
“O fim da continuidade do genocídio em Gaza exige mais do que apelos indignados: requer medidas concretas e imediatas”, apontou o professor da USP e ex-ministro, Paulo Sérgio Pinheiro
O professor titular de ciência política da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro da Secretaria e Estado de Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, se somou à indignação que tomou conta do mundo pelos crimes da ditadura israelense contra mulheres e crianças palestinas na Faixa de Gaza, e pediu, em artigo publicado na Folha de S. Paulo deste domingo (27), que o mundo puna o regime de Netanyahu pela carnificina do povo palestino.
“Soa a hora de sanções – políticas, diplomáticas, econômicas e culturais. Os países verdadeiramente indignados com Israel devem ser consequentes: romper relações com um Estado que promove um genocídio, impor um embargo total de armas e suspender acordos de comércio e investimentos. O fim da continuidade do genocídio em Gaza exige mais do que apelos indignados: requer medidas concretas e imediatas”, defendeu o acadêmico da USP.
“No último mês, a escalada da violência em Gaza atingiu um patamar sem precedentes. O número de palestinos mortos em operações militares israelenses chega a 60 mil, milhares de crianças, com número alarmante de vítimas feridas pelos bombardeios. Hospitais, escolas, abrigos da ONU foram completamente destruídos. Desde março de 2025 há bloqueio a ajuda humanitária, sendo envios intermitentes e muito abaixo das necessidades”, denuncia Pinheiro.
O professor da USP destacou a monstruosidade de Benjamin Netanyahu ao transformar Gaza num verdadeiro campo de concentração a céu aberto e levar dezenas de milhares de pessoas à morte por inanição pela proibição da entrada de alimentos na região. “A fome tem sido usada como arma de guerra, legitimada entre a população israelense. Cerca de 80% das estruturas hidráulicas foram destruídas e a população é torturada pela sede em pleno verão. O número de crianças com menos de cinco anos em estado de desnutrição aguda triplicou. Gaza, hoje, tem o maior número de crianças amputadas per capita no mundo”, prossegue o professor da USP.
Já há quem diga que a ditadura israelense está recriando em Gaza um campo e concentração semelhante ao de Auschwitz, que matou milhares de judeus na Alemanha nazista. “O governo supremacista de Israel, com o apoio ou a indiferença da maior parte da população – que não vê as imagens dos horrores em Gaza, censuradas pela mídia – avança seu projeto de tornar a Faixa de Gaza inabitável por meio de sua destruição total e de promover uma limpeza étnica contra os palestinos”, destaca o articulista.
“Sem nenhum constrangimento, o ministro da Defesa anunciou que pretende concentrar, inicialmente, 600 mil palestinos no Sul, na destruída cidade de Rafah, em uma “cidade humanitária” – campo de concentração, como afirmou o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert -, que seria a primeira etapa para a transferência dos palestinos a outros países”, acrescentou Pinheiro.
“Na mesma direção apontam os relatórios de Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os Territórios Palestinos Ocupados, que, já em março de 2024, afirmava que Israel conduz uma campanha genocida (razão pela qual se tornou alvo de sanções dos EUA)”, acrescentou.
O autor do artigo chama a atenção para o fato de que “o próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, criticou recentemente a comunidade internacional por ignorar o sofrimento dos palestinos famintos na Faixa de Gaza, classificando a situação como ‘uma crise moral que desafia a consciência global’”. Pinheiro lembra que a Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio impõe obrigações a todos os Estados signatários. Entre elas, o dever de prevenir o genocídio e de não ser cúmplice”.
“Manter relações diplomáticas, comerciais, tecnológicas e militares com um Estado sob investigação por genocídio é, no mínimo, uma flagrante violação da devida diligência que os Estados-membros da ONU têm perante o direito internacional”, apontou. “Aos Estados, especialmente os aliados de Israel que jamais interromperam sua ajuda militar, mas que agora pedem que cesse a “catástrofe humanitária” em Gaza e que Israel suspenda o bloqueio à ajuda humanitária, deles exigem-se ações muito além de palavras indignadas. Se quiserem pôr fim imediato à carnificina em Gaza, os meios existem e são amplamente conhecidos pela comunidade internacional”, concluiu Paulo Sérgio Pinheiro.