
NATHANIEL BRAIA
Acredito que essas palavras sintetizam o sentimento presente na despedida de Assad Franjieh, presidente da União Libanesa da Diáspora e idealizador e administrador do grupo de debates “Geopolítica do O. M. e Política”
Os amigos do cardiologista Dr. Assad Frangieh expressaram seu apreço e vínculo ideológico em declarações ao jornal Hora do Povo ao final do seu velório realizado na Casa São Charbel nesta segunda-feira (25), de onde foi conduzido a sepultamento.
“Como uma águia que voa até a montanha, foi a vida de lutas e de compromisso com o Brasil, o Líbano e a Palestina. Assim como ele, que não se entregou às adversidades, seguiremos seu exemplo que será eterno”, declarou o vice-presidente da União Libanesa da Diáspora e presidente da Academia Árabe Brasileira de Letras, Khaled Mahassen.
“Meus sentimentos a todos os amigos pela perda do grande companheiro, irmão e amigo, em especial a sua esposa, Guilda e filhos Yussuf e Melissa”, completou Khaled.
O filho do Dr. Assad, Yussuf e a filha Melissa, destacaram a dedicação ao estudo antes de qualquer palestra à qual era convidado e o esforço do pai em esclarecer os filhos sobre as causas que defendia.
O deputado Jamil Murad, dirigente do PCdoB, presente ao velório, declarou que “a luta antiimperialista e antisionista no Brasil teve no Dr. Assad Frangieh um intlectual de alto nível. estudioso das questões do Oriente Médio. Debateu, difundiu largamente as lutas do povo palestino e dos árabes. Seus amigos e seguidores darão prosseguimento à grande causa da paz e do povo palestino e árabe”.
“Hoje é um dia triste para todos os palestinos, pois perdemos um defensor de nossa justa causa, extremamente culto e generoso. Meus sentimentos a toda sua família, sentiremos muita saudade”, afirmou Jamile Latif que dirige o Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino em Campinas.
O intelectual palestino, também médico, Abdel Latif ressaltou a “decência do amigo” e expressou o “apreço do Dr. Assad e seu direcionamento correto em sua análise sempre favorável aos despossuídos, em especial aos que lutam por um Líbano e uma Palestina livres da opressão colonial”.
O secretário-geral da Confederação Palestina Latino-Americana e do Caribe, Emir Mourad, assim escreveu, lembrando de sua trajetória: “Um incansável defensor de causas nobres, da grandeza do Líbano e, de forma especial, da independência da Palestina.
Lembro-me com carinho de 2012, quando nossa convivência se tornou muito ativa no ‘Comitê pelo Estado da Palestina Já’. Seu papel ali foi fundamental, e nossas trocas de ideias e opiniões foram constantes e enriquecedoras. No ano seguinte, nossa parceria continuou no ‘Grupo de Trabalho Árabe’, onde nos reuníamos semanalmente com amigos e lideranças para debater os rumos da Nação Árabe.
O que mais me marcava no Dr. Assad era sua serenidade. Sempre calmo, ponderado e excepcionalmente bem-informado, possuía uma extraordinária capacidade de analisar os fatos e a conjuntura. Era uma luz de clareza em qualquer debate.
Sua partida é uma perda imensurável, mas o aprendizado que tive ao seu lado é um tesouro que guardarei para sempre. Conviver com essa figura ímpar foi um privilégio, e seu legado de luta e sabedoria certamente será levado adiante”.
Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, FEPAL, expressou sua gratidão ao apoio do Dr. Assad à luta palestina ao postar, em nome de sua entidade, uma mensagem aos seus amigos e familiares:
“É com profundo pesar e consternação que esta FEPAL recebeu, nesta manhã, a triste notícia do falecimento do médico cardiologista Assad Frangieh, 64 anos. Um infarto lhe tirou a vida às 4:30, no Hospital Santa Catarina, onde se recuperava a três dias de cirurgia na vesícula.
Reconhecido analista geopolítico, com especial enfoque nos assuntos árabes e do Oriente Médio, Frangieh presidia a União Libanesa da Diáspora e liderava uma série de iniciativas que debatiam o tema árabe e que educaram centenas de interessados na matéria. Culto e calmo, foi peça essencial nos últimos anos na difusão da causa árabe no Brasil, seja como comentarista, seja como líder e articulador, qualidades e ações que lhe renderam amplos reconhecimento e respeito na sociedade, especialmente na diáspora árabe no Brasil.
Frangieh dedicou sua vida à defesa implacável e intransigente da soberania dos povos, denunciando o imperialismo e o colonialismo ocidentais no Mundo Árabe, sem nunca abdicar dos caros princípios da laicidade, da democracia e do direito dos povos à autodeterminação, condições para estados fortes e livres no Oriente Médio e além, marcados pela prosperidade e pela realização dos diretos humanos e civis entre os povos destes países.
Nestes 23 meses de genocídio palestino em Gaza, Frangieh foi uma das mais importantes vozes de sua denúncia no Brasil. Ao defender o direito do povo palestino à autodeterminação, Frangieh enfatizava que esta era, também, a principal condição para a paz em toda a região.
A partida de Assad Frangieh deixa uma lacuna difícil de ser preenchida, mas seu legado nos dá força e luzes para seguirmos pelo caminho que nos uniu e que conduzirá à vitória dos que não se vergam ao imperialismo, especialmente à sua forma mais assassina, o sionismo”.
O presidente do Cebrapaz, José Reinaldo, destacou que “Frangieh era muito mais do que um estudioso. Militante abnegado, fez da sua vida uma trincheira contra a injustiça, o imperialismo e a opressão. Com raro brilhantismo, destacou-se como pensador geopolítico e analista internacional, especialmente no que diz respeito ao Oriente Médio, região que conhecia como poucos no Brasil. Sua capacidade de interpretar os complexos tabuleiros da política mundial o consolidou como uma das vozes mais respeitadas sobre as tensões e conflitos provocados pelo imperialismo e o sionismo”.
A líder da comunidade árabe em São Paulo, Claude Hajjar, também relatou a trajetória do Dr. Assad em mensagem postada em seu portal, Oriente Mídia. Aqui vão seus principais trechos:
“Pessoalmente, eu conheci o Dr. Assad Frangieh no Grupo de Trabalho Árabe ( GT Árabe) em meados de 2012, quando debatíamos intensamente a guerra contra a Síria e éramos reféns de uma mídia tendenciosa e que não informava o seu público sobre os reais acontecimentos, mas sim, replicava narrativas vindas das agencias de notícia internacionais.
Médico, cardiologista do Líbano, fluente em árabe e português, muito contribuiu como seu conhecimento e sagacidade política para o avanço das metas do nosso GT Árabe.
Arabista, tinha como sua bússola a questão Palestina e sabia que toda a região vinha sendo devastada e agredida por não se submeter ao jugo anglosionista. Buscava sempre em suas análises o quanto de realismo político e de esperança poderia imprimir nas suas conjecturas, mirando assim, mais na esperança no amanhã do que no delicado presente.
Em 2012, realizando atividades do GT Árabe, visitamos juntos a sede do Partido dos Trabalhadores, no centro de São Paulo para entregar o material e pedir o apoio da Diretoria de Relações Internacionais, para o tema da Guerra na Síria; neste dia o Dr Assad estava com a filha Melissa, e não se esquivou e me acompanhou para cumprir a missão.
No início de 2013 participamos juntos do terceiro aniversário do Grupo de estudos na ocasião já com 50 reuniões, GT Árabe. Ele fez a brilhante tradução para o embaixador da Síria no Brasil, além de ele mesmo também nos brindar com uma excelente explanação.
Em março de 2013 o nosso Grupo de Trabalho Árabe, após realizar uma grande manifestação em São Paulo, em apoio ao povo sírio, partiu para criar um site de notícias sobre o Oriente Médio, que foi chamado de Oriente Mídia.
Este instrumento de mídia foi pensado para tentar preencher as lacunas da desinformação que a mídia corporativa deixa para o seu leitor.
Por 1 ano aproximadamente o Dr. Assad Frangieh fez parte do corpo editorial do Oriente Mídia junto com outros colegas”.
Na noite de segunda-feira, Claude ao lado de Lejeune Mirhan, promoveram uma live em homenagem ao Dr. Assad. Destacamos a declaração do diretor do portal Aresala, Nasser Khazraji, que relatou de sua “dedicação e estudo para fornecer conteúdo aprofundado e pertinente, em suas palestras”. Nasser acrescentou que “seu legado permanecerá entre nós. Trabalharemos apoiados naquilo que nos ensinou”.
Ao final da live, Lejeune que também ressaltou a qualidade da sua participação nas lives que realizaram juntos, leu a nota da Associação Religiosa Beneficente Islâmica do Brasil – Mesquita do Brás: “A sofisticação das suas análises, a polidez na sua fala, a humildade quando falava com altivez, a segurança e convicção do que expressava, o dom de discordar com elegância e várias outras virtudes são alguns dos legados deixados pelo Dr. Assad, mas na nossa humilde visão, o maior e sem dúvida o mais importante legado deixado, que é o legado apenas dos grandes nobres e livres, foi não ter flexibilizado com a verdade e com a justiça, pois não negociou e tão pouco avaliou prejuízos na defesa das suas convicções, até porque era crente de que a divergência de ideias não deve (ou não deveria) ser motivo para inimizades.
Em suma, o vencedor é o Dr. Assad que passou por esta existência sem negociar e sem flexibilizar a verdade e a justiça, enquanto nós continuamos em teste e rogamos à Deus que tenhamos a mesma virtude e que possamos a cada dia beber do legado de dignidade deixado por este grande homem”.
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