
“Escandalosa constatação”, denuncia PGR. Está, segundo a Procuradoria, “em xeque a versão do réu de que sua viagem já se encontrava agendada desde muito antes”, escreveu a Procuradoria
A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que Anderson Torres usou bilhete de passagem falso para justificar a ausência dele em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, que aponta, então, segundo a Procuradoria, conivência com os atos violentos na data fatídica.
Diante disso, pede a condenação do ex-ministro, com outros acusados de planejar golpe de Estado, cujo ápice se deu em 8 de janeiro de 2023, com a invasão das sedes dos chamados Três Poderes — Palácio do Planalto, sede do governo federal; Congresso Nacional, sede do Legislativo; e STF (Supremo Tribunal Federal), sede do Judiciário.
O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, apresentou bilhete de passagem falso para justificar a ausência dele, no dia 8 de janeiro de 2023, data da invasão dos Três Poderes, segundo a PGR.
Segundo a manifestação, o documento usado pelo então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, não corresponde aos registros da companhia aérea GOL.
O dado confirma que o ex-secretário mentiu à PF (Polícia Federal), quando foi preso, em 14 de janeiro de 2023, ao voltar de Miami (EUA), onde estava, segundo ele, de férias com a família.
“ESCANDALOSA CONSTATAÇÃO”
O localizador “MYIDST”, indicado pela defesa de Torres, não condiz com os dados dele, e ainda se constatou que não há voos registrados no trecho Brasília/Orlando, voo G3-9460, em nome do ex-ministro, de acordo com a PGR.
A defesa juntou aos autos apenas print da suposta passagem emitida por Anderson Torres, no mês de novembro de 2022, sem apresentar o comprovante da compra ou o bilhete aéreo.
“A escandalosa constatação coloca em xeque a versão do réu de que sua viagem já se encontrava agendada desde muito antes e confirma a sua estratégia deliberada de afastamento e conivência com as ações violentas que se aproximavam”, escreveu a PGR.
NÃO HOUVE COMUNICAÇÃO PRÉVIA DA VIAGEM
No documento, a PGR escreveu ainda que a versão de que houve comunicação prévia da viagem ao governador do Distrito Federal é mentirosa.
A defesa não levou ou acrescentou aos autos, segundo a PGR, a comprovação de tal alegação.
Além disso, a análise dos celulares entregues voluntariamente pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) aponta que, somente em 7 de janeiro, véspera dos atos golpistas, e quando já estava em viagem, Anderson Torres compartilhou o contato do substituto dele na Secretaria de Segurança, “em clara postura de descaso e negligência com seus deveres profissionais”.
CONDENAÇÃO
Na noite de segunda-feira (14), o procurador-geral, Paulo Gonet, pediu ao STF a condenação de Anderson Torres e mais 7 pessoas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no processo em que são acusados de tramar tentativa de golpe de Estado.
Na peça, enviada ao Supremo, Gonet avalia que os “depoimentos e inquirições ao longo do julgamento evidenciaram envolvimento dos denunciados em uma organização criminosa com o objetivo de impedir o funcionamento dos poderes da República e depor um governo legitimamente eleito”, segundo nota divulgada pela PGR.
Caberá agora às defesas dos réus também apresentarem as alegações finais no processo para que seja estabelecida pelo relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, data para o julgamento na Primeira Turma da Corte.