
Um ataque triplamente agravado: contra civis, hospital, socorristas e jornalistas; com emboscada para multiplicar os mortos; e sob motivo absolutamente torpe: uma suposta câmera, é mundialmente condenado
O crime de guerra perpetrado por Israel na última segunda-feira contra o Hospital Nasser, em Khan Younis, ao sul da Faixa de Gaza, com 21 palestinos mortos e dezenas de feridos, merece uma especial apreciação pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), pelos agravantes da ação genocida, triplamente qualificada: contra uma instalação médica, pacientes, médicos, jornalistas e socorristas; sem dar a mínima chance às vítimas, ao ser executado com os “dois toques” – atira e mata primeiro para juntar mais gente e no segundo momento, atira contra os que vieram prestar socorro e completa a chacina; e por motivação absolutamente torpe, uma suposta “câmera”, quando Israel tem uma profusão de drones e câmeras, além de mísseis, bombas de 1 tonelada, aviões e tanques fornecidos pelos Estados Unidos.
GOVERNOS E ENTIDADES DE JORNALISTAS REPUDIAM CHACINA
O que talvez explique porque tantos governos – como China, Canadá, Austrália e até a Alemanha – e a ONU se declararam “chocados”, a que se seguiram pronunciamentos exigindo uma investigação internacional imparcial e a punição dos responsáveis. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e organismos como o Comitê de Proteção aos Jornalistas e os Repórteres Sem Fronteiras expressaram seu repúdio.
ONU EXIGE INVESTIGAÇÃO IMPARCIAL
O chefe da ONU, António Guterres, exigiu também uma investigação rápida e imparcial, e sublinhou que as mortes em causa realçam os riscos extremos que os profissionais de saúde e os jornalistas enfrentam ao realizarem o seu trabalho vital no meio deste conflito brutal. Gueterres reiterou que esses profissionais devem poder desempenhar as suas funções essenciais sem interferência, intimidação ou danos, em plena conformidade com o Direito Internacional Humanitário.
“O secretário-geral condena hoje veementemente a morte de palestinos nos ataques israelense que atingiram o Hospital Nasser em Khan Younis. Além de civis, os mortos incluíam profissionais de saúde e jornalistas”, afirmou o porta-voz de Antonio Guterres.
BRASIL DENUNCIA COVARDIA E CONCLAMA COMUNIDADE INTERNACIONAL A AGIR
O governo brasileiro condenou a chacina covarde e conclamou a comunidade internacional e os mecanismos competentes das Nações Unidas a assegurar a realização de investigação independente, imparcial e transparente, de forma a garantir a devida responsabilização pelos atos.
“Novo episódio na série contínua de crimes hediondos cometidos pela ocupação contra o povo palestino irmão e uma flagrante violação do direito internacional”, disse o Catar. A Turquia pediu que a Assembleia Geral da ONU aprove a suspensão de Israel, como feito com a África do Sul sob o apartheid.
“Isso é intolerável: civis e jornalistas devem ser protegidos em todas as circunstâncias. A mídia deve ser capaz de cumprir sua missão de forma livre e independente para cobrir a realidade do conflito”, disse o presidente francês Emmanuel Macron.
O primeiro bombardeio explodiu no quarto andar do hospital, descreveram as testemunhas. Quinze minutos depois, quando ambulâncias e equipes de resgate tentavam socorrer os feridos os genocidas israelenses deram seu tiro de misericórdia. Imagens transmitidas ao vivo pela rede Al-Ghad, do Cairo, mostraram a explosão e depois a nuvem de fumaça que encobriu a fachada sudeste do hospital.
Em outro vídeo, verificado pelo New York Times, cerca de uma dezena de corpos cobertos de poeira e sangue aparecem empilhados em uma escada entre o terceiro e o quarto andar. Entre os mortos, um socorrista, além de sete feridos da mesma equipe.
O cinegrafista da Reuters, Hussam Al-Masri, que transmitia ao vivo, foi assassinado na primeira explosão.
Os outros quatro jornalistas foram mortos na segunda etapa da chacina, quando acorreram a expor ao mundo o ataque ao hospital, o único que ainda está funcionando em Khan Younis: o cinegrafista da Al Jazeera, Mohammed Salama; Mariam Abu Dagga, fotojornalista freelancer do Independent Arabia e da Associated Press; o jornalista freelancer Ahmed Abu Aziz, que contribui para o Quds Feed; e o videojornalista freelancer Moaz Abu Taha.
O jornalista Jamal Baddah, da Palestine Today TV, o fotógrafo Hatem Khaled, contratado da Reuters, e Mohammed Fayeq, fotógrafo freelancer, ficaram feridos no ataque.
As primeiras reações mais indignadas à chacina partiram de organizações ligadas ao jornalistas – o que não é por acaso. Em duas semanas – entre o dia 10 e o dia 25 – o regime genocida assassinou 15 jornalistas. Seis no dia 10, entre os quais Anas Al Sharif, da Al Jazeera, Mohammed Qreiqeh, Ibrahim Zaher, Moamen Aliwa, Mohammed Noufal e Mohammad al-Khaldi, no ataque contra uma tenda de jornalistas junto ao Hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza. Um no dia 24, Khaled al-Madhoun, quando registrava tiros contra famintos em busca de ajuda em Khan Younis. E os cinco do Hospital Nasser no dia 25, mais um sexto jornalista, Hassan Douham, morto em outro episódio também nessa cidade.
“É preciso haver responsabilização e justiça”, indignou-se o porta-voz do escritório de direitos humanos da ONU, Thameen Al-Kheetan, condenando o massacre.
“Esses assassinatos devem acabar agora. Os perpetradores não podem continuar agindo impunemente”, clamou Sara Qudah, Diretora Regional do Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ), sediado em Nova Iorque.
“Este deve ser um divisor de águas. Apelamos aos líderes internacionais: façam tudo o que puderem para proteger nossos colegas. Não podemos fazer isso sozinhos”, conclamou a Associação de Imprensa Estrangeira (FPA) em Israel.
CRIME PLANEJADO TEVE A FORMA DE EMBOSCDA
O fato de o martírio dos jornalistas ter ocorrido em duas etapas chamou a atenção para o que é um crime muito repetido pelas forças de extermínio israelenses: atirar para matar para juntar gente no resgate, para um pouco depois matar a rodo civis e socorristas. O que também evidencia que não houve nenhum “erro”, mas uma emboscada planejada para deixar o maior número de mortos possível.
Já o genocida-chefe, o primeiro-ministro Netanyahu, achou conveniente vir a público alegar que o ataque duplo contra hospital, pacientes, médicos, socorristas e jornalistas se tratava de um “incidente trágico” e ainda escarneceu sobre as vítimas, dizendo que Israel “valoriza o trabalho de jornalistas, equipes médicas e todos os civis”.