
Boletim do BC mantém previsão da Selic em 15% ao ano
As instituições financeiras mantiveram a projeção para a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano. Segundo o Boletim Focus do Banco Central, divulgado nesga segunda-feira (4), a projeção para a inflação teve um recuo de 5,09% para 5,07%. Essa é a décima semana consecutiva de corte da estimativa de inflação. No entanto, os bancos insistem em manter os juros nas alturas, alavancando seus lucros e inibindo os investimentos e o consumo das famílias.
Em 2025, o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 2,23%, conforme a projeção do mercado. Caso confirmado, o resultado corresponderia a uma forte desaceleração da atividade econômica em relação a 2024, quando o PIB avançou 3,2% – mesmo desempenho registrado em 2023.
Como consequência da Selic em níveis proibitivos, em junho deste ano, o setor público gastou a soma de R$ 61,0 bilhões com o pagamento dos juros da dívida pública, segundo números do próprio BC.
Em 12 meses até junho, o gasto com os juros – que nada mais é do que a transferência de renda de toda sociedade para os bancos, rentistas e especuladores dos títulos públicos – somou R$ 912,3 bilhões (7,45% do PIB). Ou seja, são R$ 76,6 bilhões a mais do que foi pago nos doze meses até junho de 2024 (R$ 835,7 bilhões ou 7,39% do PIB).
Na última quarta-feira (30/8), o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu por manter a Selic em 15%. No seu comunicado, o BC sinalizou que o patamar atual dos juros deve permanecer nas próximas reuniões deste ano – até dezembro, serão realizados mais três reuniões.
Com a inflação esperada em baixa e o nível da Selic sendo mantido em 15%, a taxa de juros real já ultrapassou os 10% ao ano, conforme cálculos da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
“A taxa de juros real encerrou 2024 em 7% a.a., mas [neste ano] já se encontra em 10,1% a.a.”, denunciou a entidade, após o Copom anunciar que manteve o nível da Selic em 15%. A indústria é um dos setores mais afetados pela política monetária restritiva.
Após dois meses consecutivos de recuo no indicador, a produção industrial seguiu praticamente sem crescer em junho deste ano, ao variar apenas 0,1% frente a maio que caiu -0,6%, assim como o mês de abril (-0,,6%). Em relação a junho de 2024, a produção industrial recuou -1,3%.
Na passagem de maio para junho de 2025, a produção pelas Indústrias de transformação subiu 0,2%, após as quedas em maio (-0,5%) e abril (-0,9%) deste ano. Frente a junho do ano passado, o ramo que representa mais de 80% da indústria geral apresentou um recuo de – 2,2% em sua produção.
Ao cobrar a redução dos juros no país, a CNI observa que, como consequência do ciclo de aumento dos juros (iniciado em setembro de 2024, quando a Selic estava em 10,5%), a taxa de juros média cobrada das empresas nas concessões de crédito, considerando as linhas com recursos livres, subiu de 20,6% a.a. em setembro de 2024 para 24,3% a.a. em junho de 2025.
“Com o crédito cada vez mais caro e menos acessível, a atividade econômica dá sinais de desaceleração”, alerta a CNI. “Os números parciais dos setores no segundo trimestre não são animadores. Em abril e maio, a produção industrial acumulou queda de 1,2% frente ao fim do primeiro trimestre, de acordo com o IBGE”, destaca.
“As vendas do varejo foram ainda piores. O setor acumulou retração de 1,6% na mesma comparação. Além disso, o IBC-Br, indicador que serve como prévia do PIB, caiu 0,74% em maio ante abril, refletindo a desaceleração da economia”, completa a entidade.