
“Ataque à soberania e ao direito internacional”. Já o primeiro-ministro israelense se declara, diante desta bestialidade, em “missão histórica e espiritual”
Países árabes, juntamente com a Secretaria-Geral da Liga Árabe, condenaram veementemente na quinta-feira (14) as acintosas declarações do primeiro-ministro da ocupação israelense, Benjamin Netanyahu sobre o “Grande Israel”, que denunciaram como um “ataque à soberania dos Estados árabes e uma violação do direito internacional”.
Para a Secretaria-Geral da Liga Árabe trata-se de “uma violação da soberania dos Estados árabes, uma tentativa de minar a segurança e a estabilidade na região, uma grave ameaça à segurança nacional árabe e um desafio flagrante ao direito internacional e aos princípios da legitimidade internacional”.
Na terça-feira, em entrevista ao canal israelense “i24”, o primeiro-genocida Netanyahu se disse em uma “missão histórica e espiritual” e que sentia uma forte conexão com a “visão do Grande Israel”, que, segundo ele, inclui os territórios palestinos ocupados e partes da Jordânia, Líbano, Síria e Egito, em referência a fronteiras dos tempos bíblicos alegadas pelos supremacistas judaicos mais desvairados.
Netanyahu acrescentou que essa visão representa “a continuação do sonho das gerações anteriores de judeus”, afirmando: “Se você me perguntar se sinto que é uma missão histórica e espiritual, a resposta é sim”.
Declaração ainda mais demente diante do cada vez maior isolamento de Israel no mundo inteiro, chocado por um genocídio e esfomeamento em massa perpetrados ao vivo, via streaming, de parte daqueles que se dizem herdeiros das vítimas do genocídio desencadeado pelo nazismo na II Guerra Mundial, o Holocausto.
A Arábia Saudita condenou “as declarações emitidas pelo primeiro-ministro do governo de ocupação sobre o que é chamado de visão da Grande Israel”. Riad reiterou “seu total repúdio às ideias e projetos de colonização e expansão adotados pelas autoridades de ocupação israelenses”, reafirmando “o direito histórico e legal do povo palestino a estabelecer seu Estado independente”.
Também o Egito, que teve o Sinai ocupado por Israel após a guerra de 1967, anunciou “condenar o que foi reportado em alguns veículos israelenses sobre o que se chama de ‘o Grande Israel'”. Tal retórica “reflete uma rejeição da opção de paz e uma insistência na escalada, em contradição com as aspirações de alcançar segurança e estabilidade na região”, assinalou o comunicado egípcio.
O Ministério das Relações Exteriores do Catar expressou sua “condenação e denúncia” dos comentários, chamando-os de “uma extensão da abordagem da ocupação baseada na arrogância, alimentando conflitos e violação flagrante da soberania dos Estados, do direito internacional e das resoluções da ONU”.
O Ministério das Relações Exteriores da Jordânia descreveu os comentários de Netanyahu como “uma séria escalada provocativa e uma ameaça à soberania dos Estados”. O porta-voz Sufyan Qudah reafirmou a rejeição absoluta da Jordânia a essas “declarações incendiárias”.
O governo revolucionário do Iêmen denunciou que o plano de Netanyahu do ‘Grande Israel’ tem como alvo o mundo árabe.
O ministério das Relações Exteriores iraquiano condenou “as declarações provenientes da entidade de ocupação sobre o que se chama de ‘a visão do Grande Israel’, que revelam claramente as ambições expansionistas desta entidade”. “Estas declarações representam uma clara provocação à soberania dos países”, acrescentou o ministério.
Em paralelo, o ministro das Finanças israelense Belazel Smotrich anunciou um novo colonato, E1, que justificou ser para “enterrar o Estado Palestino”, ao inviabilizar a ligação de Jerusalém Oriental com o restante da Cisjordânia.
O plano, que ainda irá à votação no gabinete de Netanyahu, inclui a construção de 3.000 moradias para assaltantes de terra alheia. O projeto, que viola a lei internacional e as resoluções da ONU, existe desde os anos 1990, mas foi sendo adiado devido ao repúdio internacional.
“Depois de décadas de pressão e congelamento internacional, estamos quebrando convenções e conectando Maale Adumim a Jerusalém”, disse o fascista. Ele agradeceu o apoio do presidente Trump e apelou a Netanyahu para “fazer cumprir a soberania israelense” na Cisjordânia para que “os líderes hipócritas da Europa não tenham nada para reconhecer” em setembro.
A Autoridade Palestina criticou o plano israelense, chamando-o de continuação da “guerra genocida” em Gaza e do agravamento da violência. O porta-voz Nabil Abu Rudeineh recordou que a Resolução 2334 do Conselho de Segurança das Nações Unidas declarou ilegais todos os colonatos na Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza.
Em 19 de julho de 2024, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) de Haia decidiu que Israel deve revogar todas as leis que favoreçam a ocupação da Cisjordânia, classificando-a como ilegal.
“O governo israelense está anunciando abertamente o apartheid”, disse porta-voz do grupo israelense de direitos humanos Ir Amim.
O “Grande Israel” era também a meta do Plano Yinon, dos anos 1980, como registrou Noam Chomsky, em seu livro “O Triângulo Fatídico: os Estados Unidos, Israel e os Palestinos”.
Pelo “plano”, o desmembramento do Egito deve ser “o objetivo político de Israel em sua frente ocidental”, enquanto nas outras frentes, o Líbano, a Síria, o Iraque e a península Arábica também devem ser desmembrados em fatores menores, “religiosos e étnicos”.