
Segundo Geraldo Alckmin, não há motivos comerciais para as sobretaxas. O Brasil tem déficit comercial com os EUA. Trump nem sabia disso e defendeu criminosos insinuando que as eleições no Brasil podem ter sido fraudadas
O ditador dos Estados Unidos, Donald Trump, mandou nesta quarta-feira (9) uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e anunciou uma retaliação tarifária de 50% sobre todos produtos brasileiros. O ataque da Casa Branca não tem a ver com nenhuma distorção do mercado entre os dois países ou vantagens indevidas do Brasil sobre eles, já que, desde 2009, os EUA são superavitários no comércio bilateral. Aliás, o Brasil é um dos poucos países do mundo que têm déficit com os EUA.
Na carta de Trump fica claro que ele desconhece a realidade do comércio entre os dois países. “Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os EUA. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional”, disse Trump, mostrando total ignorância sobre o que ocorre no comércio Brasil/EUA. Apesar das alegações, os dados comprovam que o Brasil tem registrado déficits comerciais seguidos com os EUA há 16 anos.
Ao longo desse período, as vendas americanas ao Brasil superaram suas importações em US$ 88,61 bilhões (equivalente a R$ 484 bilhões na cotação atual). Na carta, o republicano afirmou que o Brasil não será atingido pela tarifa caso empresas brasileiras decidam “construir ou fabricar produtos dentro dos EUA”. Uma manifestação clara do desespero dele pela decadência de sua economia e de suas indústria.
O vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que considera injustas as novas tarifas comerciais anunciadas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros. “Eu não vejo nenhuma razão para aumento de tarifa em relação ao Brasil. O Brasil não é problema para os EUA, é importante sempre reiterar. Os EUA realmente têm um déficit de balança comercial, mas com o Brasil têm superávit. Dos 10 produtos que eles mais exportam para nós, 8 têm alíquota zero, não pagam imposto”, disse Alckmin.
Diante da repentina imposição das tarifas de 50% aos produtos brasileiros e a conotação política do ato de Trump, o presidente Lula convocou uma reunião de emergência nesta quarta-feira (8) para definir a resposta que será dada oficialmente pelo Brasil. Participam do encontro os ministros Fernando Haddad, da Fazenda, Mauro Vieira, das Relações Exteriores, e o vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro da Indústria e Comércio. A motivação comercial não existe já que o Brasil é deficitário com os EUA.
Segundo a carta de Trump, a tarifa de 50% será aplicada sobre “todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os EUA, separada de todas as tarifas setoriais existentes”. Produtos como o aço e o alumínio já estavam enfrentando tarifas de 50%, impactando diretamente a siderurgia brasileira.
O governo brasileiro considera que a citação por Trump do processo contra Jair Bolsonaro mostra o caráter político da decisão dos EUA. Ao justificar a elevação da tarifa contra o Brasil, Trump citou Jair Bolsonaro e mais uma vez se intrometeu indevidamente nos assuntos internos do Brasil e disse ser “uma vergonha internacional” o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro é julgado por tentativa de golpe de Estado que previa a prisão e morte de autoridades do país.
No documento, o “reizinho da Casa Branca”, como Trump vem sendo chamado pelo povo americano, admitiu o caráter político da decisão ao afirmar que a decisão de aumentar a taxa de comércio sobre o país foi tomada “em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos”.
Com essas declarações de Donald Trump, fica claro que ele repete o que Jair Bolsonaro e os demais golpistas já vinham dizendo. Eles atacam o Poder Judiciário brasileiro e as eleições. Trump atacou o Judiciário e pretende manter a internet do país sem regulação, como presa das artimanhas antidemocráticas das big techs, boa parte controladas por ele.
O chefe da Casa Branca já havia ameaçado os integrantes do BRICS, dizendo que todos os países membros do grupo ou que fizessem negócios com seus integrantes seriam taxados em 10%. “Só pelo fato de pertencerem ao grupo, eles serão taxados”, afirmou Trump, estendendo as suas ameaças a qualquer país que se relacionar com o BRICS. Com a economia de seu país em frangalhos, Trump abriu guerra contra a maioria global alegando que os integrantes do BRICS estariam sabotando os EUA.
O governo brasileiro saiu imediatamente em defesa da soberania e do direito dos países membros do BRICS de buscarem o melhor caminho para o seu desenvolvimento. Diante das ameaças de Trump, Lula foi categórico. “Eu não acho uma coisa muito responsável e séria um presidente da República de um país do tamanho dos EUA ficar ameaçando o mundo através da internet. Não é correto. Ele precisa saber que o mundo mudou. Não queremos imperador”, disse Lula em entrevista coletiva após o encerramento da cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro.
Veja a carta com os ataques de Trump ao Brasil na íntegra:
Prezado Sr. Presidente:
Conheci e tratei com o ex-Presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos (como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta.
Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco.
Por favor, entenda que os 50% são muito menos do que seria necessário para termos igualdade de condições em nosso comércio com seu país. E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do sistema atual. Como o senhor sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para aprovar rapidamente, de forma profissional e rotineira — em outras palavras, em questão de semanas.
Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!
Além disso, devido aos ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.
Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América.
Muito obrigado por sua atenção a este assunto!