
Operação da PF liga apoiado por Bolsonaro a esquema para barrar tombamento da Serra do Curral
Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) gravaram vídeos de apoio à candidatura de Gilberto Horta de Carvalho, apontado pela Polícia Federal (PF) como “articulador interinstitucional da organização criminosa” investigada por fraudes em autorizações de mineração em Minas Gerais.
Carvalho disputou, em novembro de 2023, a presidência do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-MG).
Em um vídeo publicado por Nikolas ao lado de Gilberto, o deputado federal diz que por “muito tempo” a esquerda tomou conta do sistema Crea-Confea e que a eleição de Gilberto Carvalho seria uma forma de “desaparelhar” essas instituições. “Para a gente limpar o sistema dos engenheiros da esquerda, vote Gilberto Carvalho”, concluiu o próprio candidato após a fala do parlamentar.
Em suas redes sociais, Gilberto traz fotos com diversos políticos de destaque no cenário mineiro e nacional, inclusive com o ex-presidente Bolsonaro. “Deus sabe de todas as coisas que se passam na mente e no coração de todos nós. Esse registro (foto com Bolsonaro) significa a esperança em um futuro mais digno e próspero”, destacou o investigado pela Polícia Federal.
Bolsonaro também participou da campanha pedindo votos para Carvalho: “Ninguém no mundo todo tem o potencial que nós temos em recursos minerais. Vote em conservadores e pessoas de direita que vão revolucionar de verdade esse setor tão importante para todos nós”, afirmou o ex-presidente.
Carvalho foi voluntário na campanha de Bruno Engler (PL-MG) à prefeitura de Belo Horizonte. Em suas redes sociais, exibia fotos com políticos bolsonaristas e até manifestações de apoio a Donald Trump. A foto de perfil no Instagram mostra uma imagem ao lado de Bolsonaro.
Além de Nikolas e Bolsonaro, Carvalho conseguiu apoio de Eduardo Bolsonaro, senadores Magno Malta e Cleitinho, do deputado federal Marco Feliciano e de Braga Netto, condenado no STF por participação no golpe de Estado.
“A esquerda é muito bem organizada, há muito tempo ela ocupa espaços, e nós da direita estamos começando agora a ocupar também os nossos espaços”, reforçou o “Bananinha”.
ESQUEMA
A Polícia Federal acusou Carvalho de ter “papel estratégico na manipulação de decisões administrativas e legislativas” em favor da organização criminosa. Um dos episódios investigados envolve a obstrução do projeto de lei que buscava tombar a Serra do Curral, área ameaçada pela mineração.
Mensagens interceptadas mostram que João Alberto Lages, ex-deputado estadual e apontado como líder do grupo, pediu a Carvalho para articular a suspensão do projeto. Ele respondeu informando que o texto foi “baixado em diligência”, o que levou à comemoração de Lages.
Segundo a PF, Carvalho chegou a marcar um encontro para “tomar um café” com Lages, gesto interpretado como possível recebimento de vantagens indevidas.
Bruno Engler negou participação em qualquer manobra para atrasar o projeto e afirmou que Carvalho atuava apenas como voluntário em sua campanha.
A investigação também revelou que uma denúncia apresentada por Nikolas Ferreira contra a deputada Duda Salabert (PDT-MG) em 2023 teve como base informações produzidas pelo grupo criminoso investigado.
Em conversas obtidas pela PF, Carvalho prometeu entregar documentos contra Salabert a “pessoas capacitadas”: “Pode ficar tranquilo que eu não vou falar para ninguém, óbvio, que é você. E vou entregar essas informações para as pessoas capacitadas, que você sabe muito bem quem é, tá bom?”.
A deputada foi acusada por Nikolas de irregularidades eleitorais, o que ela negou. Para a PF, Salabert era vista pelo grupo como inimiga por sua defesa ambiental e oposição à mineração predatória na Serra do Curral.