
“O único beneficiado desse cenário é o rentismo, em patamares nunca visto, que não cria riqueza, nem postos de trabalho”, denuncia o presidente da CNI, Ricardo Alban
Com a economia desacelerando e a inflação em queda, na véspera da reunião do Banco Central, na próxima quarta-feira (17), que define a taxa básica de juros (Selic), os bancos e instituições financeiras mantiveram a pressão pela manutenção da Selic em 15% ao ano. É a 12ª semana consecutiva com os juros na lua, conforme estimativas do cartel dos bancos, segundo o Boletim Focus do BC, divulgado nesta segunda-feira (14).
De acordo com o Valor Econômico, “a expectativa de manutenção dos juros básicos nesta semana é unânime entre as 118 casas consultadas pelo Valor entre os dias 9 e 12 de setembro“.

A projeção da inflação de 2025 foi reduzida de 4,85% para 4,83%. Com a Selic mantida em 15% e a inflação em queda, o juro real segue acima dos 10% ao ano, para derrubar os investimentos, a demanda por bens e serviços e a geração de novos empregos no país.
De acordo com o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, em artigo publicado na Folha de S.Paulo (29/08/2025), “o único beneficiado desse cenário é o rentismo, em patamares nunca visto, que não cria riqueza nem posto de trabalho para o país. Enquanto o sistema financeiro colhe lucros extraordinários, a economia real perde fôlego e o empreendedorismo desaparece. Uma Selic de 15% é um convite à especulação financeira e um desestímulo ao trabalho e à produção”.
“É urgente que o Copom inicie de forma consistente um ciclo de redução dos juros”, defende Alban.
PIB DESACELERA
Para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, o boletim do BC manteve em 2,16%, conforme a semana anterior, refletindo a perspectiva de que os efeitos negativos dos juros seguirão contaminando a economia do país, já em forte desaceleração.
No segundo trimestre deste ano, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB cresceu 0,4% frente a alta de 1,3% observada no primeiro trimestre. O PIB – a soma de todos os bens e serviços produzidos no país – cresceu 3,4% em 2024; e, em 2023, a alta foi de 3,2%.
O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do BC, divulgado também nesta segunda-feira pela autarquia, mostrou retração de 0,5% do PIB em julho na comparação com o mês anterior, sinalizando que a economia seguiu perdendo força no início do terceiro trimestre deste ano, com a Indústria (-1,1%%) e Serviços (-0,2%) em queda.
PRODUÇÃO INDUSTRIAL E VENDAS DO COMÉRCIO CAEM
Dados de indústria, comércio, serviços e emprego no mês de julho, divulgados pelo IBGE, confirmam essa desaceleração mais intensa da atividade econômica.
A produção industrial caiu -0,2% no mês em julho frente a junho deste ano, mês que não obteve crescimento (0%). A indústria de transformação, com a queda de 0,1% na produção no sétimo mês do ano, também está praticamente sem crescer há quatro meses (abril deste ano – queda de 1%; em maio, -0,5%; junho, +0,1%, e julho, -0,1%).
As vendas do comércio varejista – um bom termômetro para avaliar o consumo das famílias – recuaram 0,3% em julho na comparação com junho, registrando a quarta retração mensal consecutiva.
“Somente em duas oportunidades, as vendas no varejo caíram por quatro meses seguidos. A primeira foi em setembro de 2015, no ápice da maior recessão da história recente da economia brasileira, e a segunda em julho de 2021, no auge da crise do apagão. Essa sequência negativa só evidencia o estrago da maior taxa de juros em 20 anos sobre o consumo e a economia”, critica o economista da Confederação Nacional do Comércio, Fabio Bentes.
Caçado pelo Banco Central, o setor de Serviços ainda resiste, mas com taxas de crescimento baixas e que se aproximam de zero nos últimos quatro meses. Em julho, o volume de serviços prestados no país variou em alta de 0,3% frente a junho, quando fechou em 0,4%. Em maio, o setor havia registrado alta de 0,2% e, em abril, alta de 0,4%.
O baixo ritmo da atividade econômica também já impacta a criação de empregos de qualidade no país. Em julho de 2025, o Brasil criou 129.775 postos de trabalho com carteira assinada, o menor resultado para o mês desde a pandemia de Covid-19. O resultado também corresponde a uma queda de 32% ante aos 191,4 mil postos de empregos formais gerados em julho do ano passado.