Em palestra proferida na Faculdade de Direito da USP, o professor Carlos Tebecherani destacou que as invasões dos Estados Unidos, na Síria, Iraque, Líbia e Afeganistão são baseadas em mentiras e obedecem aos interesses das corporações do petróleo e gás.
“Nas cercanias das principais fontes de gás do Oriente Médio, a exemplo da Arábia Saudita e Catar, estão instaladas bases norte-americanas. A 5ª Frota está com sua base principal instalada, à entrada do Golfo Árabe, no Bahrein; uma frota que é uma ocupação militar marítima. Cada uma dessas frotas chega a comportar 30.000 soldados, com porta-aviões, caças, helicópteros e fragatas, lotadas de mísseis Tomahawk, com os quais os Estados Unidos começou a atirar na Guerra do Iraque”, destacou o engenheiro Carlos Tebecherani em palestra proferida na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no dia 8.
Entre as figuras apresentadas aos alunos presentes, o professor Carlos, na palestra denominada Geopolítica e Direito Internacional no Oriente Médio, mostrou os diagramas dos gasodutos projetados para cruzar o Afeganistão, “o motivo da invasão ao Afeganistão foi a ocupação de território para a passagem de gasodutos que pudessem dar a primazia da distribuição da matriz energética que é o gás, vindo do Oriente Médio, em lugar do oferecido pela Rússia, para chegar à Europa. A história de atacar o Afeganistão por causa do Bin Laden, propalada por uma mídia domesticada, repetidora de mentiras, não faz sentido. O propalado ‘motivo’ para a invasão do Iraque, as tais ‘armas de destruição em massa em poder de Saddam Hussein’, se demonstrou outra falácia. Entraram no Iraque, ocuparam o país e não conseguiram apresentar uma arma com essa natureza. Ao contrário, os Estados Unidos é que têm usado armamento proibido pelas Convenções de Genebra, a exemplo da arma química conhecida como bombas de fósforo branco, sobre populações civis sírias”.
A respeito da invasão da Síria, o professor Carlos, mostrou a foto com o projeto do gasoduto que deveria atravessar o país “a ideia das corporações do setor do petróleo e gás era que na área do gasoduto, 800 km de extensão e 20 km de largura, uma área, portanto de 16 mil Km², a Síria abdicasse de sua soberania, sendo que se trata de território sírio”.
“Como o governo sírio não aceitou a demanda”, esclareceu, “o presidente, Bashar Al Assad, passou à condição de um ditador sanguinário, de acordo com a imprensa dos Estados Unidos”.
“A Rússia e a China, depois do ocorrido na Líbia e no Iraque, resolveram barrar o avanço do cerco pelos Estados Unidos na região e, em primeiro lugar, contestaram a intervenção através do Conselho de Segurança da ONU. Em um segundo momento, com a Síria invadida por mercenários em número de mais de cem mil, fortemente armados, inclusive com milhares de caminhonetes com armas de grosso calibre acopladas e guiadas por satélite, com farto financiamento pelos Estados Unidos, a Rússia resolver dar apoio militar e logístico para ajudar o exército sírio a reverter e derrotar a invasão”, prosseguiu Tebecherani.
“Então”, destacou, “apesar do poderio militar, em diversos aspectos, o mundo unipolar, idealizado para ser dominado por aquilo que Hillary Clinton chamou de ‘excepcionalismo norte-americano’, não está acontecendo. Caminhamos para um mundo multipolar. Países como a Rússia, o Irã, a China e a Índia, começam a abandonar a hegemonia do dólar e realizar transações bancárias e comerciais utilizando moedas nacionais”.
Quanto à Síria, Carlos Tebecherani ressaltou que “a guerra está finda. Os remanescentes da invasão terrorista, financiada pelos Estados Unidos, estão localizados em uma faixa de terra ao norte, na província de Idlib, fronteira com a Turquia e os Estados Unidos insistem em manter ilegalmente algumas bases em território soberano sírio. A vida na Síria está retomada e cidades totalmente liberadas da invasão, a exemplo de Alepo, vivem o processo de reconstrução”.
“Há uma verba disponível para a reconstrução do país e, infelizmente, a participação do Brasil neste processo é muito pequena”.
O professor acrescentou que os projetos de dominação da região pelos Estados Unidos foram precedidos pelos europeus, em particular os ingleses e franceses, que através do acordo secreto Sykes-Picot, planejaram dividir a região entre eles assim que vencessem o Império Otomano na Primeira Guerra Munidal, o que de fato ocorreu, contrariando promessas, cujo porta-voz foi T.E. Lawrence, o famoso Lawrence das Arábias, de que se os árabes ajudassem a derrotar o Império Otomano, eles teriam a autodeterminação garantida o que, de fato, não aconteceu, “o que acabou decepcionando profundamente o militar inglês”.
Foi neste contexto de interesse de dominação da região, que o governo inglês, através de missiva de Lord Balfour, secretário de Assuntos Estrangeiros, ao banqueiro Barão Rotschild, para que este a entregasse à Federação Judaica, demonstrou “simpatia pelo estabelecimento de um Lar Nacional para o Povo Judeu na Palestina”.
“Mas o problema é que ela já estava povoada, por palestinos, muçulmanos em sua maioria, assim como cristãos e judeus (estes em franca minoria). Como estabelecer um ‘Lar Nacional Judeu’ sem desconsiderar o seu povoamento original?”, questionou.
“Em uma declaração infeliz, da qual parece ter voltado atrás, o presidente eleito Jair Bolsonaro, considerou mudar a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jesusalém. O presidente eleito disse também que a Palestina não é um Estado. Ora, se até mesmo Israel, para surgir, foi através de uma resolução da ONU pela partilha da Palestina, como é que esta não existe? Na verdade, a existência da Palestina precede a do atual Estado de Israel. Além do que, Jerusalém, que o governo de Israel pretende anexar, tem recomendação expressa em diversas resoluções – que Israel não obedece – no sentido de preservar seu status internacional até que se processem negociações de paz. Daí o motivo dos Estados Unidos ter sido amplamente repudiado quando, através de Trump, transferiu para Jerusalém a embaixada americana, passando por cima das resoluções da ONU. Seria um erro se o Brasil, com a maior comunidade árabe do mundo, fora do Oriente Médio, o seguisse. Logo o Brasil que é muito amado pelo conjunto dos povos árabes”, observou o professor.
O professor concluiu a palestra afirmando que “a origem dos conflitos que persistem no Oriente Médio tem por base projetos de geopolítica hegemonista que contrariam frontalmente princípios basilares de direito internacional estabelecidos na Carta das Nações Unidas firmada após a Segunda Guerra Mundial”.
NATHANIEL BRAIA