
Furioso após críticas, “03” xinga e chama o pai de “ingrato”. Mensagens foram trocadas entre Eduardo e Bolsonaro após entrevista em que o ex-presidente disse que o filho é imaturo
Mensagens trocadas entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o filho, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está autoexilado nos Estados Unidos, em 15 de julho, mostram que o parlamentar ficou possesso com entrevista do pai ao portal Poder360.
Na entrevista, o ex-presidente classificou o filho como “imaturo” depois de críticas feitas por ele ao governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O conteúdo está no relatório final da PF (Polícia Federal) no inquérito que apura obstrução à Justiça por Eduardo e Bolsonaro. Ambos foram indiciados pela PF.
“SUBSERVIÊNCIA SERVIL ÀS ELITES”
Na esteira do tarifaço anunciado por Donald Trump, diante de tentativas de Tarcísio de contornar as medidas, que afetariam empresários, Eduardo classificou a postura do governador paulista como “subserviência servil às elites”. Ao portal, Bolsonaro afirmou que Eduardo “apesar de ter feito 40 anos de idade agora, não é tão maduro, talhado para política” e declarou que a situação entre o deputado e Tarcísio estava pacificada.
“Eu ia deixar de lado a história do Tarcísio, mas graças aos elogios que vc fez a mim no Poder 360 estou pensando seriamente em dar mais uma porrada nele, pra ver se vc aprender [sic].
“VTNC SEU INGRATO DO CARALHO!”, escreveu o filho ao pai. “Me fudendo [sic] aqui! Vc ainda te ajuda a se fuder [sic] aí!”. Eduardo prosseguiu: “Se o IMATURO do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, PORQUE VC ME JOGA PRA BAIXO, quem vai se fuder [sic] é vc E VAI DECRETAR O RESTO DA MINHA VIDA NESTA PORRA AQUI. TENHA RESPONSABILIDADE”.
RELAÇÕES ESTRANHAS
Depois dos impropérios do filho, Jair Bolsonaro enviou áudios a ele, que a PF não conseguiu recuperar. Em seguida, o ex-presidente disse “vou resolver agora na CNN”, em referência à entrevista que daria ao canal naquele dia. Eduardo, no entanto, seguia irritado. “Torce pra inteligência americana não levar isso aqui ao conhecimento do Trump”, resmungou. No dia seguinte, Eduardo Bolsonaro pediu desculpas a Jair Bolsonaro e disse que havia “pegado pesado”. “Estava puto na hora”, afirmou.
INDICIAMENTOS DE EDUARDO E JAIR
A PF indiciou, nesta quarta-feira (20), o ex-presidente e o filho, o deputado federal, por coação às autoridades responsáveis pela ação penal do golpe de Estado. Isso significa que a PF viu elementos em que o ex-presidente e o deputado licenciado buscaram atrapalhar a investigação sobre a tentativa de golpe de Estado, em que Jair Bolsonaro é réu no STF (Supremo Tribunal Federal). A PF também aponta indícios de que ambos cometeram o crime de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, vez que as ações deles “buscam atingir diretamente instituições democráticas brasileiras, notadamente o Supremo Tribunal Federal e, até mesmo, o Congresso Nacional brasileiro”.
TROCA DE MENSAGENS
A PF teve acesso à troca de mensagens em celular apreendido com Bolsonaro. Segundo o relatório, o material demonstra que o ex-presidente fez “intensa produção e propagação de mensagens destinadas às redes sociais, em afronta à medida cautelar anteriormente imposta”.
Também nesta quarta-feira, a PF fez buscas e apreensões contra o pastor Silas Malafaia, que aparece nas investigações sobre coação a autoridades. No entanto, ele não foi indiciado. No relatório, a PF informou que foram extraídos do celular de Jair Bolsonaro áudios e conversas com Malafaia e Eduardo Bolsonaro que haviam sido apagados.
INTIMIDAÇÃO E OBSTACULIZAÇÃO
Esses registros reforçam, segundo os investigadores, as tentativas de articulação para intimidar autoridades brasileiras e atrapalhar os inquéritos que apuram a trama golpista. “As mensagens demonstram que as sanções articuladas dolosamente pelos investigados foram direcionadas para coagir autoridades judiciais do Supremo Tribunal Federal (STF)”, escreveu a PF.
“Com a finalidade de favorecer interesse próprio, qual seja, impedir eventual condenação criminal do ex-presidente Jair Bolsonaro e demais réus, acusados pela prática dos crimes de organização criminosa, Abolição Violenta ao Estado Democrático de Direito e golpe de Estado”, consta no documento da PF.
Eduardo Bolsonaro se licenciou do mandato para morar nos Estados Unidos, onde atua tentando influenciar o governo Donald Trump para pressionar contra o processo da tentativa de golpe. Nesse contexto, Trump impôs tarifaço de 50% a produtos brasileiros.