
“Hoje nós temos o maior juro real do mundo, uma taxa de 10%, uma Selic de 15% e uma inflação de 5% , uma taxa de juro muito elevada”, alerta José Velloso
O presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), José Velloso, ao comemorar a linha de crédito de R$ 12 bilhões anunciada pelo governo Lula para inovação da indústria 4.0, destacou que “o Brasil sofre com uma taxa de investimento muito baixa em relação ao PIB”.
“O Brasil sofre na última década com uma taxa de investimento muito baixa. O Brasil teria que estar investindo 23% a 25% do PIB. Investimentos são máquinas, equipamentos, bens de capital, construção civil, e a taxa de investimento, média, no Brasil está em torno de 17% do PIB”, disse Velloso, em entrevista à CNN no dia 25/8, apontando que um dos motivos para o baixo investimento no Brasil é o custo de capital. “Hoje nós temos o maior juro real do mundo, uma taxa de 10%, uma Selic de 15% e uma inflação de 5% , uma taxa de juro muito elevada”.
Segundo ele, os 12 bilhões, via BNDES e Finep, com juros mais baixos para inovação tecnológica, vêm em “ótima hora para alavancar os investimentos”.
Na quarta-feira (27), a Abimaq divulgou os dados do setor. A receita de vendas da indústria de máquinas e equipamentos atingiu R$ 174,5 bilhões no acumulado do ano até julho, 13,9% acima do registrado no mesmo período de 2024.
“No ano (de janeiro a julho) o setor registrou expansão na receita, mas diminuiu a taxa de crescimento de 15,1% em junho de 2025 para 13,9% em julho de 2025. O desempenho de 2025 foi favorecido pela base de comparação fraca, mas também pela ampliação dos investimentos na agricultura e nas áreas da construção civil”, disse a entidade, em nota.
A indústria brasileira de máquinas e equipamentos registrou desempenho positivo em julho, com uma receita líquida de R$ 26,7, uma alta de 0,3% em relação a julho e de 7,3% na comparação com julho do ano passado. No mercado interno o setor movimentou R$ 19,7 bilhões em julho, alta de 14,5% sobre o mesmo mês de 2024. Apesar desses números, conforme Cristina Zanella, diretora de Economia e Estatística da Abimaq, em coletiva, “esse crescimento vem desacelerando ao longo dos últimos meses”.
Acrescente-se a essa política os efeitos das tarifas de 50% impostas pelo governo Trump sobre os produtos da indústria de máquinas e equipamentos, visto que do total de exportações brasileiras do setor, um terço segue para os EUA.
“A gente está vendo o agravamento da desaceleração por causa das tarifas extras de 40% sobre máquinas e equipamentos anunciadas pelo governo Trump. Vai ter impacto principalmente a partir do próximo mês em exportações. Elas devem tender a zero para aquele mercado. Houve perda grande de competitividade por causa da sobretaxa”, declarou Cristina Zanella.
As exportações de máquinas e equipamentos atingiram US$ 1.269,13 milhões, crescimento em relação ao mês anterior, mas queda de 4,8% em relação ao mesmo mês de 2024. No ano (Jan/Jul) a queda ficou em 4,4%, explicada pela piora nas vendas de 5 dos 7 grupos setoriais.
Parte importante do resultado das exportações observado em 2025 foi explicada pelo recuo nos preços de máquinas no mercado internacional (-2,7%).
Em 2025 (jan/jul) houve mudanças nos principais destinos das exportações brasileiras. As vendas para a América do Norte caíram11,6%, enquanto a Europa cresceu 10,7% e a América do Sul 15,9%. Na América do Sul o destaque foi a Argentina, com aumento de 52,4% nas exportações.
As importações de máquinas e equipamentos registraram nova expansão no mês de julho, tanto na comparação mensal (+11,3%) quanto interanual (+8,6%) totalizando US$ 2,904 Importações de máquinas e equipamentos o segundo maior volume da história.
No ano (Jan/Jul), as importações alcançaram o montante equivalente a US$ 18,61 bilhões, valor 11% superior ao registrado no mesmo período de 2024 e o maior valor da história para o período.
As importações crescentes de máquinas e equipamentos, em praticamente todas as atividades da economia brasileira, refletem a perda de competitividade do setor. Em 2025 a participação de bens importados no consumo nacional de máquinas e equipamentos atingiu 46%.
Há preocupação deste fenômeno se aprofundar com a desestruturação das cadeias de suprimento provocada pela guerra comercial estabelecida pelo governo estadunidense.