
Lula confirmou a reabertura do mercado para produtos equatorianos, com o chefe do Executivo equatoriano, Daniel Noboa, e disse esperar reciprocidade do país para fortalecer relações no continente sul-americano
O governo federal aproveitou a visita do presidente do Equador, Daniel Noboa, ao Brasil, na segunda-feira (18), para avançar em novos acordos comerciais. Houve também entendimentos para assinatura de memorandos entre ambos os países.
Diante dos impactos provocados pelas tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos às importações brasileiras, o presidente Lula (PT) destacou a importância de fortalecer as relações bilaterais na América do Sul, com ênfase no comércio e na integração econômica regional.
Em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, Lula recebeu Noboa e abordou a balança comercial entre o Brasil e o Equador e assumiu o compromisso de buscar equilíbrio para diminuir o déficit desfavorável ao país equatoriano.
Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), também receberam Noboa, que visitou o Congresso Nacional.
EQUILIBRAR RELAÇÕES COMERCIAIS
“Temos um intercâmbio de mais de 1 bilhão de dólares com um superávit superior a US$ 850 milhões em favor do Brasil”, afirmou o presidente brasileiro. Isso significa que o Brasil vende mais ao Equador do que compra, o que gera relação desproporcional e favorável aos brasileiros.
Diante desse desequilíbrio, Lula assegurou a disposição brasileira em buscar soluções, começando pela reabertura do mercado brasileiro para produtos equatorianos. “Estamos dispostos a trabalhar por um comércio mais equilibrado reduzindo barreiras a produtos equatorianos”, garantiu.
REABERTURA DAS IMPORTAÇÕES
Entre as medidas anunciadas, Lula destacou a reabertura das importações de banana produzida no Equador.
“Vamos começar cumprindo a decisão judicial que determinou a reabertura do mercado brasileiro para a banana produzida pelo Equador. Iniciaremos pela banana desidratada e, até o fim do ano, concluiremos a análise e risco para banana In Natura”, detalhou Lula.
Além disso, de acordo com o presidente Lula, a retomada da importação de camarão também está em pauta. Por outro lado, Lula afirmou que o Equador retribua a tentativa de equilibrar a balança comercial e “esteja atento aos produtos de interesse do Brasil, a começar pela carne suína”.
AMPLIAR RELAÇÃO COMERCIAL
Nesse sentido, Davi Alcolumbre reforçou, durante a visita de Noboa ao Congresso Nacional, na tarde da última segunda-feira, a importância de buscar “caminho para ampliarmos essa relação” — entre o Brasil e Equador.
Alcolumbre afirmou que o Parlamento brasileiro está “aberto para apoiar todos os acordos bilaterais que o governo do Brasil propuser” em relação ao país equatoriano.
“O parlamento brasileiro tem toda a boa vontade para estreitarmos mais a relação, com olhar muito especial na relação com o parlamento equatoriano, que é unicameral”, disse Alcolumbre.
O presidente do Congresso ainda ressaltou que o Brasil sempre esteve a postos para ajudar o Equador quando foi solicitado e que essa parceria deve permanecer como forma de fortalecer as democracias.
“Uma nação com o potencial e com a força do Brasil na América Latina, também na América do Sul, essa também é uma oportunidade de apresentarmos para o mundo que só o diálogo na relação verdadeira pode levar ao equilíbrio e à prosperidade das nossas nações, dos nossos países e, consequentemente, dos nossos povos”, concluiu Alcolumbre.
INTEGRAÇÃO REGIONAL
Lula também reforçou a necessidade de promover maior integração regional na América do Sul. O presidente brasileiro propôs a atualização do acordo Mercosul-Equador, que foi criado há mais de 20 anos, e se comprometeu a levar essa demanda aos demais sócios do bloco econômico do subcontinente.
“Em um cenário global desafiador, em que rivalidades se agravam e instituições multilaterais são esvaziadas, é preciso firmeza na defesa da nossa independência”, destacou Lula.
“Para o Brasil, a autonomia é um sinônimo de diversificação de parcerias, por isso, os laços com o Equador e com os demais vizinhos sul-americanos são prioridade para nós”, acrescentou.
FLUXO DE PESSOAS E MERCADORIAS
Para impulsionar o fluxo de pessoas e mercadorias, Lula celebrou a retomada de voos diretos entre São Paulo e Quito em 2026 e a discussão sobre “rodovias e hidrovias que conectarão Manaus ao Porto Equatoriano de Manta”, no âmbito do programa Rota da Integração Sul-Americana.
Sobre isso, Hugo Motta (Republicanos-PB) destacou o papel do Parlamento em fortalecer a amizade entre ambos os países para trazer “benefícios concretos para os nossos povos”.
O presidente da Câmara apontou ainda que “em 2024 o Brasil foi o País que mais enviou produtos importados ao Equador” e que ambas as nações têm sido “importantes investidoras em seu país com participação nas áreas de infraestrutura, indústria de alimentos e também na indústria farmacêutica”.
FUTURO MAIS PROMISSOR
Assim, a intenção, segundo Motta, é trabalhar para proporcionar futuro ainda mais promissor nas relações bilaterais entre Brasil e Equador.
“Nós temos sim o potencial de ampliar e diversificar o comércio e os investimentos bilaterais para maior proveito dos dois países”, avaliou o presidente da Câmara, e acrescentou que o objetivo dessa relação bilateral é “consolidar o espaço sul-americano como uma zona de prosperidade”.
ACORDOS ASSINADOS
Durante a visita de Noboa, foram assinados 3 acordos bilaterais nas áreas de combate à fome e à pobreza, agricultura familiar e inteligência artificial.
No campo social, foram firmados 2 memorandos: o primeiro, assinado pelo Ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, e pela ministra das Relações Exteriores e Mobilidade Humana do Equador, Gabriela Somfeld, que visa estabelecer cooperação técnica para a luta contra as desigualdades.
Este memorando busca a troca de experiências, estudos e conhecimentos sustentáveis para o desenvolvimento social, como forma de reduzir a fome e a pobreza. O segundo, assinado pelo Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, e a ministra Somfeld, tem como objetivo a ampliação de políticas públicas sobre agricultura familiar e camponesa.
A intenção é promover o desenvolvimento agropecuário e rural sustentáveis, a transição agroecológica, e o aumento da produção orgânica.
COOPERAÇÃO NA ÁREA DE IA
Ainda na esfera da cooperação, memorando de entendimento foi assinado entre a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, e a ministra equatoriana, com foco na cooperação na área de IA (inteligência artificial).
Este acordo pretende fortalecer a colaboração acadêmico-científica e a capacitação de profissionais em infraestruturas de computação de alto desempenho, visando o desenvolvimento de modelos de IA latino-americanos.
SEGURANÇA PÚBLICA
Além dos acordos formais, a segurança pública foi tema de destaque nas discussões. Lula reforçou a oferta brasileira de cooperação em segurança ao presidente Noboa, anunciando a reabertura da agência da Polícia Federal em Quito, e a oferta de treinamento em investigação de crimes financeiros para policiais equatorianos.
Nesse sentido, o presidente Noboa, por sua vez, reconheceu a luta do Equador contra o narcotráfico e a mineração ilegal, descrevendo-a como “guerra interna” e expressou a necessidade de “fortalecer laços” também em segurança.
Ambos os líderes convergiram em relação à ideia de que países da América do Sul precisam agir juntos para combater o crime organizado e transnacional.