
“O que vemos é uma presença militar desproporcional na região, que nada tem a ver com [o alegado] combate ao narcotráfico”, afirma Rosa Villavicencio, chanceler colombiana
A ministra das Relações Exteriores da Colômbia, Rosa Villavicencio, denunciou a presença militar “excessiva” dos EUA em águas do Caribe, afirmando que “não tem nada a ver com o combate ao narcotráfico”, em entrevista à AFP em Bogotá, na sexta-feira (19).
A forte reação da chanceler Rosa Villavicencio ocorreu logo após o presidente Donald Trump ter publicado na sexta-feira, em sua rede Truth Social, um novo vídeo que exibe um ataque militar dos Estados Unidos contra uma suposta lancha venezuelana do tráfico de drogas em águas internacionais, e afirmado que três pessoas morreram.
Sem nenhum tipo de provas sobre o envolvimento dos atacados com o tráfico, Trump também não forneceu detalhes precisos sobre a área do ataque, e nem a Casa Branca nem o Pentágono responderam aos pedidos de comentários.
A ministra colombiana rejeitou categoricamente as alegações de Trump sobre os caças F-35, sete navios e um submarino com propulsão nuclear que, segundo ele, estão lá para combater o tráfico de drogas.
“É claro que a Venezuela está preocupada, assim como toda a região, com a possibilidade de intervenção. Nós defendemos a soberania da região (…) por isso essa presença militar excessiva é inapropriada”, afirmou a chanceler.
A Casa Branca afirma ter eliminado três embarcações que supostamente contrabandeavam drogas da Venezuela desde o início de setembro, em ataques que deixaram 14 mortos.
ATAQUES DOS EUA QUESTIONADOS PELA ONU
“O bombardeio das embarcações nos parece inapropriado do ponto de vista legal”, acrescentou, referindo-se aos ataques americanos, ação também questionada pelas Nações Unidas, apontando que supostos suspeitos poderiam ter sido capturados, não assassinados.
Até em Washington vários senadores, tanto democratas quanto republicanos, bem como grupos de direitos humanos, questionaram a legalidade de tais ataques, vendo-os como um potencial excesso de autoridade executiva, em parte porque os militares foram usados para fins de segurança pública.
Em caso de uma possível intervenção militar dos EUA, a ministra das Relações Exteriores afirmou que a Colômbia recorreria a organismos internacionais.
“O que vemos é uma presença militar desproporcional na região, que nada tem a ver com o combate ao narcotráfico”, disse ela em uma das salas do Palácio de San Carlos, em Bogotá.
A entrevista à AFP ocorreu em um momento de tensões diplomáticas agravadas pela decisão dos Estados Unidos de remover a Colômbia de sua lista de países aliados na luta contra as drogas. Washington não suspenderá a ajuda econômica e militar para combater o narcotráfico por enquanto. Com um financiamento anual estimado em US$ 380 milhões, o corte teria sido um duro golpe para Bogotá.