
Embaixador brasileiro na Organização dos Estados Americanos (OEA), Benoni Belli, condenou a “hipocrisia” dos que se escoram na “liberdade de expressão”
O embaixador brasileiro na Organização dos Estados Americanos (OEA), Benoni Belli, denunciou a “hipocrisia” dos que se escoram na “liberdade de expressão” para atacar a democracia e “promover a volta do passado autoritário sob novas roupagens”.
As informações são do UOL.
Em reunião para celebrar o aniversário da Carta Democrática da OEA, o embaixador falou de casos de torturas contra crianças e mulheres durante a ditadura militar no Brasil com auxílio de países “que diziam defender a democracia contra o perigo comunista”.
O discurso, feito na presença da delegação dos Estados Unidos, responde à tentativa de interferência do país na democracia brasileira. O presidente Donald Trump tem usado tarifas e sanções contra o Brasil para tentar deixar Jair Bolsonaro impune, condenado por tentativa de golpe de Estado, sob o pretexto de “defender a liberdade de expressão”.
De acordo com Benoni Belli, a OEA precisa ser um espaço “livre de ingerências e ataques à soberania”.
O embaixador contou que “a ditadura não respeitou mulheres, idosos, crianças; e a tortura foi aprimorada com auxílio da cooperação macabra de instrutores externos, alguns dos quais provenientes de países que diziam defender a democracia contra o perigo comunista”, disse o representante brasileiro.
Ele citou o caso de Maria Amélia Teles, “que foi presa e torturada na frente de seus filhos pequenos, Edson Teles, na época com 5 anos, e sua irmã Janaína, com 4 anos”.
“E que esse caso sirva de antídoto contra a hipocrisia que se escuda na retórica da democracia e da liberdade de expressão para promover a volta do passado autoritário sob novas roupagens”.
A “volta do passado autoritário” teria “os mesmos nefandos resultados: a injustiça, a violência, a exclusão, a iniquidade, o fechamento do espaço cívico, o fim do debate plural de ideias, e a regressão do nosso processo civilizatório”.
Para o governo brasileiro, comemorar a Carta Democrática da OEA “significa trazer à tona a memória, inclusive a memória incômoda, aquela que nos interpela e questiona. Essa interpelação é a melhor forma de comemorar a Carta Democrática Interamericana, mantendo-nos atentos diante dos atuais riscos de retrocesso autoritário”.
O embaixador ressaltou que “o passado não está morto e talvez nem passado seja ainda”. “A democracia requer cuidado diário, pois em nenhum país está a salvo de forças que buscam solapá-la”.
“Desde a Constituição de 1988, contamos no Brasil com instituições democráticas fortes e um sistema que garante a separação e independência de poderes. O Poder Judiciário e o Ministério Público são completamente autônomos por força da Constituição”, continuou.
“Esse sistema de pesos e contrapesos constitui anteparo às novas e velhas ameaças à democracia”, disse.
REDES SOCIAIS E LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Ainda no evento da OEA, o representante brasileiro denunciou que “as forças antidemocráticas no Brasil e no mundo valem-se hoje das inovações tecnológicas, da inteligência artificial e de plataformas digitais para disseminar notícias falsas, ampliar a ressonância dos discursos de ódio, incitar a violência e a discriminação, e atacar as instituições democráticas”.
“Em nome da democracia e da liberdade de expressão, busca-se erodir as instituições democráticas e obter impunidade para crimes de toda ordem”, declarou.
Os bolsonaristas se uniram às plataformas digitais, como Meta e Twitter, na defesa da permanência de suas atividades abusivas no Brasil. Hoje, as redes não precisam cumprir regras de funcionamento e não podem ser responsabilizadas por veicular material criminoso. Por isso, são utilizadas por redes de pedófilos e nazistas.
Belli afirmou que liberdade de expressão “não se confunde com liberdade para praticar crimes mediante emprego de ferramentas digitais, inclusive com o intuito de organizar, planejar e executar a abolição violenta do Estado democrático de direito”.
“O Brasil está demonstrando que a democracia, mesmo sendo sempre frágil, pode resistir aos ataques do autoritarismo e do extremismo violento”.