Campanha de Trump insulta imigrantes como “invasores” e estende arame farpado por 170 milhas de fronteira. Custo da operação orçado em US$ 200 milhões.
Em um comício de campanha no sábado, o presidente Donald Trump enalteceu sua boca de urna nas eleições intermediárias desta terça-feira (6), que decidirão os rumos do Congresso, atualmente controlado pelos republicanos. “Nós temos nossos militares na fronteira. E notei todo aquele lindo arame farpado que sobe hoje. O arame farpado usado corretamente pode ser uma bela vista”.
“Bela vista” com arame farpado à parte, de acordo com as pesquisas, cuja confiabilidade é contestável, os democratas poderiam vencer a disputa na Câmara, por uma margem de 7% a 15%, onde todas as cadeiras estão em disputa, enquanto a turma de Trump deve manter o controle do Senado, em que estão em jogo 35 assentos – um terço -, sendo que 26 já ocupados por democratas.
Um sintoma da disputa em curso foi o vídeo divulgado por Trump nas redes, considerado o mais racista em 30 anos, em que o alvo é, claro, os imigrantes, demonizados na figura de um delinqüente (e que repete um anúncio da eleição de Bush Pai, contra os negros).
Dobrando todas as apostas, Trump ameaçou cassar, com uma canetada, o direito à cidadania de filhos de imigrantes em situação ilegal, concedida pela 14ª Emenda e referendada por decisão da Suprema Corte após a morte de Lincoln.
No voto a voto de Trump, são mais de 170 milhas de arame farpado, barricadas em pontos de passagem de fronteira, e 3500 soldados realizando ostensivamente operações, e com quase 12 mil a caminho – um contingente do tamanho do que ocupa atualmente o Afeganistão. Conforme a mídia, o custo da operação está orçado em US$ 200 milhões.
Tudo para empurrar às urnas os xenófobos ou os simplesmente assustados pela odienta retórica do presidente, contra a “invasão” da caravana de miseráveis e famintos que fogem da violência e fome que Washington espalhou na América Central.
Dois ou três dias depois de um neonazista tuitar que “estava indo” para uma sinagoga para deter a “invasão” e matar 11 judeus idosos, Trump anunciou que as tropas que estava enviando para a fronteira poderiam disparar em resposta “a uma pedrada”. Precisou do general ‘Mad Dog’ para demovê-lo. A caravana está chegando à capital do México e ainda levará dias até à divisa.
Ainda por pura coincidência Trump marcou a retomada do bloqueio à exportação de petróleo do Irã para a véspera da eleição, dia 4, com as manifestações de repúdio em Teerã servindo para apavorar eventuais eleitores e engrossar o coro das fake news e do ódio. Foi Trump quem rompeu o acordo, não o Irã.
Também estão em disputa os governos de 36 de 50 estados. Um fator a favor de Trump é que a ‘bolha de tudo’ não estourou – ainda -, e a situação da economia é considerada “boa”, com o alívio temporário no imposto dos mais pobres ainda tendo efeito, o que passará logo depois da eleição (já o imposto das corporações foi reduzido de forma permanente de 35% para 20%). Nos últimos tempos, ele tem chiado que o Fed anda aumentando o juro rápido demais e ele também tenta quase diariamente capitalizar sua guerra econômica contra a China e o resto do planeta.
Os democratas colocaram no centro da campanha a questão da saúde, principalmente a defesa do Obamacare, mas com os candidatos alinhados com Bernie Sanders indo mais longe e propondo o Medicare para Todos – a extensão a todos os cidadãos da saúde pública já disponível há quatro décadas para os aposentados.
Em paralelo, insuflaram todo tipo de pauta identitária, do #MeToo ao controle das armas. Um número sem precedentes de mulheres apresentou sua candidatura. Em relação aos imigrantes, os democratas varreram para debaixo do tapete a condição de Obama como deportador-em-chefe, o presidente que mais deportou na história do país foi às ruas engrossar a campanha democrata. Também uma bancada de egressos da CIA se lançou como candidatos democratas.
A campanha também é permeada por aquele ambiente agressivo, que Trump insuflou por seu lado, contra os imigrantes e muçulmanos, e os democratas, pelo açulamento da farsa do Russiagate, a ‘ingerência russa’, que alimenta a hostilidade contra a outra superpotência nuclear e agudiza o risco de guerra – e agora, com o próprio Trump embarcando na saída unilateral do Tratado de proibição de mísseis nucleares intermediários (INF).
ESPANTALHO
Trump também acenou com o espantalho da Venezuela, dizendo que se os democratas vencerem – no caso, os que pedem universidade gratuita e Medicare para Todos, vão fazer dos EUA “outra venezuela”.
Conforme vários analistas, desde o início da campanha Trump buscou tornar a eleição em um “referendo” sobre seu governo. A mídia continua acusando-o de fomentar a “divisão” e o “ódio”, com o Washington Post asseverando que, na reta final de campanha, o presidente subiu da marca de cinco mentiras para 30 mentiras cabeludas por dia.
Em sua tuitada de véspera de eleição, Trump ridicularizou as “falsas pesquisas de opinião” da CNN e as “baixas avaliações”. “É tão engraçado ver as pesquisas de supressão falsa da CNN e a falsa retórica”, teclou Trump. Ele convocou seus eleitores – “os deploráveis”, segundo Hillary – “não caia no Jogo da Supressão [a pressão de uma campanha para induzir o não-comparecimento do eleitorado adversário]”. “Saia e vote. Lembre-se, agora temos talvez a maior economia (empregos) na história do nosso país”. 35 milhões de pessoas votaram antecipadamente.
ANTONIO PIMENTA