
A Sabesp ampliou nesta segunda-feira (22) o tempo de redução da pressão da água de oito para dez horas na Grande São Paulo. A partir de agora, a medida, que já é considerada um racionamento de água, será aplicada das 19h às 5h.
O impacto já pode ser sentido nas periferias da capital, onde a população depende do abastecimento especialmente durante a noite e que, muitas vezes, não conta com caixas d’água para armazenamento.
Segundo a empresa de saneamento privatizada, a ampliação do período de “redução da pressão” por mais duas horas (até então, desde o dia 27 de agosto, a pressão da água era reduzida diariamente das 21h às 5h na região metropolitana), segue uma recomendação da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp) diante do baixo nível dos reservatórios, em especial o Sistema Cantareira, que já está abaixo de 29%, o menor nível nos últimos 10 anos.
Com isso, muitas casas podem ficar sem água durante a noite, especialmente nos bairros mais altos e afastados do centro, como já aconteceu em 2021, durante a crise hídrica
O engenheiro Amauri Pollachi, coordenador do Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas), considerou que a decisão impõe sacrifícios desiguais, penalizando principalmente as populações mais vulneráveis, que já enfrentam dificuldades no acesso regular à água.
“Eu diria que essa medida é um Robin Hood às avessas (personagem clássico da literatura inglesa que tirava dos ricos para dar aos pobres), em que você privilegia as áreas mais abastadas em detrimento de um atendimento regular para a população mais pobre da região metropolitana de São Paulo”, disse, em entrevista ao Brasil de Fato.
Ele ressalta que a diminuição da pressão da água impacta de forma mais intensa os moradores das áreas periféricas. Segundo ele, aqueles que dispõem de grandes caixas d’água — geralmente a parcela mais abastada da população — praticamente não sentem os efeitos dessa medida, ao contrário das pessoas que vivem na periferia, que muitas vezes ficam sem acesso à água justamente quando mais precisam.
O especialista destaca que a situação se torna ainda mais crítica em regiões mais elevadas, onde muitas casas dependem da pressão da rede de rua para receber água. “As pessoas que moram em locais mais altos e que estão nas periferias hoje já sofrem com um certo desabastecimento. Já existe isso”, afirma. “O que vai acontecer com a aplicação dessa medida? Vai agravar a situação do desabastecimento”, alerta.