
Desde a Flotilha da Liberdade Summud (Perseverança inabalável), brasileiro João Aguiar denuncia “guerra psicológica do Exército terrorista de Israel” contra os integrantes de dezenas de embarcações de 44 países que navegam rumo a Gaza para levar ajuda humanitária
“Se há uma guerra psicológica sendo travada pelo Exército terrorista de Israel, que usa drones para sobrevoar e atacar as nossas embarcações de solidariedade rumo a Gaza, nossa convicção é ainda maior de que, com o apoio crescente da comunidade internacional, nossa missão será exitosa”.
A afirmação é de João Aguiar, que coordena os 15 integrantes brasileiros da Flotilha da Liberdade Summud (Perseverança Inabalável), composta por cerca de 50 embarcações de 44 países que navegam pelo mar Mediterrâneo para levar alimentos, medicamentos e equipamentos médicos ao território palestino ocupado. O objetivo é de que nos próximos oito dias consigam chegar ao destino, rompendo o criminoso bloqueio imposto desde 7 de outubro de 2023 pelo Estado sionista.
“OMISSÃO NÃO É OPÇÃO”
Em coletiva via internet desde o seu barco no Mediterrâneo, na manhã desta quinta-feira (17), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), João Aguiar ressaltou que “em um momento de genocídio reconhecido do povo palestino, a omissão não é uma opção”. “A convicção é de que nós vamos chegar com ajuda humanitária àquele povo que está sendo deslocado todo o tempo, enquanto milhares de caminhões com apoio continuam sendo barrados na fronteira”, acrescentou.
Questionado, o brasileiro referendou a denúncia de que nos últimos 700 dias o saldo é de devastação e horror, com o governo Netanyahu já tendo destruído mais de 90% dos prédios, assassinado mais de 65 mil pessoas em Gaza e ferido outras 160 mil, milhares delas se encontrando mutiladas e sem qualquer acesso a um atendimento básico.
Mas Israel não ataca apenas os 2,2 milhões de civis em terra, tenta minar o seu apoio em mar. Agora contrata milícias para atuarem em águas internacionais, colocando em risco a Flotilha. “Nossa embarcação conta com seis pessoas dos Estados Unidos, da Espanha, Malásia, Turquia e Noruega. Nos revezamos em duplas para nos prevenir dos ataques dos drones”, relatou o coordenador brasileiro, frisando que tem mantido relação direta com o assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim. “No dia do segundo ataque, avisei sobre a bomba incendiária e passamos a ter contato diário”, assinalou Aguiar.
De forma mentirosa e sem qualquer escrúpulo, explicou o coordenador brasileiro, os meios de comunicação hegemônicos têm servido aos Estados Unidos e sido porta-vozes de Israel contra o direito, a verdade e a justiça, “daí estamos muito agradecidos pelo tsunami da mídia alternativa, nosso obrigado por relatarem o que está realmente acontecendo”. Há muitas mentiras propagadas pela campanha desinformativa. Uma destas, esclareceu, “divulgaram que um cigarro aceso provocou uma explosão. O fato é que uma embarcação foi atacada por um drone e pegou fogo”. Não foi uma imprudência como relataram, mas um atentado, como as imagens deixam claro.
GENEROSA ACOLHIDA À FLOTILHA DA LIBERDADE
“Neste momento, estamos ancorados em um porto da Sicília aguardando a passagem do mau tempo, com ondas superiores a três metros e ventos de cerca de 1,85 nós (50 quilômetros)”, explicou o brasileiro, que também fez questão de mostrar sua felicidade frente à generosa acolhida recebida ao longo do caminho.
“Quando sabem que somos integrantes da delegação e precisamos comprar algo, uma válvula, um alimento, qualquer coisa, é realmente incrível porque não querem que a gente pague. Manifestam sua solidariedade na acolhida, como na Tunísia”. Neste país africano, lembrou, “nossa despedida foi repleta de gente, algo que jamais vou esquecer”.

O Núcleo Palestina de São Paulo do Partido dos Trabalhadores lançou uma nota em que afirma que “o cerco a Gaza se intensifica a cada dia e as ameaças à Flotilha são uma demonstração desesperada de Israel para manter um bloqueio que já causou um genocídio reconhecido pelos órgãos internacionais”. Portanto, “é inaceitável que o Estado de Israel continue agindo com impunidade, atacando missões de socorro e solidariedade”.
Representando o Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo, Nathaniel Braia destacou a relevância do contato com a delegação brasileira, parabenizando a iniciativa do Sindicato dos Jornalistas em apoiar “um gesto heroico na luta anticolonialista contra Israel e o imperialismo norte-americano”.
IDENTIDADE DE ISRAEL COM OS NAZISTAS
Braia recordou três pontos que desmascaram a essência do Estado sionista e sua identidade com os nazistas. “Primeiro, quando as tropas invadiram a França, Hitler disse: ‘Paris está em chamas’. Agora o ministro do Extermínio israelense se vangloria: ‘Gaza está em chamas’. Segundo, sua ministra da Igualdade Racial, May Golan, que diz se orgulhar de ser racista e também se congratula com ‘as ruínas de Gaza’ acaba de ter um laboratório de fabricação de drogas descoberto em sua casa. Terceiro, em vez de se reunir com o Catar, se dispondo ao diálogo, tratou de jogar bombas e assassinar a delegação que foi a Doha negociar o cessar-fogo”.
“Este é o nível de ensandecimento destes terroristas que comandam a ditaudura de Netanyahu e daí a necessidade que o conjunto dos sindicatos se levantem, como os portuários espanhóis e italianos, para barrar todas as remessas a Israel”, frisou o representante dos escritores, recordando a campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) que pôs fim ao regime do apartheid na África do Sul.
Para o secretário de Formação do Sindicato dos Jornalistas, Pedro Pomar, é preciso relembrar que “Israel já assassinou 250 jornalistas, sendo 31 mulheres, números recordes inaceitáveis que revela uma das facetas deste Estado em sua mais longa ocupação”. Além disso, descreveu Pomar, já foram mortos mais de 1.400 médicos e profissionais de saúde “pela fúria genocida israelense, crimes que não teriam ocorrido sem a cumplicidade do imperialismo norte-americano, da Alemanha e da Inglaterra”.
“É preciso agir pois a mídia hegemônica está manipulando o genocídio, o crime de guerra e a ocupação colonial que quer transformar Gaza numa Riviera. Este é um massacre terrível que coloca à prova o futuro da Humanidade”, concluiu Pomar.
Além da Hora do Povo estiveram presentes na coletiva jornalistas do SJSP, do portal Ópera Mundi e do Brasil de Fato.
* A palavra árabe Summud deriva do verbo árabe guardar. O conceito surgiu após a Guerra dos Seis Dias em 1967 e ganhou força entre os palestinos como forma de resistência perante a opressão. Adquiriu significados diversos tais como valores morais, simbólicos e espirituais.
LEONARDO WEXELL SEVERO