
Declaração do filho de Bolsonaro, que se encontra há meses em território estadunidense conspirando contra o Brasil, passou um pouco desapercebida e é reveladora do desespero do 03 e da degradação moral do clã
Durante as articulações do governo brasileiro na busca de uma solução diante das sobretarifas impostas unilateralmente por Trump contra o País, Eduardo Bolsonaro, em contraposição a uma frase utilizada pelo ministro Alexandre de Moraes, afirmou que seria “mais fácil um porta-aviões americano chegar ao Lago Paranoá” do que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) ser recebido por autoridades dos Estados Unidos.
“Se Deus quiser chegará em breve”, disse o energúmeno, em referência ao porta-aviões.
O desequilibrado, não satisfeito com as chantagens comerciais da Casa Branca contra o Brasil, apelou para uma figura de imagem que, de fato, está associada às práticas recorrentes do imperialismo americano quando quer impor seus interesses no tabuleiro da geopolítica internacional.
O Brasil, mesmo, foi vítima da chantagem militar norte-americana, quando, em 1964, deslocou o porta-aviões USS Forrestal para o mar territorial brasileiro, durante a Operação Brother Sam, uma ação planejada pelos Estados Unidos para apoiar o golpe de Estado contra o governo constitucional de João Goulart.
A operação visava fornecer apoio logístico aos militares brasileiros que encabeçaram o golpe caso a situação exigisse. O porta-aviões, juntamente com outras embarcações, faria parte de um componente naval que incluía também um porta-helicópteros e seis destróieres, além de petroleiros.
O componente aéreo da operação contava com aviões de transporte, reabastecimento, caças e outros, totalizando 27 aeronaves.
A operação incluía o envio de combustível, suprimentos bélicos e o deslocamento da frota naval para perto do Brasil. O componente naval, liderado pelo USS Forrestal, partiria da Virgínia, enquanto os petroleiros se preparariam para carregar no Caribe.
O componente aéreo, com base em diversas bases aéreas, estava sob o comando do general George S. Brown. A revelação da operação ocorreu com a desclassificação de documentos americanos, que vieram a público em 1976-1977.
Embora a operação não tenha sido efetivada, o planejamento da Operação Brother Sam demonstrou a forma como a Casa Branca intervém nos interesses de outro país soberano quando considera que os seus próprios estão sendo ameaçados, o que não é caso, agora, pois, como já demonstraram fartamente as autoridades brasileiras. Nas últimas décadas, o comércio bilateral é amplamente favorável aos EUA, ou seja, o Brasil compra mais do que vende àquele país.
Veja o vídeo:
Foi assim na invasão do Iraque (2003), da Líbia (2011) e do Afeganistão (2001), nações agredidas pelo império norte-americano, sempre sob o falacioso pretexto da “ameaça terrorista”, mas cuja motivação central foi a imposição de governos fantoches para permitir o saque das riquezas naturais desses países, especialmente o petróleo.
O mesmo já havia acontecido na Coreia e no Vietnã, respectivamente, nas décadas de 50 e 60, locais, conflitos em que os EUA foram derrotados fragorosamente.
A comparação feita pelo conspirador Eduardo Bolsonaro, no entanto, não é gratuita e revela o grau de degradação moral a que chegou o ’03’ do clã Bolsonaro, colecionando, com isso, mais uma ameaça contra o Brasil, entre as muitas que estão sendo catalogadas pela Justiça brasileira.
Revela, também, o desespero dos golpistas depois que o ex-mandatário teve que se submeter a inúmeras medidas cautelares decididas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), diante das flagrantes ameaças desferidas por ele e seu entorno contra a Suprema Corte brasileira e, também, dos riscos de fuga frente à iminente condenação pela conspiração contra a democracia no país.
A declaração ocorre em meio à tensão diplomática causada pela sobretaxação de 50% sobre produtos brasileiros e à movimentação do governo, capitaneada pelo vice-presidente, para tentar uma saída negociada diante das consequências nefastas que a medida poderá provocar nas economias do Brasil e dos EUA caso seja implementada.
A frase usada pelo golpista foi uma inversão do comentário feito por Moraes à revista The New Yorker em abril, quando o ministro ironizou pressões internacionais sobre decisões do STF: “Se enviarem um porta-aviões, então veremos. Se o porta-aviões não chegar ao Lago Paranoá, não vai influenciar a decisão aqui no Brasil”.
O Lago Paranoá, no entanto, é uma represa artificial no coração de Brasília (DF), sem qualquer conexão com o mar, o que reforça o tom metafórico e irônico da afirmação.
No vídeo, o ’03’ se apresenta como articulador junto ao governo Trump, defende que as sanções norte-americanas sejam usadas como ferramenta de pressão por anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro e critica Alckmin por buscar diálogo diplomático e uma solução para a crise criada pelo imperador que ocupa atualmente a Casa Branca.
MARCO CAMPANELLA