
Segunda mesa do ciclo de debates preparatório para o XVI Congresso do partido, realizada no Rio, avaliou a crise do imperialismo e os caminhos que se abrem para o Brasil
Transmitido para todo o Brasil pela TV Grabois, realizou-se na noite desta segunda-feira (04), no auditório da Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro (SIAERJ), a segunda mesa do ciclo de debates preparatório para o XVI Congresso Nacional do PCdoB, organizado pela Fundação Maurício Grabois. Com o tema “Mundo em Transição”, o evento reuniu intelectuais, militantes e amigos do partido. O consenso da noite foi de que a contradição principal é entre imperialismo e os projetos nacionais autônomos.
ABERTURA
Theófilo Rodrigues fez uma saudação aos presentes em nome da Fundação Maurício Grabois e foi seguido pelo presidente estadual do PCdoB, Daniel Ilesco, que agradeceu aos dirigentes da Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro e destacou o papel de relevo dos debatedores no cenário nacional. Ele agradeceu a presença de todos e fez um chamamento para o fortalecimento da luta junto com o PCdoB. O vice-presidente da SIAERJ, Altamirando Moraes, deu as boas vindas ao público.
“Estamos diante de uma transição estrutural na ordem mundial, com o enfraquecimento relativo dos Estados Unidos e o surgimento de novos polos de poder, como a China”. disse Elias Jabbour, da UERJ. Além dele, estavam presentes, Ana Penido (UFF) e Luis Fernandes (PUC-Rio/MCTI). O debate foi mediado por Conceição Cassano, da direção nacional do PCdoB.
Assista ao debate na íntegra
ELIAS JABBOUR

Elias Jabbour iniciou sua fala fazendo uma análise do capitalismo contemporâneo, apontando que a crise de 2007-2008 foi a primeira grande falência do capitalismo neoliberal, contrariando a promessa de um mundo pós-soviético com o fim das fronteiras nacionais e no fim da história. Nós já denunciávamos na década de 90 que isso tudo era uma grande farsa. “Ela revelou a farsa do liberalismo, com crises financeiras cada vez mais recorrentes e profundas, aumentando desigualdades dentro e entre países”, afirmou Jabbour.
Elias falou também sobre a construção do socialismo na China. “A China cria uma formação econômico-social que entrega maior produtividade e bem-estar”, declarou. Jabbour também analisou a política de Donald Trump, argumentando que ela não foi um ponto fora da curva, mas sim a continuidade e a ruptura de um processo iniciado em 2007-2008, que intensificou a guerra tecnológica contra a China, mas sem sucesso em contê-la.
Em resposta a perguntas da plateia, Elias Jabbour concordou que a contradição principal é entre o imperialismo e os projetos nacionais autônomos. Ele afirmou que a China, com sua “formação socialista dentro do capitalismo global”, promove uma globalização alternativa.
ANA PENIDO

A professora Ana Penido, pesquisadora em defesa e segurança, trouxe reflexões sobre a transição hegemônica. Ela destacou que, apesar da transição econômica e tecnológica favorecer a China, a hegemonia cultural dos Estados Unidos, baseada no modo de vida individualista, ainda tem peso globalmente. “Eles não têm mais tanta força, mas sim o elemento cultural, ou seja, o modo de vida, que ainda tem grande influência”, destacou.
“Cada compra de armamentos americanos por outros países dá sobrevida à sua economia, mesmo que isso não garanta vitória militar”, explicou. Ana Penido enfatizou que a política de defesa nacional brasileira deve garantir a capacidade de dizer “não” a potências mais fortes. Ela apontou que há laços estreitos entre as elites militares brasileiras e os EUA/OTAN, que, segundo ela, são questões a serem levadas em conta na luta pela soberania brasileira.
Ela destacou a importância de pensar regionalmente para construir um polo geopolítico e ressaltou que o Brasil deve estudar exemplos como o do Irã, que construiu capacidade industrial-militar mesmo sob sanções.
LUIS FERNANDES

Luis Fernandes, secretário-executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, situou o debate no conceito de “mundo em transição”. Ele argumentou que a crise de hegemonia dos Estados Unidos abre espaço para projetos nacionais anti-imperialistas.
O professor foi enfático ao denunciar a intervenção explícita dos EUA no Brasil, “tentando pressionar o Judiciário brasileiro a encerrar processos”.

Na opinião de Luis Fernandes, ação de Trump contra o Brasil é uma demonstração do “imperialismo clássico: a extensão da autoridade de um Estado além de suas fronteiras, apoiada por quinta-colunas internas que se apropriam da bandeira nacional”. Também dialogando com a platéia, Luis Fernandes defendeu a necessidade de reconstruir um projeto nacional sobre novas bases tecnológicas e explorar as sinergias da multipolaridade.

Conceição Cassano encerrou o evento reforçando que o debate oferece orientações políticas para o 16º Congresso Nacional do Partido Comunista do Brasil, “fortalecendo a consciência nacional para enfrentar os desafios geopolíticos e construir um projeto de desenvolvimento autônomo, alinhado com o Sul Global”, finalizou.