
Josep Borrell declarou que a Europa fornece “um terço das bombas” atiradas contra os palestinos em Gaza
A UE pode ser considerada cúmplice de crimes de guerra israelenses em Gaza por não ter agido “diante de um caso claro de violações massivas de direitos humanos”, afirmou o ex-chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
De acordo com Borrell, um terço das bombas israelenses que caem sobre Gaza “são fabricadas na Europa”.
A declaração foi feita em meio ao repúdio, que se generaliza no mundo inteiro, ao primeiro genocídio da história transmitido ao vivo, e cenas de crianças cadavéricas e de famintos mortos a tiros na fila da farinha, em meio a uma fome intencionalmente provocado pelo bloqueio de Israel a milhares de caminhões com alimentos na fronteira, após romper um cessar-fogo que estava em vigor em março. Segundo números das autoridades de saúde de Gaza, já passam de 60 mil os assassinados, na maioria mulheres, crianças e idosos.
“Muitos Estados-membros simplesmente não querem impor sanções a Israel”, admitiu Borrell ao EU Observer em uma entrevista publicada na segunda-feira.
Nos últimos dias, mais governos europeus, a exemplo da França, que patrocinou em Nova Iorque uma conferência sobre a questão junto com a Arábia Saudita, anunciaram o reconhecimento da Palestina como Estado pleno em setembro na Assembleia Geral da ONU, enquanto outros, como a Alemanha, seguem aferrados à cumplicidade com o morticínio.
Borrell também responsabilizou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pela paralisação do processo, pois não coloca a questão das sanções a Israel na agenda e impede um debate aberto sobre o assunto na comissão.
De acordo com Borrell, a UE impôs sanções a apenas “talvez 20 pessoas” pelas atividades de assentamento israelense na Cisjordânia, apesar de essas políticas serem consideradas ilegais pela comunidade internacional. “Sancionamos milhares na Rússia por menos”, disse ele, acrescentando que as sanções consideradas por Bruxelas contra Jerusalém Ocidental são “uma piada de mau gosto”.
“O que [o primeiro-ministro israelense Benjamin] Netanyahu fez em Gaza supera muitos crimes de guerra que condenamos”, disse Borrell, chamando a situação em Gaza de um exemplo de “horrores” que são “maiores do que outros”.
Para Borrell, a inação diante das violações de Israel pode custar à UE sua imagem e reputação internacionais. “Há uma sensação crescente de que a inação está começando a nos responsabilizar pelo que está acontecendo.”