
Bombardeio da Igreja da Sagrada Família matou três pessoas e deixou mais de 10 feridas, entre eles o padre amigo do papa Francisco, Gabriel Romanelli. O sumo pontífice reiterou que “fará todo o possível para impedir esse inútil massacre de inocentes”, cobrando o primeiro-ministro israelense de um “cessar-fogo imediato”
O papa Leão XIV condenou o “injustificável ataque” de Israel contra a Igreja da Sagrada Família, que matou três pessoas e deixou mais de 10 feridos – uma idosa e um jovem gravemente – nesta quinta-feira (17) na Faixa de Gaza e reiterou que “fará todo o possível para impedir esse inútil massacre de inocentes”.
Diante do bombardeio contra a única paróquia católica da Faixa, o papa reiterou a necessidade de que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, decrete um “cessar-fogo imediato”, expressando sua “profunda esperança” no “diálogo, na reconciliação e na paz duradoura”.
Em sua mensagem aos fiéis de todo o mundo, o sumo pontífice manifestou sua “proximidade espiritual” com a comunidade atingida e suas orações “pelo conforto dos que sofrem”.
Leão XIV dirigiu-se particularmente ao padre Gabriel Romanelli, que ficou ferido, e era amigo do papa Francisco, com quem falava todo dia desde o início do massacre a Gaza.
O papa Leão XIV comunicou que está “profundamente entristecido” pelo ataque a uma paróquia que desde o início dos bombardeios serviu como refúgio a mais de 600 palestinos civis em fuga.
“Eram pessoas que esperavam pelo menos salvar suas vidas, tendo já perdido suas casas, bens e identidades”, declarou o Patriarcado Latino de Jerusalém, apontando como “um golpe trágico para civis inocentes e um lugar sagrado”. “Esta agressão desumana e dilacerante deve terminar completamente, para que a longa jornada de reconstrução da dignidade humana possa começar”, assinalou.
“O QUE VEM ACONTECENDO EM GAZA NÃO É GUERRA, É CRUELDADE”, DENUNCIA CARITAS
Dando o seu testemunho desde o local, Anton Asfar, diretor da Caritas Jerusalém, fez um relato dramático: “A explosão ocorreu perto da cruz no telhado da igreja, e estilhaços e destroços caíram no pátio. As pessoas estão aterrorizadas e trancadas em seus quartos”. “Colocar em risco civis que buscam refúgio é uma grave violação do direito internacional e da dignidade humana. O que vem acontecendo em Gaza há meses não é guerra, é crueldade”, condenou a Caritas.
“Se o Padre Gabriel não tivesse nos pedido para ficar nos quartos, teria havido um massacre de pelo menos 50 ou 60 pessoas”, apontou um funcionário.
A organização beneficente da Conferência Episcopal Italiana (CEI) exigiu o fim da venda de armas e a condenação do terrorismo de Estado. “A caridade não é neutra”, afirmou o comunicado, assinalando que “a paz é uma responsabilidade coletiva, uma profecia que deve ser preservada mesmo ao custo de ir contra a corrente”.
As Conferências Episcopais da União Europeia (Comece), por meio de seu presidente, monsenhor Mariano Crociata, também expressaram sua solidariedade à pequena comunidade católica em Gaza, reiterando que o banho de sangue em curso “é uma derrota para a humanidade e uma ferida infligida à dignidade humana”.
A Conferência Episcopal Francesa declarou sua solidariedade com a Igreja e o povo da Terra Santa, enfatizando que “nada pode justificar um ataque a um lugar de paz como a Paróquia da Sagrada Família”.
“IGREJA ACOLHE UMA COMUNIDADE SOFREDORA E AMEDRONTADA”
Em carta que teve grande repercussão internacional, o vigário da Custódia da Terra Santa, Ibrahim Faltas, lembrou que “a cruz de pedra branca, colocada sobre a Igreja Latina de Gaza, permaneceu intacta, firme e sólida, vigiando uma comunidade sofredora e amedrontada”. “Foi o primeiro pensamento ao ver as imagens da fachada da Igreja paroquial de Gaza atingida por um míssil. A cruz não é apenas um símbolo, para nós cristãos é um sinal indelével, é pertencer a Cristo, é a carta de identidade da Igreja universal”, frisou.
Em artigo publicado no Notícias do Vaticano, o vigário recordou que “a cruz da paróquia de Gaza acolheu ao longo dos anos as alegrias e as dores de fiéis devotos e unidos” e que, “depois de 7 de outubro de 2023, acolheu também os seus sofrimentos, os seus medos, as suas esperanças”. “Desde as primeiras horas daquele sábado trágico, as portas da Igreja, da escola e dos locais paroquiais foram abertas a mais de 600 pessoas. Com espírito fraterno, os padres e as freiras compartilharam todas as necessidades materiais, confortaram nos momentos desesperados aqueles que precisavam de esperança, levantaram os ânimos tristes das crianças traumatizadas. Na madrugada de quinta-feira, 17 de julho, toda a comunidade paroquial ouviu o barulho ensurdecedor e já familiar de um bombardeio próximo: ‘na verdade, um míssil já estava a caminho e, para muitos, não houve tempo de se proteger’”, condenou.
“Três pessoas morreram, dez ficaram feridas, duas delas em estado grave, entre elas uma jovem, Sueli, que corre risco de vida. O Santo Padre Leão XIV reza por eles e está paternalmente próximo de toda a comunidade paroquial. O amado pároco Gabriel Romanelli sofreu ferimentos leves e, apesar do medo e do sofrimento, retomou imediatamente sua missão de pai e pastor, tranquilizando as crianças e os idosos, consolando os feridos, permanecendo muito preocupado com os mais graves”, acrescentou.
De acordo com o vigário, particular preocupação suscita também as condições dos 53 deficientes hóspedes da paróquia pela “falta de medicamentos e de cuidados especializados, aumento da perda e mau funcionamento de equipamentos sanitários e respiradores que sofreram danos devido à explosão”.
“A paróquia foi um refúgio seguro e acolhedor por mais de 21 meses, e a comunidade paroquial foi amorosamente encorajada por muito tempo pelo telefonema noturno do Papa Francisco, que já conhecia cada membro da grande família cristã de Gaza. O pároco padre Gabriel, o vice pároco Yousef, a Irmã Nabile primeiro e as outras irmãs depois, estiveram próximos com amor aos medos e às necessidades materiais e espirituais dos paroquianos deslocados. Após este ataque, assinalou, “terão que dar conforto e apoio a toda a família paroquial, que sente as três pessoas falecidas como familiares com quem percorreram um longo e sofrido período da vida”.
“A Igreja de Gaza, ultrajada pela violência, acolhe as orações que imploram pela paz e pedem para voltar a viver em segurança e com dignidade. Sobre a paróquia vigia uma cruz de pedra branca, de linhas essenciais e limpas. Branca, essencial, limpa como a paz”, concluiu.
Esbanjando de cinismo, o governo israelense disse lamentar “profundamente que um tiro perdido tenha atingido a Igreja”. Desde o início da agressão, mais de 58 mil palestinos foram assassinados na Faixa de Gaza.