
PF indicia, em outro inquérito, o réu-golpista e o filho conspirador, Eduardo Bolsonaro, por obstrução da Justiça no processo da trama golpista. Revelações mostram que o “03” que se encontra nos EUA sabia das sanções ao ministro Moraes 15 dias antes da imposição da Lei Magnitsky. Silas Malafaia também é alvo de busca e apreensão
Novas revelações da Polícia Federal (PF) indicam que Jair Bolsonaro e seu entorno mais próximo promoveram, durante as investigações em torno da tentativa de golpe de Estado, uma série de ações para intimidar autoridades e coagir ministros do Supremo Tribunal Federal, açulando interferências do governo dos EUA, o que se configurou, principalmente, após as sanções, embora inócuas, ao ministro Alexandre de Moraes com a Lei Magnitsky.
Entre as muitas mensagens encontradas no celular de Bolsonaro, depois de terem sido apagadas, desvelou-se uma carta de sua lavra dirigida ao presidente argentino Javier Milei, em que solicita asilo político.
A carta encontrada pela PF no smartphone de Bolsonaro corresponde a um arquivo editável sem data e assinatura em que é pedido asilo político em regime de urgência para Bolsonaro.
De acordo com a autoridade policial, o conteúdo do documento demonstra que Bolsonaro, desde 2024, planejou atos para fugir do país, com o objetivo de obstruir a aplicação da lei penal. Nesse mesmo ano, Bolsonaro chegou a passar duas noites na Embaixada da Hungria, em Brasília, dissimulando contatos com autoridades daquele país hoje governado por forças de extrema direita.
Foram extraídos também do celular de Bolsonaro vários áudios e conversas com Eduardo Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia, também deletados, em que fica evidente a preocupação de utilizar as pressões da Casa Branca para livrar apenas o chefe do clã, sem nenhuma preocupação com os milhares de adeptos que vandalizaram as sedes dos 3 poderes republicanos, muitos dos quais já sentenciados e outros réus no inquérito da trama golpista.
“As mensagens demonstram que as sanções articuladas dolosamente pelos investigados foram direcionadas para coagir autoridades judiciais do Supremo Tribunal Federal (STF) que atuam no julgamento da AP n° 2668-STF, com a finalidade de favorecer interesse próprio, qual a seja, impedir eventual condenação criminal do ex-presidente Jair Bolsonaro e demais réus, acusados pela prática dos crimes de organização Criminosa, Abolição Violenta ao Estado Democrático de Direito e golpe de Estado”, sustenta o documento da PF.
As investigações revelaram também que, em 15 de julho, Eduardo aconselhou o pai a não dar uma entrevista a um portal na internet, dizendo que a Lei Magnitsky poderia cair na conta dele — o que poderia levá-lo a ser investigado por Moraes.
“Eu tenho 2 reuniões hj + 1 Jantar. Amanhã provavelmente casa Branca. Se vc disser algo sobre EUA que não se encaixar com o que estamos fazendo aqui, Pode enterrar algumas ações; Magnitsky no Moraes está muito muito próximo. Vc dá entrevista, sai a Magnitsky, vai cair na sua conta e o Moraes vai abrir mais um inquérito contra vc”, disse Eduardo ao pai, numa revelação de que o conspirador que se encontra ainda nos EUA sabia da movimentação em torno das sanções ao ministro do STF.
DOCUMENTO A MILEI FOI EDITADO PELA NORA
A Polícia Federal aponta, ainda, em seu relatório, que a carta dirigida à Milei, de 33 páginas, foi editada pela nora Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, esposa do senador Flávio Bolsonaro, o “01” do clã.
“Nesse sentido, é possível que o usuário em questão esteja vinculado à pessoa de Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, nora do ex-presidente e esposa do senador Flávio Nantes Bolsonaro”, revela o relatório da PF.
A investigação resgata, ainda, no relatório, que cerca de dois meses antes da última edição do documento, em 5 de dezembro de 2023, Bolsonaro informou ao ministro Moraes que viajaria para a Argentina entre 7 e 11 de dezembro.
“Os elementos informativos encontrados indicam, portanto, que o ex-presidente Jair Bolsonaro tinha em sua posse documento que viabilizaria sua evasão do Brasil em direção à República Argentina, notadamente após a deflagração de investigação pela Polícia Federal com a identificação de materialidade e autoridade delitiva quanto aos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito por organização criminosa”, afirma o documento.
MALAFAIA É INQUIRIDO E ALVO DE DE MANDADO
O pastor Malafaia, um dos mais histriônicos integrantes da turba golpista, também foi alvo de busca e apreensão, inclusive de celular, retenção de passaporte e, segundo a PF, ele foi abordado no aeroporto do Galeão ao desembarcar de Lisboa e já está sendo ouvido.
Diálogos extraídos do celular de Bolsonaro também mostram que o pastor Silas Malafaia ficou irritadíssimo com a forma como Eduardo divulgou o tarifaço de |Trump contra o Brasil. Ele chamou Eduardo de “babaca” e “idiota”.
Em 18 de julho, às 18h55, Malafaia declara:
“DESCULPA PRESIDENTE ! Esse seu filho Eduardo é um babaca , inexperiente que está dando a Lula e a esquerda o discurso nacionalista, e ao mesmo tempo te ferrando. Um estúpido de marca maior. ESTOU INDIGNADO! Só não faço um vídeo e arrebento com ele porque por consideração a você . Não sei se vou ter paciência de ficar calado se esse idiota falar mas alguma asneira”.
AÇÕES DA PF REFEREM-SE A OUTRO INQUÉRITO PENAL
A Polícia Federal também informou que as ações ocorridas nesta quarta-feira (20) fazem parte de um outro inquérito penal, aberto em maio deste ano por solicitação da Procuradoria-Geral da República (PGR), que apontou a atuação de Eduardo Bolsonaro em busca de sanções contra ministros do STF junto ao governo dos Estados Unidos, ou seja, trata-se de um inquérito que investiga fatos relacionados à coação da justiça na ação de julgamento sobre a trama golpista.
O fato levou à abertura de investigação contra Jair Bolsonaro, que já cumpre prisão domiciliar por descumprimento de ordens judiciais.
No início de julho, o ministro Alexandre de Moraes prorrogou a apuração por mais 60 dias, destacando a necessidade de novas diligências.