
Pietro Lorenzoni é filho do ex-ministro da Previdência Social do governo Bolsonaro
O advogado Pietro Lorenzoni, filho do ex-ministro da Previdência Social Onyx Lorenzoni (Progressistas), aparece ligado a um dos principais alvos da CPMI do INSS que apura a chamada farra dos descontos indevidos sobre aposentadorias. Segundo reportagem do portal “Metrópoles” Ele atuou para a União Brasileira de Aposentados da Previdência (Unibap), entidade que, sozinha, movimentou cifras milionárias com cobranças questionadas na Justiça.
A contratação ocorreu em abril de 2021, quando Onyx chefiava a Secretaria-Geral da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro (PL). Meses depois, em julho daquele ano, ele assumiria o Ministério da Previdência. Documentos entregues pelo INSS à comissão parlamentar apontam o nome de Pietro nos registros da associação.
O próprio advogado confirma a prestação de serviços: “prestava serviços em direito administrativo”. Segundo ele, “na prática, auxiliávamos a Unibap com redações de atas de assembleias deliberativas, ofícios e minutas em geral”. Pietro afirma ter sido convidado a atuar por uma ex-professora de faculdade e reforça que “nós analisávamos diligências, fazíamos propostas e encaminhávamos para o administrativo”. Alega ainda que “os serviços terminaram em junho de 2023”. Questionado sobre quem participava das reuniões cujas atas elaborava, disse não frequentar os encontros, apenas redigir “minutas de convocação, assembleias e ofícios”.
A atuação de Pietro ocorreu em meio a um dos maiores esquemas de exploração de aposentados do país. Cliente do advogado, a Unibap faturou R$ 180 milhões com descontos sobre benefícios previdenciários. A associação, sediada em Águas Claras (DF), acumula uma longa lista de condenações na Justiça em processos movidos por idosos que garantem nunca ter se filiado à entidade.
Somente em São Paulo, há condenações recentes em cidades como Serrana, Jaú e Sorocaba. Nessas ações, a Unibap chegou a juntar fichas de filiação supostamente assinadas pelos aposentados, mas que tiveram a autenticidade questionada pelos “filiados”. Como frequentemente se recusa a pagar os honorários de perícia para atestar a validade das assinaturas, a associação tem sido obrigada a indenizar os prejudicados.
Embora seja presidida formalmente por um aposentado, a Unibap é controlada, de fato, pelos empresários Gutemberg Tito e Zacarias Canuto Sobrinho. Ambos são donos de clubes de benefícios e de correspondentes de crédito consignado, e já ocuparam cargos de diretores estatutários na própria entidade. Essas empresas também enfrentam condenações por práticas semelhantes de descontos irregulares.
A Controladoria-Geral da União (CGU), em diligência na sede da associação, apontou que a Unibap comercializa clubes de benefícios, mas não apresentou qualquer documentação que comprovasse a filiação dos aposentados. Funcionários disseram que os registros ficavam guardados em um storage em São Paulo. Para agravar a situação, em entrevistas realizadas pela CGU, 100% dos aposentados ouvidos negaram ter assinado contrato com a entidade.
Em processo administrativo interno do INSS, a Unibap chegou a ser cobrada a comprovar o crescimento repentino no número de filiados. Num erro grosseiro, anexou fichas de adesão que não pertenciam a ela, mas sim à Abenprev. Em outro episódio, sua presidente formal enviou um ofício pedindo ao INSS autorização para filiar aposentados por telefone, prática proibida. Além disso, gravações de ligações de outras entidades usadas para comprovar filiações estão sob suspeita de terem sido editadas para simular respostas afirmativas dos idosos.
A Abenprev, posteriormente rebatizada como Ampaben, também está sob investigação e acumulou R$ 83 milhões em descontos considerados irregulares.
Enquanto isso, Pietro Lorenzoni ampliou seu campo de atuação em Brasília. Tornou-se advogado de uma associação ligada ao lobby das casas de apostas e chegou a ser contratado pelo PL por R$ 200 mil, conforme registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Seu pai, Onyx Lorenzoni, que foi chamado a depor na CPMI como ex-chefe da Previdência, também aparece relacionado a essas entidades. Ele recebeu R$ 60 mil do ex-presidente da Amar Brasil Clube de Benefícios (ABCB), outro grupo investigado pela Polícia Federal.