
“Vemos os exemplos recentes do emprego da força no mar do Caribe e próximo à costa da América do Sul com extrema preocupação”, afirmou o auxiliar de Lula
O assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, afirmou nesta quarta-feira (17) que o momento atual eleva os desafios da diplomacia e da defesa em um cenário internacional marcado por crises. “O Brasil valoriza a América do Sul como zona de paz e por isso se opõe à presença de forças militares extrarregionais no nosso continente. Vemos os exemplos recentes do emprego da força no mar do Caribe e próximo à costa da América do Sul com extrema preocupação”, afirmou.
Em seu o discurso, o auxiliar de Lula reforçou a importância do Conselho de Defesa Sul-Americano, criado em 2008 no âmbito da Unasul e que teve um papel relevante na mediação de tensões entre Colômbia e Venezuela. Para ele, experiências como essa mostram a importância de fortalecer uma doutrina de defesa própria na região.
“Houve um período da história da América do Sul, na transição do século XIX para o século XX, em que bloqueios navais por potências externas eram recorrentes. Não por acaso, nesse mesmo período, vemos o fortalecimento do princípio da não intervenção nos países sul-americanos”, lembrou.
O embaixador recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, ocasião em que fez um discurso. O diplomata destacou ainda que, apesar de o Brasil apoiar o combate ao narcotráfico, esse esforço não deve ser confundido com a luta contra o terrorismo. “São ameaças com objetivos diversos que devem ser tratadas por meios distintos”, disse, numa crítica aos pretextos usados pelos EUA para militarizar a região.
Amorim também defendeu a retomada da Escola Sul-Americana de Defesa e a revisão de instrumentos herdados da Guerra Fria, como o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), que, segundo ele, já não responde aos desafios atuais. “Graças a essa escola, dirigida pelo professor [Antonio] Ramalho, o major brasileiro poderia encontrar o major peruano sem que tenha que ir a Washington”, destacou.
O embaixador chamou atenção para a gravidade do cenário internacional, marcado pela escalada de violência no Oriente Médio. Sobre o conflito em Gaza, destacou o risco de uma ampliação da guerra. “Em meus longos anos de diplomacia, nunca vi uma situação internacional tão grave. Temos duas guerras simultâneas, no Oriente Médio e na Europa, ambas com grande potencial de escalada”, alertou.
Amorim recordou que o Brasil, durante a presidência do Conselho de Segurança da ONU em outubro de 2023, apresentou proposta de resolução para uma pausa humanitária em Gaza e libertação de reféns, apoiada por 12 países, mas vetada por um membro permanente. Para ele, o episódio demonstra a paralisia das instituições multilaterais diante das crises atuais.
“O isolamento crescente de Israel tem sido obra do próprio governo. Continuamos a defender a solução de dois Estados, com uma Palestina independente e viável convivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança”, afirmou. “O isolamento crescente de Israel tem sido obra do próprio governo. Continuamos a defender a solução de dois Estados, com uma Palestina independente e viável convivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança”, afirmou.
O ex-chanceler também ressaltou o papel do Brasil e do BRICS na defesa de uma nova ordem internacional. Para ele, o multilateralismo segue sendo a única forma legítima de enfrentar os desafios globais. “A ordem internacional como conhecíamos acabou. É preciso reconstruí-la em novas bases. O multilateralismo é para o mundo o que a democracia é para os países”, disse.
Amorim defendeu maior cooperação em temas estratégicos, como proteção de recursos naturais e desenvolvimento tecnológico, além da ampliação da integração com a África. “O fortalecimento da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul requer engajamento constante do Estado brasileiro. Devemos continuar a sustentar o Atlântico Sul como uma zona livre de armas nucleares”, destacou.
Com informações de Sputnik Brasil