
“Cumprir o ritual eleitoral a cada 4 ou 5 anos não é mais suficiente”, afirma Lula. “Reconhecemos a urgência de lutar contra todas as formas de desigualdade”, prosseguiu o presidente na Cúpula pela Democracia no Chile
O presidente Lula afirmou, nesta segunda-feira (21), na Cúpula pela Democracia, realizada no Palácio de La Moneda, sede do governo chileno, que “não há justiça em um sistema que amplia benefícios para o grande capital e corta direitos sociais”. Ele criticou os limites impostos aos povos pelo neoliberalismo e sua “democracia” cada vez menos representativa. “A democracia liberal não foi capaz de responder aos anseios e necessidades contemporâneas. Cumprir o ritual eleitoral a cada 4 ou 5 anos não é mais suficiente”, disse Lula.
Sem citar diretamente as recentes ameaças e intromissões indevidas em assuntos internos que o regime ditatorial de Donald Trump está fazendo contra o Brasil e também contra outros países da região, o presidente Lula destacou a importância da unidade da América Latina e da luta contra o fascismo e sua sanha intervencionista. “Neste momento em que o extremismo tenta reeditar práticas intervencionistas, precisamos atuar juntos”, defendeu o presidente brasileiro.
Lula afirmou ainda ser urgente mudanças dos modelos que agravam a desigualdade e a pobreza. “Reconhecemos a urgência de lutar contra todas as formas de desigualdade. O salário médio global de um presidente de multinacional é 56 vezes maior que o de um trabalhador. Políticas de austeridade obrigam o mundo em desenvolvimento a conviver com o intolerável: 733 milhões de pessoas passam fome todos os dias’, denunciou o chefe do Executivo brasileiro.
Ele defendeu que os super-ricos paguem impostos e que o esforço arrecadatório não recaia apenas sobre os pobres e a classe média. “A justiça tributária é outro passo para recolocar a economia a serviço do povo”, disse Lula. “Os super-ricos precisam arcar com a sua parte nesse esforço. Só o combate às desigualdades sociais, de raça e de gênero pode resgatar a coesão e a legitimidade das democracias”, argumentou.
“O sistema político e os partidos caíram em descrédito”, alertou Lula, destacando a importância do fortalecimento das instituições democráticas contra as forças antidemocráticas.
“Conversamos sobre o fortalecimento das instituições democráticas e do multilateralismo em face dos sucessivos ataques que vêm sofrendo. Concordamos sobre a necessidade de regulamentação das plataformas digitais e do combate à desinformação, para devolver ao estado a capacidade de proteger seus cidadãos. A liberdade de expressão não se confunde com autorização para incitar a violência, difundir o ódio, cometer crimes e atacar o Estado Democrático de Direito”, prosseguiu o presidente.
Lula citou a sede do governo do Chile para lembrar uma das ditaduras mais ferozes da América Latina. “Aqui a democracia chilena sofreu um dos atentados mais sangrentos da história da América Latina”, disse ele. “Nossos países conhecem de perto os horrores de ditaduras que mataram, perseguiram e torturaram. O caminho para a reconquista da democracia e da liberdade foi longo. Sem um novo modelo de desenvolvimento, a democracia seguirá ameaçada por aqueles que colocam seus interesses econômicos acima dos da sociedade e da pátria”, disse o presidente do Brasil.
Leia o discurso de Lula na íntegra:
“Este encontro no Palácio de La Moneda, ao lado dos presidentes Boric, Pedro Sanchez, Petro e Yamandu, tem uma simbologia especial.
Aqui a democracia chilena sofreu um dos atentados mais sangrentos da história da América Latina.
Nossos países conhecem de perto os horrores de ditaduras que mataram, perseguiram e torturaram.
O caminho para a reconquista da democracia e da liberdade foi longo.
Democracias não se constroem da noite para o dia.
Zelar pelos interesses coletivos é uma tarefa permanente.
Vivenciamos uma nova ofensiva anti-democrática.
Para reagir a esse movimento, Espanha e Brasil promoveram um encontro à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro do ano passado.
De lá para cá, a situação no mundo se agravou.
O quadro que enfrentamos exige ações concretas e urgentes.
A reunião de hoje, organizada pelo presidente Boric, é um passo nessa direção.
A democracia liberal não foi capaz de responder aos anseios e necessidades contemporâneas.
Cumprir o ritual eleitoral a cada 4 ou 5 anos não é mais suficiente.
O sistema político e os partidos caíram em descrédito.
Por essa razão, conversamos sobre o fortalecimento das instituições democráticas e do multilateralismo em face dos sucessivos ataques que vêm sofrendo.
Concordamos sobre a necessidade de regulamentação das plataformas digitais e do combate à desinformação, para devolver ao estado a capacidade de proteger seus cidadãos.
A chave para um debate público livre e plural é a transparência de dados e uma governança digital global.
Liberdade de expressão não se confunde com autorização para incitar a violência, difundir o ódio, cometer crimes e atacar o Estado Democrático de Direito.
Reconhecemos a urgência de lutar contra todas as formas de desigualdade.
Não há justiça em um sistema que amplia benefícios para o grande capital e corta direitos sociais.
O salário médio global de um presidente de multinacional é 56 vezes maior que o de um trabalhador.
Políticas de austeridade obrigam o mundo em desenvolvimento a conviver com o intolerável: 733 milhões de pessoas passam fome todos os dias.
A Aliança contra a Fome e a Pobreza lançada pela presidência brasileira do G20, no ano passado, busca superar definitivamente esse flagelo.
A justiça tributária é outro passo para recolocar a economia a serviço do povo.
Os super-ricos precisam arcar com a sua parte nesse esforço.
Só o combate às desigualdades sociais, de raça e de gênero pode resgatar a coesão e a legitimidade das democracias.
A crise ambiental introduz novas formas de exclusão, com impactos desproporcionais para os setores mais vulneráveis.
Sem um novo modelo de desenvolvimento, a democracia seguirá ameaçada por aqueles que colocam seus interesses econômicos acima dos da sociedade e da pátria.
Este encontro também foi um momento de reflexão sobre o estado da integração regional e do mundo.
A América Latina e o Caribe são uma força positiva na promoção da paz, no diálogo e no reforço do multilateralismo.
Com a Espanha e a Europa compartilhamos uma longa história e laços econômicos e sociais.
Somos duas regiões incontornáveis na ordem multipolar nascente.
Enfrentamos desafios semelhantes no enfrentamento da discriminação racial, da xenofobia e da mudança do clima.
Também nos une a promoção e proteção dos direitos humanos.
Neste momento em que o extremismo tenta reeditar práticas intervencionistas, precisamos atuar juntos.
A defesa da democracia não cabe somente aos governos.
Requer participação ativa da academia, dos parlamentos, da sociedade civil, da mídia e do setor privado.
Logo mais, participaremos de diálogo para aproximar nossa Iniciativa dos movimentos sociais, das ONGs, dos sindicatos, da academia e dos estudantes.
Esta caminhada continuará em setembro, com outro evento em Nova Iorque, à margem da Assembleia Geral da ONU, envolvendo mais países latino-americanos, europeus, africanos e asiáticos.
Muito obrigado.”