A diretoria da Petrobras anunciou na terça-feira (6) um novo aumento de 8,5% no preço médio do gás de cozinha (GLP) na refinaria para consumo residencial, os botijões de 13 kg. Com a alta, as famílias de menor renda serão ainda mais prejudicadas. Em Tocantins, por exemplo, o preço do botijão custará, em média, R$ 90,00.
Os novos valores passaram a vigorar já na terça-feira e, de acordo com o comunicado oficial, o botijão passa a vendido para as distribuidoras por R$ 25,07.
A Petrobrás mantinha o preço do botijão residencial vendido para as distribuidoras congelado em R$ 23,10 desde o mês de julho. Após a greve dos caminhoneiros, que parou o país contra os repetidos aumentos nos combustíveis, e com o início do processo eleitoral, o governo Temer optou por manter o preço do gás de cozinha neste patamar.
Passado o período eleitoral, o governo voltou à prática dos aumentos abusivos. De acordo com a diretoria da estatal, o aumento ocorre principalmente devido a desvalorização do real frente ao dólar e a elevações nas cotações internacionais do GLP (gás liquefeito de petróleo). Ou seja, um produto de extrema necessidade e que é produzido pela Petrobras para consumo das famílias brasileiras, tem o seu preço regulado levando em conta a paridade internacional.
O valor do botijão vendido às distribuidoras não é o único determinante do preço final ao consumidor. Já que não existe uma tabela de preços fixada pelo governo, as distribuidoras estabelecem os valores livremente.
Segundo o levantamento semanal da Agência Nacional do Petróleo (ANP), os consumidores brasileiros pagaram em média R$ 71,25 pelo botijão entre os dias 28 de outubro e 03 de novembro. Durante o mesmo período – portanto, antes do aumento de 8,5%, em algumas revendedoras do Mato Grosso, o preço do botijão já ultrapassou R$ 120,00 (ver tabela abaixo).
Para o presidente da Associação Brasileira dos Revendedores de GLP, Alexandre Borjaili, o valor do gás de cozinha pode passar de R$ 100. “As distribuidoras fazem cálculos e repassam sempre mais para a revenda, isso porque o gás que sai de São Paulo não é o mesmo que sai da Bahia”, explicou. “O que importa para o consumidor é que a alta sempre será maior do que a anunciada pela Petrobras. Isso porque a distribuidora diz que a alta será de 8,5%, o que representaria R$ 2. Mas vai chegar para as revendas de R$ 4 a R$ 6 mais caro”, afirma.
IMPACTO
A política de atrelar os preços dos combustíveis ao dólar é especialmente nociva para os que possuem menor renda. Levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em alguns estados, o custo do gás de cozinha supera 50% da renda dos mais pobres.
A pesquisa realizada em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, indica que, em 2017, os rendimentos médios das famílias no 1º decil de renda, ou seja, das 10% mais pobres, variaram de R$ 117,04, no Maranhão, a R$ 773,97, em Santa Catarina. Considerando que uma família usa, em média, um botijão de 13kg [Gás Liquefeito de Petróleo (GLP)] por mês, e tendo como referencial o preço do botijão no último mês de junho, é possível constatar que o custo do gás de cozinha na renda familiar representou 59% do orçamento entre os 10% mais pobres no Maranhão, 51,5% no Acre e 50,7% em Sergipe. Já entre as famílias do 2º decil, o gás pesou mais no Maranhão (16,5%), Acre (14,1%), Piauí (13,3%) e em Sergipe (13,0%). E menos no Distrito Federal (5,2%), em São Paulo (5,1%) e Santa Catarina (4,2%)”, apontou o Dieese.
Com os preços extorsivos, outro problema passou a ser realidade das famílias mais carentes no país. A dificuldade para comprar um botijão de gás fez com que as pessoas deixassem de utilizá-lo para cozinhar, substituindo-o por fogareiros a querosene ou a álcool.
Como o uso desses combustíveis é extremamente perigoso, aumentou também o número de pessoas queimadas em hospitais de todo o país.
Em entrevista ao HP, no mês de junho, o diretor do departamento de Queimados do Hospital de Restauração de Recife, Dr. Marcos Barreto, denunciou o aumento dos casos de queimados devido à utilização de combustíveis para cozinhar.
“As pessoas me diziam: ‘olha doutor Marcos, o problema é que eu não tenho os R$ 42, R$ 43 ou R$ 50 para comprar o botijão, o aumento de dez reais para mim faz diferença, mas se eu tenho dez reais aqui, eu posso comprar de álcool e cozinhar por 2, 3, 4 ou 5 dias’, e são exatamente essas pessoas que são mais afetadas. São essas pessoas que estão expostas aos acidentes, porque elas não têm noção do risco que correm quando cozinham com o álcool”, disse o médico.
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