
A última volta do parafuso
“A revolução ensina, indubitavelmente, com uma rapidez e uma profundidade que parecem incríveis nos períodos pacíficos de desenvolvimento político. E, o que é particularmente importante, ensina não só
aos dirigentes, mas também às massas” ( Lenin, prólogo de Duas Táticas da Social-Democracia na Revolução Democrática)
Também no Brasil, foi a arrogância e a truculência de Trump, o czar americano, que acendeu a fogueira da consciência. As grandiosas manifestações em todo o país deram resposta à chantagem e às ameaças à democracia e à soberania brasileiras. Por experiência própria, o povo identificou, num piscar de olhos, o inimigo principal e a extrema importância da unidade nacional.
A luta de classes “nação versus imperialismo” entra em nova fase: a indignação e a revolta abriram espaço para a compreensão mais profunda da natureza perversa da transferência de quase um trilhão de reais, por ano, do Tesouro Nacional para o sistema financeiro internacional, a título de pagamento de juros da dívida pública. Não há lógica para um país de dimensões continentais, com a maior floresta tropical do mundo, com 8.500 km de litoral, com riquezas minerais ilimitadas, tenha milhões vivendo na miséria.
O estado colonial brasileiro é que promove, a serviço do imperialismo, a rapinagem de nossos recursos, Está voltado para formar superávit primário, com déficit zero, livre fluxo de capitais etc. O custo do sacrifício nacional para o pagamento dos juros equivale à falta crônica de investimento público, ao arrocho nas aposentadorias, ao salário mínimo de fome, à precarização dos direitos trabalhistas e ao trabalho informal da metade dos trabalhadores. A consequência é o retrocesso. É a reprimarização da economia, mutilada em seu mercado interno.
O centro do programa nacional de desenvolvimento é o rompimento com a dependência ao capital estrangeiro. É a soberania nacional. O centro da luta pela soberania é a luta pela reindustrialização do país, sustentado pela aliança Estado, empresários e trabalhadores. Em vez do pagamento de juros, o investimento público, o financiamento à indústria e salário mínimo decente. Por fim, a reestatização da Eletrobrás e da Vale.
O neoliberalismo foi à falência. O Estado voltou a ser protagonista do desenvolvimento. Quem cresceu foram as economias asiáticas – China, Vietnã, Rússia, Índia etc. – que não se submeteram ao imperialismo norte-americano.
A partir de agora, esta será a questão da ordem do dia, será a grande discussão, nas eleições de 2026.
CARLOS PEREIRA
Excelente artigo, Carlos Pereira! Com toda a devida proporcionalidade, não posso deixar de concordar com a análise. A pressão sobre nossa soberania é inegável e o custo social do modelo atual é absurdo. A indignação do povo é justificada, mas a solução não pode ser apenas um rompimento brusco, sem um plano de reindustrialização bem estruturado. O Estado precisa reverter o neoliberalismo, mas com gestão eficiente, sem deixar de lado a responsabilização e a transparência. As eleições de 2026 serão cruciais para definir o caminho. O Brasil tem potencial inabalável, mas precisa de um novo projeto que valorize o homem e o seu trabalho, e não apenas o lucro dos poucos.