O empreiteiro Marcelo Odebrecht afirmou, na quarta-feira (7), que as reformas realizadas pela Odebrecht no sítio de Atibaia, no interior de São Paulo, foram a primeira ajuda do grupo à “pessoa física” de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo o ex-presidente da empreiteira, foi “a primeira vez em que estaria fazendo uma coisa pessoal para Lula”.
“Quando soube, a obra já estava em andamento, deve ter sido lá para o final de dezembro [2010]. Em algum momento eu soube, não sei se por Alexandrino [de Salles Ramos de Alencar, ex-executivo do grupo], pelo meu próprio pai [Emílio Odebrecht] ou por alguém que eu me encontrei. Em algum momento eu soube, no início eu, inclusive, fui contra por razões específicas, eu até reclamei. Primeiro eu achava que era uma exposição desnecessária, porque seria até então a primeira vez que a gente estaria fazendo uma coisa pessoal para o presidente Lula. Até então, por exemplo, tinha tido o caso do terreno do instituto, bem ou mal, era para o Instituto Lula, não era pra pessoa física dele”, disse.
Depoimento Marcelo Odebrecht 1
Marcelo Odebrecht, Alexandrino Alencar, além de Emílio Odebrecht prestaram depoimento à juíza federal substituta Gabriela Hardt, sucessora do juiz Sérgio Moro nos processos da Operação Lava Jato na primeira instância.
Os três foram ouvidos no processo em que Lula é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo reformas do sítio. As investigações apuram se o petista recebeu propina da OAS e Odebrecht, por meio da reforma e decoração do imóvel, em troca de favorecimento em contratos com a Petrobrás.
Segundo as investigações, as obras começaram quando Lula ainda era presidente. A propriedade não está no nome dele, está em nome de um laranja. O ex-presidente da República, Marcelo e Emílio Odebrecht, Alexandrino e mais nove investigados são réus na ação penal.
Marcelo Odebrecht foi o segundo a depor à juíza federal. Antes dele, Alexandrino Alencar disse que as obras no sítio foram feitas a pedido da ex-primeira-dama Marisa Letícia, que queria presentear Lula quando ele deixasse a presidência. Marisa morreu em fevereiro de 2017.
Além de citar o favor pessoal a Lula, Marcelo declarou que, devido ao número de pessoas trabalhando na obra, havia dificuldade em manter sigilo, pois o risco de vazamento “era enorme”. Ele revelou que a decisão de bancar as obras no sítio foi do pai dele e as despesas foram debitadas na planilha denominada “Italiano”, gerenciada pelo então ministro Antonio Palocci com contabilização de propinas destinadas ao PT.
“Eu até combinei com o Palocci. Vamos fazer aqui um débito na planilha Italiano de R$ 15 milhões, eu e você, que é para atender esses pedidos que nem eu e você ficamos sabendo que Lula e meu pai acertam”, afirmou.
A juíza questionou se Lula “tinha ciência da reforma que estava sendo custeada em parte pela Odebrecht”. Marcelo foi enfático: “Ah, tinha, com certeza. E, olha, ele sabia que tinha. Eu não escutei isso de Lula, mas meu pai sempre deixou isso claro para mim que ele sabia que estava sendo custeado e dentro de casa todo mundo sabia que aquele sítio era de Lula”.
Questionado, Marcelo respondeu ao advogado de Lula, Cristiano Zanin, que os e-mails encontrados em seu computador pessoal provam o que ele revelou na delação. “O que, por exemplo, complicou muito a vida do seu cliente [Lula] não foi nem meus relatos, foram os e-mails”, disse.
Último a prestar depoimento, Emílio Odebrecht falou que não podia negar a reforma do sítio por causa de sua relação de mais de 20 anos com Lula. “Como eu disse a Alexandrino: você me trazer isto, mesmo que eu quisesse negar, eu não tenho como negar por todos os ativos intangíveis de mais de 20 anos de convívio com o presidente”, disse.
Sobre os ativos intangíveis, o empresário explicou: “A questão da estatização da [área] petroquímica, que era sempre um desejo que a Petrobras tinha, eu precisava da posição dele. E fui muito claro com ele: eu preciso saber disso para decidir sobre o destino que eu dou à organização: sai, ou fica. Porque eu ter a Petrobras como minha concorrente e com esse processo contínuo de querer estatizar, eu não aceito”, disse.
E, realmente, não houve a entrada firme da Petrobrás nesse setor nas gestões de Lula e Dilma.
Em depoimento da sua delação premiada, Emílio Odebrecht relatou um encontro com Lula, no Palácio do Planalto, no final de 2010. Ele disse a Lula que as obras ficariam prontas no mês seguinte. Segundo Emílio, Lula não ficou surpreso com a informação. “Eu disse: ‘Olhe, chefe, o senhor vai ter uma surpresa e vamos garantir o prazo que nós tínhamos dado no problema lá do sítio’”
O patriarca da Odebrecht entregou anotações e e-mails comprovando a reunião.
WALTER FÉLIX
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