter apresentado à polícia depoimentos escritos de cinco mulheres. “Até hoje, ninguém entrou em contato comigo. Desde o relatório, novos depoimentos surgiram”, apontou.
Uma representante da Polícia de Israel, a superintendente-chefe Anat Yakir, frisou que havia uma unidade nacional revisando todos os casos e que as reclamações eram “uma prioridade máxima na divisão de inteligência”.
Na avaliação da deputada Pnina Tameno-Shete, “a realidade nos mostra que a polícia não é forte o suficiente para lidar com crimes sexuais. Ninguém quer falar sobre estupros brutais e crianças sendo estupradas. Há casos inimagináveis de monstruosidade aqui”.
Os parlamentares que participaram da reunião ficaram visivelmente abalados com a contundência dos depoimentos, com um deles chamando-a de “momento decisivo” e outro chamando as revelações de “titânicas”.