Falta de atendimento básico e de medicamentos para tratamento causaram a situação de epidemia
O Ministério da Saúde informou na última terça-feira (31), que o número de casos de sífilis em adultos aumentou 27,9% em 2016, em comparação com o ano anterior. Em gestantes o crescimento foi de 14,7%, enquanto a sífilis congênita (passada de mãe para filho durante a gravidez) cresceu 4,7%.
A diretora do Departamento de Vigilância Prevenção e Controle das DSTs, Adele Benzaken, afirmou que Brasil continua em situação de epidemia.
A contaminação por sífilis é mais expressiva entre adultos, com 87.593 mil casos registrados no ano passado. Para 2017, a projeção do Ministério de Saúde é de 94.460 registros. A detecção de sífilis em gestantes, a cada 1000 nascidos vivos, teve um aumento expressivo nos últimos 11 anos, saltando de 0,5 em 2005, para 11,2 em 2016.
Agora, depois de três anos de falta de penicilina no país, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse que o tratamento da doença está garantido em todo o país e que, apesar de o país ainda viver uma epidemia, a situação está controlada. “Os números não são os que gostaríamos, mas estamos com todas as condições de reduzir os índices”, destacou. Segundo o ministro a ação será intensificada em 100 municípios do país que concentram 60% dos casos de sífilis.
Desde 2014, a penicilina está em falta no Brasil, e o governo federal, quem faz a compra deste tipo de medicamento, não se mobilizou para resolver o problema, até o momento outros remédios estavam sendo usados para tratar a doença.
Mas para o secretário executivo do ministério, Antônio Carlos Nardi, “subir números não significa piora do diagnóstico, mas a melhora da expertise. Fora isso, há toda a questão do investimento na transmissão vertical, da gestante com o parceiro. Da garantia do sexo seguro, do acompanhamento e tratamento [dos dois]”.
Em julho do ano passado, por exemplo, a Secretaria Saúde do Estado de São Paulo publicou no “Diário Oficial”, uma nota técnica recomendando substituição da penicilina por ceftriaxona, para o tratamento de recém nascidos com sífilis congênita, mesmo afirmando que o remédio não era eficaz.
A nota dizia: “Ressaltamos que não há evidências da eficácia do uso da ceftriaxona no tratamento da sífilis congênita e esta medicação só está sendo indicada porque na falta da penicilina g cristalina e penicilina g procaína não há outra opção terapêutica”.
A situação de São Paulo é um retrato do que aconteceu no resto com país com três anos de escassez e falta do medicamento. Portanto, não é nenhuma surpresa que a situação chegasse à calamidade pública que está.
Aliás, o Ministério da Saúde já havia recomendado que o SUS usasse a penicilina disponível apenas para a sífilis congênita, e para outras doenças substituísse por outros antibióticos, mesmo com efeitos colaterais mais fortes nos pacientes.
A saúde está abandonada no país, sobretudo após os grandes cortes no orçamento do Ministério da Saúde, realizados a partir de 2014. Somente ano passado foram cortados 10 bilhões da pasta. Além da diminuição da compra do medicamento, foram reduzidas as campanhas de prevenção e combate.
Barros disse que investiu R$ 13,5 milhões na compra de 2,5 milhões de frascos de penicilina benzatina e 450 mil do tipo cristalina – de uso infantil e vai destinar R$ 200 milhões aos municípios para reforçar as ações de combate a controle da doença. Segundo o ministro, o montante será provenientes de emendas parlamentares.
A sífilis causa morte de cerca de 30% dos bebês infectados e quando não há tratamento durante a gravidez, além de vários problemas de desenvolvimento nas crianças que contraíram doença, pode gerar a microcefalia, surdez, cegueira, pneumonia, feridas no corpo, dentes deformados e problemas ósseos.