
“Não abandonaremos nossa pátria, não deixaremos nossa terra. Nosso povo permanecerá enraizado como a oliveira, firme como a rocha, erguendo-se sob os escombros para reconstruir de novo”
O presidente palestino Mahmoud Abbas dirigiu-se, por teleconferência, nesta quinta-feira (25) à 80ª Assembleia Geral da ONU, esta indiscutivelmente marcada pela questão moral mais premente dos nossos tempos – o fim ao genocídio perpetrado em Gaza por Israel com suporte dos EUA – para reiterar sua concordância com os termos da conferência pela solução dos Dois Estados, recém-realizada, denunciar o genocídio e a ocupação, chamar ao cessar-fogo e entrada imediata da ajuda humanitária bloqueada, agradecer ao reconhecimento do Estado Palestino por tantos países – já são 80% dos estados-membros – e assinalar que “não haverá paz sem justiça, e não haverá justiça sem a libertação da Palestina”.
Ele enfatizou ainda que “Gaza é parte integrante do Estado da Palestina e que estamos prontos para assumir total responsabilidade pela governança e segurança lá”.
Abbas falou por videoconferência por decisão da ONU, após o governo Trump, o principal cúmplice dos crimes de Israel, com armas e vetos, ter negado os vistos à delegação palestina, como obrigam as normas que regem a sede da ONU em Nova Iorque, impedindo a presença do presidente palestino tanto na Assembleia Geral, quanto na conferência dos Dois Estados, encabeçada pela França e Arábia Saudita em paralelo.
“Falo com vocês hoje depois de quase dois anos em que nosso povo palestino na Faixa de Gaza enfrenta uma guerra genocida de extermínio, destruição, fome e deslocamento travada pelas forças de ocupação israelenses”, disse o veterano Abbas, de 89 anos. “Esta guerra matou e feriu mais de 220.000 palestinos, a maioria deles crianças, mulheres e civis idosos, deslocou centenas de milhares, impediu a entrega de alimentos e remédios e matou de fome dois milhões de palestinos.”
“Um cerco sufocante foi imposto a todo um povo, destruindo mais de 80% das casas, escolas, hospitais, igrejas, mesquitas e infraestrutura. O que Israel está realizando não é apenas agressão – é um crime de guerra e um crime contra a humanidade, documentado e monitorado, e será registrado nos livros de história e na consciência da humanidade como um dos capítulos mais horríveis da tragédia humana nos séculos 20 e 21.”
“Na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, capital do Estado da Palestina, o governo extremista israelense continua implementando políticas coloniais por meio de projetos ilegais de expansão e anexação de assentamentos, sendo o mais recente o plano de construção em E1, que divide a Cisjordânia, isola Jerusalém ocupada de seus arredores e destrói a solução de dois Estados, em flagrante violação do direito internacional e das resoluções relevantes do Conselho de Segurança da ONU. o principal deles é a Resolução 2334.”
“Isso se soma ao anúncio do primeiro-ministro israelense de seu chamado plano ‘Grande Israel’, que rejeitamos e condenamos categoricamente, pois inclui a expansão para Estados árabes soberanos. Condenamos igualmente o recente ataque brutal contra o Estado irmão do Qatar, que consideramos uma escalada perigosa e uma violação flagrante do direito internacional que exige uma intervenção decisiva e medidas dissuasivas contra tais esquemas expansionistas.”
Abbas acrescentou que, com o incentivo oficial e a crescente impunidade, “o terrorismo dos colonos está aumentando: os colonos queimam casas e campos, arrancam árvores, atacam aldeias, atacam civis palestinos desarmados e até os matam em plena luz do dia sob a proteção do exército israelense”.
“Lugares sagrados – muçulmanos e cristãos – em Jerusalém, Hebron e no resto da Cisjordânia e na Faixa de Gaza não foram poupados de ataques e violações, visando mesquitas, igrejas e cemitérios em uma transgressão flagrante do status quo legal e histórico e em clara violação do direito internacional.”
Abbas reiterou que “nossas feridas são profundas, nossa catástrofe imensa. Sete milhões de palestinos ainda sofrem o trauma da Nakba e do deslocamento desde 1948. Nosso povo na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, e em Gaza continua a sofrer décadas de ocupação e agressão: assassinatos, prisões, expansão de assentamentos, roubo de terras e recursos, sem dissuasão ou responsabilização.”
“Durante décadas, nosso povo suportou opressão e expropriação, enquanto o ocupante é protegido e empoderado, em vez de o ocupado ser protegido.”
“Seu direito à autodeterminação, liberdade, dignidade, independência e soberania sobre a terra do Estado da Palestina ocupada desde 1967, incluindo Jerusalém Oriental, continua a ser negado”, disse Abbas, lembrando as “mais de mil resoluções da ONU” não implementadas e a continuação da ocupação.”
“Em 1993, assinamos um acordo de paz. Cumprimos todas as nossas obrigações: reconhecemos o Estado de Israel, Israel reconheceu a OLP como o único representante legítimo do povo palestino, reestruturamos nossas instituições, emendamos nossa Carta Nacional, renunciamos à violência e ao terrorismo, adotamos a cultura da paz e trabalhamos incansavelmente para construir instituições estatais palestinas modernas para viver lado a lado em paz e segurança com Israel”, lembrou o presidente palestino, acrescentando que no entanto, “Israel não honrou seus compromissos e deliberadamente minou os acordos assinados.”
PELA ADESÃO PLENA DA PALESTINA À ONU
Em nome do povo palestino, Abbas estendeu o mais profundo apreço e gratidão “a todos os Estados que recentemente reconheceram o Estado da Palestina e àqueles que se preparam para fazê-lo em breve”. Ele também saudou a vontade global emanada da Conferência de Nova Iorque de “pôr fim a este conflito histórico através do reconhecimento do Estado da Palestina, do fim da ocupação e da restauração da esperança tanto aos palestinos como aos israelenses”.
“Apelamos a todos os Estados que ainda não reconheceram a Palestina para que o façam e exigimos apoio para a adesão plena da Palestina à ONU.” Deve-se lembrar, acrescentou o líder palestino, que já reconhecemos o direito de Israel de existir em 1988 e novamente em 1993, e continuamos a fazê-lo.
Abbas também agradeceu à liderança crucial dos co-presidentes da conferência, Arábia Saudita e França, bem como o Reino Unido, e a todos os Estados que integram a Aliança Global para a Implementação da Solução de Dois Estados. “Nossos agradecimentos também vão para todos os estados que apoiam nossos esforços para impedir o genocídio, acabar com a ocupação e alcançar a paz.”
“Valorizamos profundamente os povos e organizações em todo o mundo que se manifestaram em solidariedade com os direitos do povo palestino à liberdade e independência e ao fim da guerra, destruição e fome.”
Abbas e o governo palestino expressaram também, com base em “nossos valores e princípios”, sua rejeição categórica a “a qualquer fusão entre solidariedade com a Palestina e antissemitismo”,
ROTEIRO DE NOVA IORQUE
À luz dos resultados da conferência internacional de paz, o presidente palestino reafirmou à Assembleia Geral o seguinte roteiro:
A cessação imediata e permanente da guerra em Gaza. A entrega incondicional de ajuda humanitária por meio de agências da ONU, incluindo a UNRWA, e o fim do uso da fome como arma.
A libertação de todos os reféns e prisioneiros de ambos os lados.
A retirada total das forças de ocupação israelenses de Gaza, a rejeição dos esquemas de deslocamento, a cessação da atividade de assentamento e do terrorismo de colonos, a interrupção do roubo de terras e propriedades palestinas sob pretextos de anexação e o fim das violações do status histórico e legal dos locais sagrados – todas ações unilaterais que minam a solução de dois Estados em Gaza, na Cisjordânia, e Jerusalém.
O Estado da Palestina, assumindo todas as responsabilidades, começando com o Comitê Administrativo para Gaza, presidido por um ministro do governo palestino, para administrar o setor temporariamente e ligá-lo à Cisjordânia, com apoio árabe e internacional para proteger civis em Gaza e apoio às forças de segurança palestinas sob os auspícios da ONU – não como um substituto.
Garantir que os residentes de Gaza permaneçam em suas terras sem deslocamento e implementar um plano de recuperação e reconstrução em Gaza e na Cisjordânia.
A liberação das receitas fiscais palestinas retidas ilegalmente por Israel, o levantamento de barreiras e o fim do cerco econômico imposto às cidades, vilas e campos de refugiados palestinos.
Apoio aos nossos esforços nacionais de reforma e realização de eleições presidenciais e parlamentares dentro de um ano após o fim da guerra.
Formação de um comitê temporário de redação constitucional para concluir seu trabalho dentro de três meses, permitindo a transição da Autoridade para a condição de Estado, comprometido com o direito internacional, o Estado de Direito, o pluralismo, a transferência pacífica de poder e o empoderamento de mulheres e jovens.
Currículos educacionais de acordo com os padrões da UNESCO dentro de dois anos e um sistema unificado de bem-estar social.
Nesse roteiro, Abbas incluiu o desarmamento do Hamas e manifestou a disposição de trabalhar “com o presidente Donald Trump, com a Arábia Saudita, a França, as Nações Unidas e todos os parceiros para implementar o plano de paz adotado na conferência de 22 de setembro, abrindo caminho para uma paz justa e uma cooperação regional abrangente.”
Anteriormente, o Hamas havia manifestado a constituição de um governo de união, sem sua participação direta, para a reconstrução de Gaza, mas recusa o desarmamento sem acordo de paz.
A HORA E A VEZ DO ESTADO DA PALESTINA
“Queremos viver em liberdade, segurança e paz como todos os outros povos da terra – em um estado independente e soberano nas fronteiras de 1967 com Jerusalém Oriental como sua capital, vivendo em paz com nossos vizinhos. Queremos um Estado moderno e civil, livre de violência, armas e extremismo, que respeite a lei e os direitos humanos, investindo nas pessoas, no desenvolvimento, na tecnologia e na educação, não em guerras e conflitos.”
“Chegou o momento de a comunidade internacional conceder justiça ao povo palestino, para que possa alcançar os seus direitos legítimos e libertar-se da ocupação. Nosso povo não deve mais permanecer refém dos caprichos da política israelense que continuam a negar nossos direitos básicos e perpetuar a opressão, a injustiça e a agressão.”
“Por fim, dizemos aos nossos filhos e filhas na pátria e no exílio: por mais profundas que sejam as nossas feridas, por mais longos que sejam os nossos sofrimentos, eles não quebrarão a nossa vontade de viver e suportar. O amanhecer da liberdade surgirá e a bandeira da Palestina será hasteada em nossos céus, simbolizando dignidade, resiliência e libertação da ocupação.”
“A Palestina é nossa, e Jerusalém é a joia de nossos corações e nossa capital eterna. Não abandonaremos nossa pátria, não deixaremos nossa terra. Nosso povo permanecerá enraizado como a oliveira, firme como a rocha, erguendo-se sob os escombros para reconstruir de novo, enviando de sua terra abençoada mensagens de esperança, a voz da verdade e pontes de paz justa para os povos de nossa região e do mundo em geral.”
E concluindo: “Que a paz, a misericórdia e as bênçãos de Deus estejam sobre vocês.”