Os subsídios governamentais às ferrovias privatizadas foram multiplicados por quatro desde 1993 enquanto tarifas aumentaram em até 245%
Desde a privatização das ferrovias inglesas, planejada por Margaret Thatcher e implementada pelo primeiro-ministro John Major, após a devida “aprovação real”, em 1993, a população sofre com os preços das tarifas, que dispararam 20% em média, com os serviços despencando, falta de pontualidade e as reclamações trabalhistas se multiplicando. Ao mesmo tempo, a infraestrutura – que segue em mãos do Estado – tem se deteriorado cada vez mais. Este é o resultado da privatização da British Rail, que continua custando aos contribuintes a exorbitante quantia £ 5 bilhões (Cinco bilhões de libras esterlinas!) por ano, aponta recente estudo realizado pelo Partido Trabalhista para lembrar o 25º aniversário da dilapidação deste patrimônio público.
Conforme o levantamento, os subsídios governamentais às ferrovias privatizadas foram multiplicados por quatro desde 1993. E logo após a British Rail começar a ser vendida, em 1995, as tarifas foram catapultadas. O custo de uma passagem em horário de pico de Londres para Manchester, por exemplo, aumentou em 238%, de £ 50 para £ 169 – três vezes mais do que a inflação do período. Uma única passagem de Londres para Exeter saltou de £ 37,50 para £ 129,50 – absurdos 245% – enquanto a passagem de Londres para Swindon mais que triplicou, de £ 20 para £ 66.
Com reajustes vitaminados nas tarifas, sem qualquer critério, alerta o Sindicato Nacional Inglês TUC (Trades Union Congress), os trabalhadores estão sendo obrigados a deixar 13% de seu salário para cobrir o gasto com os transportes, contra 5% dos espanhóis, 4% dos alemães e 3% dos italianos.
De acordo com a secretária-geral do TUC, Frances O’Grady, “o fato é que as pessoas no continente estão usufruindo de preços muito mais acessíveis, além de melhores serviços, enquanto nossos trens continuam se deteriorando”. “A única solução é que as ferrovias voltem a ser públicas. Isso evitará os subsídios dados às companhias privadas e servirá para colocar os passageiros em primeiro lugar”, acrescentou a sindicalista.
Diante dos abusos crescentes, multiplicam-se os protestos contra as tarifas ferroviárias “os mais velhos e os mais caros da Europa”. Manifestantes erguem cartazes denunciando “o grande roubo do trem” e exigindo “preços justos agora”.
“O que estão nos fazendo equivale a uma extorsão”, protestou Sarah Beer, que para percorrer a distância de 60 quilômetros entre Linfield e Londres necessita desembolsar 4.000 libras anuais (4.500 euros ou 18 mil reais). Para Sarah, “o preço é um escândalo, porém ainda mais grave é o lamentável e pouco confiável serviço”.
“Vinte e cinco anos depois, está claro que a privatização das ferrovias tem sido um fracasso catastrófico, com o contribuinte investindo cada vez mais dinheiro no sistema privatizado”, alerta o Partido Trabalhista, defendendo a nacionalização para que se comece a colocar ordem na casa.
Comprometidos em fazer com que as ferrovias britânicas voltem a ser propriedade pública, os trabalhistas denunciam que “os beneficiários do financiamento público desviado através de privatizações de transporte têm sido os ganhos dos diretores, os dividendos dos acionistas e os cofres dos governos estrangeiros”.
“O trabalhismo priorizará o serviço público em detrimento do lucro privado. E começaremos trazendo nossas ferrovias de volta à propriedade pública, à medida que as franquias expirarem ou, em outros casos, com revisões de franquia ou cláusulas de quebra”, enfatiza o partido oposicionista, comprometido ainda em limitar as tarifas, introduzir o wi-fi gratuito nos trens e melhorar a acessibilidade para pessoas com deficiência.