
Ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, alvo do PCC, foi sepultado em SP após ser vítima de um atentado na Praia Grande
O corpo do ex-delegado-geral da Polícia Civil paulista Ruy Ferraz Fontes, executado por criminosos na Praia Grande, no litoral do estado, foi sepultado por volta das 17h30 desta terça-feira (16), no Cemitério da Paz, no Morumbi, Zona Sul da capital.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se recusou a comparecer ao sepultamento nem ao velório do delegado, que é considerado um dos mais centrais nas investigações sobre a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que o teria jurado de morte desde 2006.
A Prefeitura de Praia Grande entregou à Polícia Civil imagens do circuito de segurança municipal dos últimos 30 dias para apoiar as investigações. Os vídeos identificaram que os veículos usados no crime, um Toyota Hilux e um Jeep Renegade, ficaram rondando a prefeitura por pelo menos dois meses.
Ruy sofreu uma emboscada ao sair da prefeitura na noite desta segunda-feira (15) e foi morto por, pelo menos quatro criminosos. O corpo do secretário foi velado na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) nesta terça.
RECUSA
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PL), recusou o apoio oferecido pelo Ministério da Justiça para ajudar a esclarecer o assassinato de Ruy Ferraz Fontes e disse que as polícias estaduais estão mobilizadas para identificar e prender os assassinos envolvidos na execução.
A fala de Derrite foi dada na saída do velório do corpo de Ruy, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), após ser indagado sobre o telefonema feito pelo ministro Ricardo Lewandowski ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, também ofereceu apoio.
Segundo o governo estadual, dois suspeitos já foram identificados e será pedida a prisão temporária deles, informou o secretário nesta terça-feira (16). Ruy foi morto a tiros na segunda após perseguição em Praia Grande, no litoral paulista. Os criminosos fizeram mais de 50 disparos de fuzil.
Apesar da recusa na ajuda direta da PF nas investigações, o secretário da SSP paulista disse que o governo federal pode repassar informações que ajudem a prender os assassinos do ex-delegado geral, mas que esse trabalho será comandado pela Polícia Civil paulista.
“A Polícia Federal se colocou à disposição. Se eles tiverem alguma informação e quiserem colaborar, obviamente vai ser bem aceito. Nosso objetivo é prender os criminosos. Todos nós estamos desprovidos de eventual vaidade, porque nós somos policiais e polícia é um órgão de estado, não de governo. E eu confio 100% no trabalho da Polícia Civil do Estado de SP”, declarou.
Mais cedo, em Brasília, o ministro da Justiça do governo Lula (PT), Ricardo Lewandovsky disse que ligou para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para se colocar à disposição para auxiliar nas investigações.
“O crime organizado ataca a soberania. (…) Nós nos colocamos à disposição do estado, sobretudo no que diz respeito à Polícia Científica. Nós temos um banco de dados no que diz respeito a balística, DNA, informações, tudo isso nós colocamos à disposição, se necessário, do governo de São Paulo”, disse o ministro.
“É preciso que essas forças dialoguem entre si. O governo federal não tem nenhum interesse em ingerir nos Estados e municípios em termos de segurança pública (…). A criminalidade que tanto nos aflige não é só nacional. Ela precisa ser atacado de forma coordenada tanto internamente nos países como internacionalmente”, declarou.
A recusa do governo Tarcísio em receber ajuda foi alvo de críticas nas redes sociais. Internautas chegaram a lembrar da morte de Marielle Franco, no Rio de Janeiro, quando o governo do Estado recusou o apoio oferecido pelo então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, para investigar o caso.
Em suas redes sociais, a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) criticou a recusa do governo Tarcisio na ajuda para prender os criminosos.
“O assassinato do delegado Ruy Ferraz não é um crime qualquer: é um recado do crime organizado ao Estado brasileiro. Diante disso, é um erro recusar apoio da PF, que pode contribuir de várias formas e tem tido êxito em investigações recentes contra facções”, disse.
“Precisamos de integração total entre União e Estado, com todas as forças cooperando para garantir uma investigação rigorosa e uma resposta firme, sem margem para disputas políticas, rivalidades e vaidades pessoais”, continuou.
PROTEÇÃO NECESSÁRIA
O ex-governador de São Paulo, João Doria, responsável por indicar Ruy para o cargo de delegado-geral, lamentou o ocorrido durante o velório. “Foi uma morte trágica, brutal, de um grande policial, um servidor público exemplar”, afirmou durante a cerimônia.
Doria também comentou sobre a falta de segurança estatal para o policial aposentado. Dias antes do atentado, Ruy chegou a denunciar a falta de proteção.
“Os que ocuparam posições de liderança, portanto, contribuíram para a sociedade civil prendendo e indiciando criminosos, deveriam ter pelo Estado, por um longo tempo, a proteção, carro blindado e uma proteção minimamente garantida”, afirmou.
O prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão (MDB), afirmou que perdeu um amigo “fantástico” e descreveu o ex-delegado, que atuava como secretário de Administração do município, como uma pessoa serena. O político afirmou que Ruy tinha virado a página policial para atuar no administrativo em Praia Grande. “Ele nem falava do passado policial. Estava focado na administração. Vai fazer muita falta”, diz.
De acordo com Mourão, o ex-delegado-geral possuía carro blindado, que era mais usado para viajar para a capital. “Lá [em Praia Grande], ele usava o carro normal dele”, explicou.