
Foi dada a largada para o XVI Congresso do Partido Comunista do Brasil num debate realizado segunda-feira (28) no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo. O PCdoB vê os ataques de Trump como sinal de fraqueza do imperialismo
Ocorreu na noite de segunda-feira (28), no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, a primeira mesa do ciclo de cinco debates que aprofundam o Projeto de Resolução do PCdoB para seu 16º Congresso, em outubro. A discussão desta primeira mesa se concentrou na crise do capitalismo e da globalização neoliberal. Discutiu-se a financeirização, a concentração de Poder das Big Techs e os Impactos das Transformações Tecnológicas. O evento foi promovido pela Fundação Maurício Grabois (FMG).

O debate nesta primeira mesa foi mediado pela jornalista e membro do Comitê Central do PCdoB, Rosanita Campos, e contou com presença do presidente da FMG, Walter Sorrentino, da Secretária de Organização do partido, Nádia Campeão, e do presidente do comitê estadual do PCdoB, Rovilson Brito. O debate foi transmitido ao vivo pela TV Grabois.
Os debatedores desta primeira mesa foram o economista e professor da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo, o também economista e professor da Uneb e ex-deputado federal, Davidson Magalhães, Ergon Cugler, pesquisador do CNPq e o jornalista e escritor, Sérgio Cruz, redator especial do jornal Hora do Povo.

Walter Sorrentino abriu os debates destacando a relevância do congresso diante de um cenário de guerra híbrida e assimétrica movida pelos Estados Unidos contra o Brasil. Seu objetivo, segundo ele, é minar a soberania nacional, atacar os BRICS e impedir a regulamentação das Big Techs.
“Essa é uma guerra para arrancar o Brasil dos BRICS, que representam uma ameaça à hegemonia norte-americana, sobretudo em nosso continente”, afirmou Sorrentino. Ele acrescentou que o mundo está entrando num período de multipolaridade e destacou que a disputa atual está sendo para saber quem vai hegemonizar essa multipolaridade.

Rovilson Brito falou em seguida e destacou a importância do debate que se inicia com vistas ao XVI Congresso do PCdoB. Ele chamou a atenção para o fato de que “são muitas e profundas as transformações que o capitalismo e a geopolítica vêm sofrendo no último período” e que o debate que hora se inicia “é um grande desafio para uma corrente política como a nossa que é marxista e que busca unir a questão nacional ao socialismo”.
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Davidson Magalhães foi o primeiro palestrante e deu uma panorâmica da crise do neoliberalismo e das transformações por que passa o mundo. Ele revelou que o volume de derivativos financeiros (US$ 667 trilhões) supera em seis vezes o PIB global (US$ 110 trilhões), evidenciando a desconexão entre o setor financeiro e a economia produtiva.

“Terminamos o século XX se dizendo que o mundo era plano, que a história tinha acabado e o socialismo era uma utopia que deixou de existir. Um mundo unipolar com uma potência determinando as regras. Agora, nós vivenciamos uma realidade completamente diferente. O socialismo volta a ser protagonista, a ordem não é mais unipolar e está em processo de transição cuja liderança se dá exatamente por um país socialista. Este é o confronto principal dessa nova ordem global”, observou Davidson.

O pesquisador Ergon Cugler apresentou detalhes sobre a dominação das chamada big techs no mundo de hoje. Ele citou cinco áreas onde se dá essa dominação. O poder econômico, o poder político, o poder cognitivo, o poder burocrático e o poder militar. Ele fez um histórico do surgimento das empresas, que hoje são grandes monopólios, e mostrou que elas surgiram de negociatas, de roubo e compra de ideias alheias e não do mérito de “grandes gênios” que surgiram em garagens, como reza a lenda. Ele sintetizou sua fala dizendo “que tudo nasceu de golpes, heranças e canalhices”.

Ergon deu como exemplo da ação política das big techs a atuação contra o PL 2630 de 2020. Ele destacou que elas influenciaram explicitamente na política para barrar o PL 2630 que o deputado Orlando Silva foi o relator. Fizeram terrorismo de que a internet iria piorar se o projeto de regulamentação das plataformas, que visava combater crimes, fosse aprovado. O pesquisador citou como exemplo do grau de dominação cognitiva, o resultado de um estudo que mostra que 2,5 milhões de brasileiros foram capturados por sites de teorias de conspiração e de estímulo à violência.
O jornalista Sérgio Cruz reforçou a visão de que a contradição principal do mundo hoje é, de um lado, o imperialismo em declínio e, de outro, o bloco anti-imperialista liderado pela China, um país que está construindo o socialismo.

Ele fez um histórico da decadência da economia dos EUA desde o acordo de Bretton Woods, em 1944. Ali, diz ele, “os EUA eram uma potência. Saíram fortalecidos da guerra porque não sofreram a destruição que a URSS e a Europa sofreram e ganharam muito dinheiro com o conflito. Nesta ocasião, possuíam metade de todo o ouro do mundo e tinham 50% da produção industrial do planeta”.
O dirigente chamou a atenção para o fato de que, hoje, os EUA não são nem a sombra do que eram no final da guerra. Estão desindustrializados, endividados e em declínio econômico. “A própria figura de Trump expressa bem o nível da decadência americana”, destacou. “O fato deles adotarem o fascismo mostra bem a profundidade da crise. O fascismo surgiu no passado quando o socialismo soviético estava muito forte e o capitalismo afundado na crise de 1929. Agora, novamente, eles estão se sentindo ameaçados pelo crescimento avassalador da China”, observou Sérgio Cruz.
A defesa da soberania brasileira foi destacada como prioridade por Sérgio Cruz, que defendeu que o PCdoB mobilize a sociedade contra o bolsonarismo, visto como “traidor da pátria”, e apoie o governo Lula para enfrentar a ofensiva imperialista.

O professor Gonzaga Belluzzo, que foi o último orador, trouxe importantes reflexões sobre o processo de financeirização. Ele chamou a atenção contra as visões que tratam este fenômeno como sendo uma “deformação” do capitalismo.
O renomado economista reforçou que este aspecto do capitalismo – a financeirização – é intrínseco ao próprio sistema e que ele foi observado desde o seu nascedouro. O professor citou o exemplo das atividades extremamente especulativas que ocorreram na década de 20 do século XX e que levaram à crise mundial de 1929. “Os fenômenos da financeirização são inerentes ao capitalismo e já estavam presentes naquela época”, destacou Belluzzo.