
Jornalistas terão de submeter, a partir de agora, suas reportagens à censura sob pena de terem suas credenciais cassadas
Está instaurada, no Pentágono, a censura prévia, com os jornalistas que cobrem o Departamento de Guerra dos EUA sendo obrigados a assinar um documento se comprometendo a submeter as reportagens antes da publicação. Caso contrário, terão suas credenciais de acesso ao prédio cassadas.
A medida vem se somar às recentes pressões, por Trump, para cancelamento de jornalistas que criticam seu governo, inclusive ameaçando cassar as licenças de transmissão de emissoras, como visto na suspensão, pela ABC, do apresentador de talk show noturno, Jimmy Kimmel, e no anúncio, pela CBS, do fim do programa de Stephen Colbert,um dos campeões da audiência.
A censura prévia foi criticada por organizações de jornalistas como um ataque à liberdade de imprensa. “O Pentágono agora está exigindo que os jornalistas assinem um compromisso de não obter ou relatar qualquer informação – mesmo que não classificada – a menos que tenha sido expressamente autorizada pelo governo”, disse Mike Balsamo, o presidente do Clube Nacional de Imprensa (NPC), em um comunicado.
Se as notícias precisam ser aprovadas pelo governo, o público não pode mais receber reportagens independentes, ele acrescentou. “[O público] está recebendo apenas o que as autoridades querem que ele veja. Isso deveria alarmar a todos os americanos.”
A censura prévia, observou o editor do Pentágono na Aviation Week, Brian Everstine, é ainda mais preocupante “no momento em que Trump está sendo acusado de graves abusos de poder, incluindo uma série de ataques a supostos traficantes de drogas ilegais no Mar do Caribe, que especialistas em direito internacional condenaram como ‘execuções extrajudiciais’”, o que torna as novas restrições “particularmente perigosas”.
Certa parcela dos jornalistas que cobrem o Pentágono – e décadas de crimes de guerra quase diuturnos mundo afora, das colinas de Montezuma, às praias de Trípoli, passando pela Coreia, Vietnã, Iraque e Afeganistão – já deve ter um padrão um tanto elástico em sua atividade, mas Trump quer obediência automática.
“Esta política opera como uma restrição prévia à publicação, o que é considerado a mais séria das violações da Primeira Emenda”, denunciou a Fundação Liberdade para Imprensa. “O governo não pode proibir jornalistas de divulgar informações públicas simplesmente alegando que são secretas”, disse a organização.
Essa política de censura sistemática foi relatada pelo jornal The New York Times, que expôs o memorando de 17 páginas detalhando as novas regras, e observou que a “medida poderia restringir drasticamente o fluxo de informações sobre os militares dos EUA para o público”.
Em comentários ao Washington Post, Katie Fallow, vice-diretora de litígios do Knight First Amendment Institute da Universidade de Columbia, chamou a nova política de parte do “ataque mais amplo do governo Trump à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa”.
Qualquer jornalista, acrescentou, “que publica apenas o que o governo ‘autoriza’ está fazendo algo diferente de reportar”.
Para o chefe do Departamento de Guerra, Pete Hegseth, o tatuado com estranhos símbolos medievais aparentados a suásticas, quem comanda o Pentágono é o “povo” – provavelmente se referindo aos magnatas do cartel bélico e das Big Techs -, “não a imprensa”. “Use um crachá e siga as regras — ou vá para casa”, ele postou uma rede social.
Em maio, Hegseth, que antes da função no governo Trump foi apresentador da Fox News, já havia restringido a circulação de jornalistas pelos corredores do Pentágono, submetendo a entrada em áreas antes permitidas à autorização prévia e escolta.